• A queda de Murdock
Desde pequenos, todos nós aprendemos a lidar com decepções. A vida nos ensina isso em ocasiões como, por exemplo, quando nossas mães chegavam em casa depois de ir ao mercado e não traziam nenhum presentinho pra gente. Aos poucos, tomamos rasteiras que acabam nos deixando mais fortes, mas isso não impede que alguns baques ainda sejam grandes. O anúncio do cancelamento de Demolidor foi uma tragédia para aproximadamente 100% dos fãs, porque era possivelmente a melhor produção da Netflix, tendo um fim antecipado que não era esperado por ninguém. Acabar com Luke Cage e Punho de Ferro dá até pra entender se levarmos em conta a audiência, mas com Demolidor o impacto foi intenso.
Matt Murdock e seus amigos passaram por muita coisa. Enfrentaram a ameaça de Wilson Fisk, tanto nas ruas quanto nos tribunais, lidaram com a figura de Frank Castle, o Justiceiro, amargaram os problemas da reaparição de Elektra, a antiga amante do nosso querido advogado cego, e ainda por cima travaram um embate com o Tentáculo, uma organização milenar com intenções sombrias. Se você não chegou a assistir Os Defensores, não sei o que tá fazendo aqui, porque pra dar a sinopse da terceira temporada de Demolidor vou ter que soltar um spoiler inevitável da série que juntou todos os heróis da Netflix/Marvel. No último episódio, um fuckin’ prédio caiu em cima de Matt e Elektra, e o Demolidor foi dado como morto. Na cena pós-créditos, no entanto, temos a revelação de que ele ainda tava vivo e sob os cuidados de umas freiras. E é aí que a história do último ato do Diabo de Hell’s Kitchen começa.
Murdock está vivo, mas bastante ferido. Os acontecimentos recentes fizeram com que sua fé em Deus fosse abalada, ele que sempre se sustentou na religião católica, um dos traços mais marcantes de sua personalidade. Isolado em sua própria mente, o Demolidor não quer mais saber de moralismo, só quer detonar criminosos de modo definitivo. Sua ânsia fica ainda maior quando Wilson Fisk, seu maior inimigo até o momento, faz um acordo com o FBI para ser tirado da cadeia e transferido para uma prisão domiciliar. Aquilo faz ferver o sangue do Diabo, o qual toma como seu maior mandamento acabar com a vida do Rei do Crime.
Logo no início da temporada, fica claro a mudança psicológica de Matt, antes um cara gente fina, agora uma máquina de violência com poucos escrúpulos. Os primeiros episódios, porém, são meio chatinhos. A trama demora a desenrolar e o enredo não parece tão interessante, com exceção dos questionamentos éticos e morais do protagonista. A partir do quarto capítulo, o bagulho muda. A famosa “cena do corredor” ocorre e tudo vira de cabeça pra baixo, como se surgissem letras garrafais na tela: AGORA SIM O DEMOLIDOR VOLTOU, CARALHO. Então, tudo fica 300x mais interessante, com novos personagens sendo apresentados e todos os arcos sendo cativantes. A melhor adição é a de Benjamin Poindexter, um agente do FBI com um passado traumático e uma cabeça não muito estável. Contudo, sua habilidade compensa tudo: o cara tem uma precisão maior do que a de nossas mães quando tacam um chinelo na gente. Em sua primeira aparição, já fica claro que ele será importante, mas suas nuances vão sendo exploradas lentamente e ele acaba se tornando um dos pontos mais positivos da temporada.
Demolidor pode se gabar de ser uma obra que não teve oscilações gritantes. Toda série tem momentos melhores que os outros, mas em DD todas as três temporadas têm praticamente o mesmo nível. Todas elas poderiam ter ganhado 5 Lelecos, o problema é que tiveram defeitos que acabaram influenciando na nota. Na primeira, foi a escuridão excessiva e o roteiro que parecia empacado até mais ou menos a metade. Na segunda, foi a parte da Elektra, bem inferior ao arco do Justiceiro. Na terceira, foi o pontapé inicial, fazendo um contraste óbvio com sua predecessora. É complicado afirmar qual delas foi a melhor, mas não é difícil perceber que o nível de qualidade se manteve no topo.
A terceira temporada de Demolidor fecha com chave de ouro a saga de Matt Murdock. Graças a Deus eles não colocaram grandes cliffhangers, ou seja, se a série tivesse continuação, daria certo, mas se fosse encerrada ali (o que acabou acontecendo), haveria uma sensação real de completude. Quando sobem os créditos, ficamos um pouco tristes por saber que essa produção com atores tão talentosos, cenas de luta tão memoráveis, personagens tão espetaculares e um enredo tão diferenciado chegou ao seu desfecho. Por outro lado, nos vem um sorriso de orgulho por ter acompanhado algo tão bem feito. Claro que para sonhadores como eu, ainda há a chance da Disney resolver resgatar a obra em seu novo sistema de streaming, mas se isso não acontecer, fica a sensação de dever cumprido. Demolidor foi finalizado em seu auge.
{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}
{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}
{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Droga, que pena que eu já tinha lido em algum lugar que nessa temporada conheceríamos a mãe do Matt. Quando a Irmã Maggie foi aparecendo cada vez mais, ficou óbvio que era ela. Ainda assim foi legal conhecer a história por trás dessa revelação.
- Porra, fiquei tristão pela morte do Padre Lanton. Puta personagem massa :/
- Jurei que no final o Fisk realmente seria morto pelo Matt. Seria simbólico se seu único assassinato fosse justamente o de seu nêmesis, mas achei melhor ele não ter ultrapassado essa linha.
- Muito foda a backstory da Karen, uma personagem que cresceu demais ao longo do tempo. E fiquei aliviado por eles não terem focado o episódio inteiro nisso, porque fica cansativo quando uma obra interrompe a história principal pra investir em flashbacks.
- A construção do Poindexter até o ponto que ele se tornou o Mercenário foi uma das melhores que eu já vi, de verdade. Primeiro, nos simpatizamos por ele, depois acabamos sentindo pena, sobretudo com todo o negócio da Julie. Pouco tempo depois, isso começa a se transformar em raiva, mas com a compreensão do porquê de seus atos. No final, a gente só tá querendo que ele se ferre por ter feito tanta merda, principalmente depois daquela sequência na igreja (e que sequência, aliás).
- Foggy é muito reizinho e subestimado. O cara arriscou a própria vida ao se opor ao criminoso mais influente da cidade de Nova York, isso sem nenhum tipo de superpoder ou força nos bastidores. Valorizem o senhor Nelson!
- Será que o Melvin conseguiu ficar com a Betsy? Fica o questionamento.
- Aff, senti muita falta da Claire, teria sido perfeito ela estar na última temporada da série que a lançou no universo da Marvel na Netflix. Uma pena.
- Impressionante o quanto a Vanessa é perigosa. Queria que tivesse tido mais tempo de tela pra que ficasse mais exposto esse lado cínico e calculista dela. E nunca vou perdoá-la por mandar matar o Nadeem, um dos melhores personagens da temporada, grrr
- Ah, e já que mencionei o Nadeem, achei muito boa a interação dele com o trio parada dura, principalmente quando o Matt revelou que era o Demolidor. Foi um arco incrível o que o agente nos apresentou, desde essa parte até as cenas com seus dramas familiares.
- E aquela “cena do corredor” de 11 minutos do Matt na prisão, hein? Pqp, fiquei de boca aberta.
- Quando eles finalmente chamaram o Fisk de Kingpin e quando o Matt falou de ser um homem sem medo <3
- Pirei na evolução da Marci. Não gostava dela no começo, mas combinou perfeitamente com o Foggy.
- Brett Mahoney rei, Blake Tower nem sei.
- Um dos únicos aspectos bons da série ter terminado é imaginar que depois daquilo o Matt, o Foggy e a Karen ficaram com aquela amizade pra sempre, em um escritório importante de advocacia. Sonhar…
- Ah, só uma observação sobre o título do pitaco: a temporada não é inteiramente baseada na HQ “A Queda de Murdock”, mas achei que o nome combinaria com tudo que foi representado.
- Se Demolidor for resgatado, quero até ver o Poindexter virando o Mercenário, com uma coluna de adamantium, embora na série o material tenha ganhado outro nome que eu não lembro agora, tudo por causa dos direitos autorais.
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
+ Melhor personagem: Wilson Fisk
Melhor vilão da Marvel no serviço de streaming e entre os cinco mais impressionantes de todo o MCU. Nessa temporada ele brilhou de vez.
+ Melhor episódio: S03E13 (“A New Napkin”)
Tipo, tem tantos capítulos épicos que não dá pra escolher só um. O sexto, o décimo e o décimo segundo são obras de arte, mas como Demolidor foi encerrado de vez, optei por simbolicamente eleger a series finale.
+ Maior surpresa: Benjamin Poindexter (menção honrosa a Ray Nadeem)
Começou bem, foi desenvolvido como quem não quer nada e terminou como um dos melhores, ficando atrás somente do Fisk. Nadeem, um outro agente do FBI, também surge como um ótimo personagem.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?