Marvel, Séries

Jessica Jones: 2ª Temporada (2018)

• Comportamento humano

Jessica Jones é uma sobrevivente. Não porque ela passou por muitas coisas complicadas em sua vida, mas sim porque protagoniza uma das duas únicas séries da Marvel que ainda não foram canceladas pela Netflix. A decisão é inevitável, é verdade, só não foi tomada ainda porque as filmagens da terceira temporada já tinham começado antes da debandada – a mesma coisa com a segunda de O Justiceiro. Por isso, fui assistir sabendo que esta é a penúltima aventura da heroína interpretada por Krysten Ritter.
Na primeira temporada, a trama girou em torno de Jessica, uma jovem com poderes de super-força e uma espécie de pulos altos, como se fosse uma manha do GTA San Andreas. Seu nêmesis, Kilgrave, um malvado britânico com a habilidade de controlar a mente das pessoas, era o grande vilão. O enredo de Jessica Jones não é o melhor da Marvel, mas David Tennant entregou um vilão tão épico e Ritter uma personagem tão interessante que o produto final foi bastante atraente. Agora, sem a presença do antagonista principal, será que o bagulho piorou? É sobre isso que vou falar a seguir.

 

Sinopse

Beber intensas quantidades de uísque pode ser considerado um superpoder? Se a resposta for sim, Jessica Jones deve adicionar a citada habilidade ao seu currículo de dádivas. Depois de tudo o que aconteceu, ela continua com sua característica marcante de mergulhar em garrafas de álcool como alguém que não quer passar a vida na sobriedade. Não é de se espantar, porque ela presenciou um acidente que culminou na morte de seus pais e de seu irmão, foi controlada e abusada de todos os jeitos por um maníaco e ainda precisou lutar contra uma instituição milenar com planos de destruir Nova York e o mundo. Se ela não bebesse, seria surpreendente.
Na segunda temporada, ela continua trabalhando como detetive particular na Alias, sua empresa com grandes proporções, quase uma Nelson & Murdock da espionagem. Alguns elementos mudam o tom do cenário ao redor de Jessica, porém. Malcolm (Eka Darville) agora não é mais um viciado decadente, mas sim alguém em recuperação, trabalhando ao lado de sua vizinha. Trish Walker (Rachael Taylor) tá obcecada pelos segredos dos superpoderes cada vez mais frequentes e tomou como meta de vida ir atrás dos responsáveis pra que experimentos do tipo não voltem a acontecer.
A história começa de fato quando pessoas relacionadas ao IGH, o local que fez experimentos na Jessica, começam a morrer misteriosamente. A garota só queria distância de toda a confusão, mas as circunstâncias fazem com que seja obrigatória sua participação. Com o tempo, ela descobre que o buraco é muito mais embaixo e que os experimentos humanos executados no passado têm mais segredos obscuros do que ela pensava. A figura enigmática de uma mulher, interpretada por Janet McTeer, deixa tudo ainda mais quente.

“Você verá que é mesmo assim, que a história não tem fim…”

Crítica

Em alguns aspectos, a segunda temporada é melhor que sua antecessora. Em outros, ela é inferior. Em primeiro lugar, a ausência de Kilgrave é um ponto crítico. Aqui, não temos mais um vilão sólido, a gente acaba sentindo falta de um antagonismo que nos anime. Em compensação, a personalidade de Jessica Jones foi muito mais explorada e a atuação de Krysten Ritter cresceu muito. As adições de Oscar Arocho (J.R. Ramirez) e seu filho Vido funcionam, assim como Pryce Cheng (Terry Chen). Alguns núcleos secundários são bons, outros nem tanto. Todo o arco de Jeri Hogarth é sem sentido e exageradamente longo, quando ele acabou eu fiquei pensando no porquê de terem dedicado tanto tempo de tela a algo que nem foi relevante pra trama principal.
A nova personagem, vivida por Janet McTeer e que não vou falar o nome por ser um puta spoiler, não me conquistou de início, mas com o tempo foi me ganhando. No fim, voltou a cair um pouco, mas acabou sendo interessante. Por outro lado, a Trish tá simplesmente um porre. Sabe aquele tipo de personagem que só de entrar em cena você vira os olhos e tem vontade de passar pra frente? Foi isso que aconteceu com a “Patsy”. Contudo, o maior defeito da temporada foi a forçação de barra com as causas sociais. Em Luke Cage, por exemplo, eles conseguem desenvolver toda a questão do racismo de maneira poderosa e natural. Em Jessica Jones, a ideia era fazer o mesmo, mas com o machismo tóxico e suas problemáticas. Era uma boa aposta, o problema é que os diálogos foram muito mal escritos. Cada vez que eles abordavam o assunto, parecia que eu tava vendo uma adolescente do Twitter digitando. Um triste desperdício.

Tá achando que assistente de super-heroína não precisa estudar?

Veredito

A primeira segue sendo melhor. Embora as duas temporadas dividam o estilo lento e sustentado por uma paleta de cores roxa, a série segue sem muita identidade, diferentemente de Demolidor e Luke Cage. Algumas coisas foram melhoradas, como o desenvolvimento de Jessica, mas os contras infelizmente ficaram mais em evidência do que os prós. Jessica Jones permanece como uma boa obra e legal de assistir, com momentos de destaque aqui e ali. Entretanto, continua sendo a quarta força da Marvel/Netflix, à frente somente de Os Defensores e Punho de Ferro – a primeira temporada, pelo menos, pois ainda não vi a segunda.

Le Penseur, 1904

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

{Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/wiki-do-leleco/}

{Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota desta temporada, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/09/16/gabarito-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Cara, eu tenho uma preguiça colossal de quando “ressuscitam” alguém só pelo bem do plot twist. Se a mãe da Jessica tivesse desaparecido e depois dado as caras, seria uma coisa, mas ela ter morrido e na verdade ter estado viva o tempo todo foi uma verdadeira falta de criatividade e originalidade. Pelo menos a interpretação da atriz da Alisa compensou esse começo com o pé esquerdo, achei legal eles terem feito ela tão parecida com a filha.
  • Ainda que eu queira ver a Jessica e o Luke juntos pelo bem da história original, foi massa vê-la com o Oscar, todos dividindo uma família. Quero até ver se vai ser mantido na terceira temporada.
  • Queria deixar aqui meu respeito pela Rebecca de Mornay, que faz a Dorothy Walker, mãe da Trish. Uma das melhores personagens da série, me faz ter aquela gostosa sensação de “amar odiar”. Com a Trish eu só não gosto mesmo
  • Em um único episódio o Kilgrave conseguiu ser melhor que muito vilão dos filmes do MCU, falo mesmo. Mesmo eu não gostando do artifício de alucinações usadas como desculpa pra trazer de volta um ator, curti pra caramba as aparições do David Tennant. Fizeram sentido.
  • Se a gente tirasse toda aquela treta da Jeri com o Shane e a Inez quase não faria diferença. Só serviu pra mostrar que ela realmente é egoísta e perigosa, mas a personagem precisava de tanto destaque assim? Sei lá, não curti muito.
  • A Trish faz merda a temporada inteira, mata a mãe da melhor amiga com a justificativa fajuta de que era pro seu bem e ainda ganha poderes no final. Vou começar a ser um cuzão pra ver se eu consigo também.
  • Extrema vergonha alheia aquela sequência do Malcolm falando que ninguém mais se importa com pessoas sendo gays em pleno século XXI. A intenção foi boa, mas quem escreveu aquilo, velho? Poderiam ter caprichado mais, né.
  • Bicho, que história tensa aquela do namorado antigo da Jessica, o Stirling (queria ter o cabelo dele). Toda a explicação por trás da jaqueta de couro, do humor depressivo da protagonista, tudo foi muito bem encaixado. E o dilema da Alisa não tendo controle de suas ações, mas sendo uma ameaça, também foi bem trabalhado ao longo da temporada.
  • Will Simpson usando o inalador > Trish usando o inalador. Uma pena que resolveram despachar ele logo de cara, talvez tivesse potencial pra evoluir.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Jessica Jones
Com uma bela atuação de Krysten Ritter, principalmente na season finale, a investigadora particular ganhou novas camadas.

Você pode até ser foda-se pra vida, mas nunca chegará ao nível JJ

+ Melhor episódio: S02E07 (“AKA I Want Your Cray Cray”)
Focado no passado, ele é surpreendente em incontáveis sentidos.

Não sei por que, mas ele tem cara de personagem de Game of Thrones

+ Maior surpresa: Oscar Arocho
Sua química funciona muito bem com a protagonista, e isso é gostoso de se ver.

O Hipster Latino

+ Maior decepção: Trish Walker
Eu só não a coloco como Pior Personagem porque eu faço isso mais quando se trata de alguém com pouca utilidade e ainda por cima mal escrito. A Trish chegou no limite, mas dá pra gente entender suas motivações, ainda que eu não concorde com elas. E pensar que eu gostava dela na primeira temporada…

Gata do Inferno™

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).