• Princípio do fim
Eu tenho total consciência de que a conclusão de Lost é conhecida como um dos piores finais de séries feitos até hoje. Não posso opinar sobre isso ainda, porque tô vendo tudo pela primeira vez na vida. O que posso opinar é a respeito do que já assisti. Até agora, Lost vem envelhecendo como vinho. A cada temporada, a história fica melhor. A terceira é superior à segunda, a segunda é melhor do que a primeira. Como estamos aqui pra falar da quarta temporada, não é loucura dizer que ela é ainda melhor do que a terceira e vem mostrando a cada episódio por que a série se tornou tão popular na década de 2000.
Sinopse
Oceanic Six, ou os Seis da Oceanic. O que significa isso? Eu já explico. Após o infame acidente de avião, apenas seis pessoas sobreviveram e retornaram à civilização. Na temporada passada, descobrimos que Jack e Kate fazem parte desse grupo. Mas quem são os outros quatro? Eles realmente foram os únicos sobreviventes? Como eles conseguiram escapar da ilha? Por que estão mentindo a respeito de seus conhecimentos sobre o misterioso lugar? O que aconteceu nesse período e como isso afetou as pessoas envolvidas?
Crítica
Objetividade. Essa é uma palavra primordial pro argumento principal do meu texto. Eu já cansei de falar aqui no blog que não gosto muito de temporadas de mais de 20 episódios. Contudo, o problema não é (só) a quantidade, mas sim o que se faz com essa dimensão. Nas duas primeiras temporadas, faltou objetividade em Lost. Na terceira, que teve o mesmo tamanho, isso melhorou e muito. Na quarta, pouca coisa ficou sobrando. Por esse simples motivo, acredito que alcançamos aqui o ápice da série.
Pra exemplificar melhor essa questão, vamos falar dos flashbacks. Mesmo se você é fã de Lost, precisa reconhecer que certas voltas ao passado não acrescentam muito à trama, e pouco desenvolvem os personagens que estão sendo representados. Falando no português bem claro, vários desses flashbacks soavam mais como enrolação do que qualquer outra coisa. Na quarta temporada, temos a inserção de flashforwards. Caso não saiba o que é isso, é exatamente o contrário de um flashback; em vez de abordar o passado, ele dá um vislumbre do futuro.
Isso por si só já traz uma dinâmica diferente à série. Saber como tal personagem chegou em um determinado local me interessou mais do que saber sobre alguns aspectos da vida pregressa daquele mesmo personagem. É como se Lost estivesse dando uma de Big Brother Brasil e nos deixando dar uma espiadinha. Ver o Jack de barba e emocionalmente abalado, sendo que ao deixar a ilha ele parecia feliz e aliviado, é um dos exemplos de enredos intrigantes dos flashforwards, pois nos atiça a nossa imaginação acerca do que aconteceu naquele ínterim.
Mas a quarta temporada de Lost não é só isso, claro. Literal e metaforicamente, a série entra aqui em uma nova etapa, mais perto do fim do que do começo. Todas as cartas estão na mesa. Não é mais necessário explicar quem é quem, quais as ameaças e conflitos, os segredos e maquinações, os heróis, vilões e aqueles que estão ali no meio. Ainda há mistérios a serem desvendados, mas o período de introduções já foi findado, dando até um tom maior de urgência e mudança à narrativa.
Novos personagens são introduzidos, mas sem deixar aquela sensação de inchaço no elenco, algo comum nas duas primeiras temporadas. Todos os personagens parecem ter um propósito bem claro, e a série balanceia bem as importâncias de cada um. Falarei mais sobre isso no fim do texto.
E por falar em fim, a quarta temporada dá uma impressão muito grande de encerramento. Pela primeira vez, me veio o sentimento de que Lost poderia ter acabado aqui, se tivesse amarrado algumas esparsas pontas soltas. Todos os caminhos convergiram para um mesmo local. Daria até pra ter deixado algumas coisas sem explicação e apostado em uma conclusão mais evasiva e melancólica. Ainda tem duas temporadas pela frente. Portanto, se o final realmente for tão ruim quanto todos dizem, a frustração vai aumentar porque havia aqui espaço pra um digno desfecho.
Veredito
A quarta temporada de Lost tem uma história mais objetiva, uma narrativa mais urgente, personagens mais equilibrados e uma ambientação mais criativa. É a continuação perfeita da temporada anterior, consolidando de vez a evolução em relação aos dois primeiros anos da série. De certa forma, a terceira temporada é ligeiramente superior pelo fator salto de qualidade, mas a quarta confirma essa melhora e traz à tona temas de ficção científica que não haviam sido discutidos até então, enriquecendo ainda mais a mitologia da série – e isso quer dizer muito.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eba, eu acertei quem estava dentro do caixão o tempo todo! Meu raciocínio foi o seguinte: como se tratava de um homem, obviamente já estavam fora da jogada pessoas como Sun e Claire. Como ninguém foi ao funeral, imaginei que não se tratava de uma pessoa exatamente amada por muitos. Até pensei no Sawyer, mas acho que pelo menos a Cassidy teria ido na cerimônia, caso tivesse acontecido uma ruptura muito grande dele com a Kate, por exemplo. O Sayid era uma opção, mas ele nunca se indispôs com ninguém, e aquele funeral parecia ser de um homem controverso. Portanto, só sobrava o John Locke. Sim, pode me chamar de Sherlock Leleco Holmes.
- Sobre o Quarteto Fantástico de Charles Widmore, gostei do Daniel Faraday e do Frank Lapidus, não consegui ter uma opinião formada sobre a Charlotte e achei o Miles um porre, mas foram boas adições à trama. E achei interessante que o Frank, que parecia o menos “relevante” dos quatro, foi o único que conseguiu sair da ilha no final das contas.
- Ainda nesse assunto dos soldados de Widmore, pirei na decisão do Martin Keamy de simplesmente matar a Alex, filha do Ben. Deu pra ver na hora que o Ben não contava com aquilo, e não consegui fiquei com raiva dele por ter matado o vilão Keamy, mesmo que isso tenha culminado na morte das pessoas no navio. E vacilo demais a morte da Danielle Rousseau :/
(o Karl meio que foda-se, né) - Já que eu falei nisso, fiquei tristão pela morte do Jin. Porém, achei meio paia que ele sequer pensou em pular do navio. Tipo assim, ele sabia que a bomba explodiria literalmente a qualquer momento. Não havia nem contagem regressiva. Por que ele não tentou sair de lá o mais rápido possível, já que claramente o helicóptero não voltaria a descer?
- Incrível como trouxeram de volta o Michael só pra ele morrer poucos episódios depois, deixando o Walt sozinho no continente. Bom, pelo menos o Walt deve levar uma vida feliz dali pra frente. Eu acho.
- Então quer dizer que os Oceanic Six são Jack, Kate, Hurley, Sayid, Sun e Aaron. Eu me senti bastante idiota quando fiquei conjecturando quem seria a sexta pessoa durante a maior parte da temporada, ignorando totalmente o fato de que Aaron, mesmo sendo um bebê, continuava sendo uma pessoa. O pior é que meu irmão pensou a mesma coisa, enquanto assistíamos juntos.
- O que será que aconteceu com a Claire? Será que aquela escapulida dela no meio da noite foi só uma desculpa esfarrapada do roteiro porque a atriz não estaria mais disponível?
- Pelo menos uma coisa boa aconteceu nesta temporada, né? Tô me referindo ao casal Desmond & Penny. Não é que o destino reuniu os dois novamente, mesmo o pai dela sendo um crápula com o intuito de ferrar com a vida de dezenas de pessoas pra conseguir o que queria?
- Uma das perguntas mais intrigantes que seguem no ar é: quem diabos é o Richard? E por que o cara simplesmente não envelhece?
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Benjamin Linus
Se na terceira temporada ele teve uma briga acirrada com Juliet pelo posto de Melhor Personagem, na quarta não houve disputa. Não que a Juliet tenha piorado, mas o Ben roubou completamente os holofotes com uma personalidade cínica, perspicaz e – por que não? – engraçada. Não tem como não ficar na expectativa quando ele aparece em tela. Grande interpretação de Michael Emerson, inclusive, volto a ressaltar.
+ Melhor episódio: S04E05 (“The Constant”)
Olha, se formos levar em consideração o critério de “ápice”, naturalmente o último episódio sai em vantagem por ser a culminação de toda a temporada, com impacto em diferentes níveis. Entretanto, vou escolher o episódio cinco por trazer uma nova perspectiva referente à parte de ficção científica em Lost.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?