• Lento, mas com talento
Lá fui eu assistir à última jornada da parceria entre Netflix e Marvel com meu pai e meu irmão mais novo. Pra quem não sabe, a terceira temporada de Jessica Jones foi o último lançamento de ambas como companheiras oficiais uma da outra. Depois disso, acabou. Demolidor, Os Defensores, Punho de Ferro, Luke Cage e O Justiceiro já haviam sido finalizadas, e só faltava aquela protagonizada pela atriz Krysten Ritter. Veio um sentimento de nostalgia antecipada porque não veria mais aquele universo que havia me cativado tanto. Iniciei a maratona. Porém, com um fato curioso: comecei no final do ano passado, e parei por mais de dois meses porque meu irmão não tinha disponibilidade pra ver comigo e meu pai. Comecei a postar gifs da série todos os dias no Twitter até voltarmos a assistir, e foi um período divertido. Eventualmente, conseguimos concluir.
Sinopse
As coisas não estão legais entre Jessica e Trish. Sua irmã de criação matou a sua mãe em um parque de diversões. Quão fodido é isso? Pois é, a nossa heroína tá mais traumatizada do que nunca depois de ter descoberto que sua progenitora estava viva e tinha poderes que a transformavam em uma mulher descontrolada, ficado assustada com a situação, se reaproximado com a mãe e ter visto ela morrer do seu lado pelas mãos da pessoa que mais amava no mundo. Não tem como ficar de boa. Jessica decide cortar relações com Trish, mas é “obrigada” a procurar por ela novamente quando Dorothy Walker revela que sua filha tá desaparecida. O percurso de Jessica Jones a leva até a figura de Gregory Sallinger, um serial killer nunca capturado pela polícia e que esteticamente parece uma mistura de Arnim Zola e Dexter Morgan. Enquanto isso, Hogarth e Malcolm estão trabalhando juntos sem nenhum pingo de escrúpulo, se deparando com incontáveis dilemas morais no mundo da advocacia.
Crítica
A primeira temporada tinha sido sólida muito por causa dos dois personagens principais, com destaque para o vilão Kilgrave. A segunda foi consideravelmente mais fraca por apostar em antagonistas menos carismáticos e arcos não tão interessantes, além de desperdiçar personagens como no caso de Jeri Hogarth, a qual teve seu núcleo resumido a uma doença terminal.
A terceira não comete os mesmos erros. O inimigo da vez não é tão bom quanto Kilgrave, mas traz uma dinâmica que estava faltando nas séries da Marvel/Netflix: um vilão altamente inteligente e particularmente arrogante que quer derrotar super-heróis não pelo desejo de domínio, mas para expor uma possível fraude causada pela existência de superpoderes e também para lustrar o próprio ego. Sallinger é um vilão mais do que decente para Jessica, que faz ativar sua paranoia e parece ser intocável. A produção acerta também em não voltar as atenções apenas para ele, pois transforma Trish Walker em uma espécie de anti-heroína, às vezes quase uma antagonista. A estratégia faz com que a trama pareça menos esticada, mas o erro recorrente em Jessica Jones permanece: a quantidade de episódios. Se tivesse menos capítulos, o enredo poderia ir mais direto ao ponto e não ficar dando voltas desnecessárias pra preencher o espaço. Esse defeito existe, na realidade, em todos os títulos da Marvel/Netflix.
A temporada, contudo, consegue se colocar no topo com facilidade. Os personagens são bem trabalhados, seus dramas expostos com destreza e a série tenta não deixar pontas soltas. Os diálogos bem escritos e a atmosfera depressiva ecoada pela protagonista ajudam a contextualizar o ambiente e dar peso ao conjunto. A história escorrega um pouco nas cenas de Trish, que por vezes surge como uma personagem rica em camadas e em outras não passa de uma jovem mimada. Seu desenvolvimento não me pareceu totalmente natural, nem na segunda e nem na terceira temporadas.
Veredito
Não tinha como encerrar a saga da Marvel na Netflix de uma maneira mais digna. Demolidor teve a conclusão perfeita, Luke Cage apresentou um fechamento de ciclo curioso e Punho de Ferro não sabia que teria um abrupto fim. Jessica Jones, por sua vez, escancara as fragilidades de sua representante, amarra as pontas soltas e deixa algumas sem resolução aparente pra promover um gostinho de quero mais. A história principal é excelentemente contada e distribuída, os personagens oscilam pouco e os arcos paralelos são igualmente – às vezes até mais – insinuantes. A terceira temporada volta a pecar no ritmo esticado e alguns defeitos técnicos, como a irritante mania de mostrar cenas em que não conseguimos enxergar absolutamente nada, mas é disparadamente a melhor da série e uma das melhores de uma parceria que agora não existe mais. Nota final: 4,4/5.
>> Crítica da 1ª Temporada de Jessica Jones
>> Crítica da 2ª Temporada de Jessica Jones
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Putz, o boy que tava com a Jessica até o final da segunda temporada não durou muito, né. Acho que o ator não tinha mais agenda pra participar da série e se livraram dele logo. Não que eu esteja reclamando, acabou não fazendo muita falta ele e o filho.
- Sallinger todo metido e enganando a Jessica várias vezes, escapando várias vezes, e depois sendo humilhado na frente de todos os seus alunos de luta é o meu espírito animal.
- O momento em que a Jessica arranca fora o gazebo e encontra o corpo do filho daquele casal, enterrado e armazenado em uma sacola… foi forte. E foi uma porra saber que aquilo tudo foi praticamente em vão no sentido de capturar o Sallinger, pois a Jessica acabou se livrando da única prova existente, aquele fio de cabelo. Pelo menos serviu pra dar um tipo de “paz” àquela família.
- Acho que o Erik merecia um arco melhor pra fazer jus à sua personalidade. Todo aquele rolê com a irmã me deu um pouco de preguiça, mas as partes em que ele topava com alguém mal eram sempre boas. A hora em que ele e a Jessica fazem uma visitinha pra aquele pedófilo foi marcante.
- O Malcolm é o tipo de personagem que nunca é o melhor, mas também nunca o pior. Achei um pouco repetitivo aquele negócio de trabalhar no ramo do direito e ser assombrado por seus feitos, mas no final da temporada ele se mostrou uma pessoa decente e disposta a mudar.
- Nossa, ainda bem que deram uma pausa naquela chatice do E.L.A. pra recuperar a essência da Hogarth. Ela era uma personagem boa antes justamente por não ter limites morais, capaz de fazer tudo pra alcançar seus objetivos. Acabou que no final de tudo, mesmo demonstrando amor por aquela artista, Jeri ficou sozinha e provavelmente morreu sozinha, colhendo o que plantou ao longo de sua vida. Fez sentido. Voltou a ser destaque, e poderia até ter sido a melhor da temporada se não fosse pela protagonista.
- Deu uma agonia em mim quando o Costa tava resolvendo a parada do filho adotivo com seu marido e toda hora parava pra atender o telefone. Deu vontade de gritar pra tela DEIXA ISSO PRA DEPOIS!!!, e jurei que aquele momento teria consequências. Acabou que não rolou. De qualquer forma, o que eu queria mesmo era ver um spin-off dele com o Erik, ambos se ajudando em casos policiais.
- Luke Cage aparecendo, foda-se. Ainda tive esperanças de que ele fosse ficar com a Jessica pra fazer jus aos quadrinhos, mas seria muito forçado também. Pelo menos tivemos a oportunidade de vê-lo uma última vez.
- Puta merda, eu não esperava que a Dorothy fosse morrer. Era uma das melhores personagens da série. Foi um verdadeiro choque e que acabou de vez com o que restava da antiga Trish.
- E por falar na antiga Trish, saudades dela. Até mesmo nesta temporada, naquela parte em que ela começa a fazer escândalo pra distrair os policiais, deu pra se ter um vislumbre. Infelizmente, nossa Patsy não conseguiu se recuperar e foi parar na Balsa, após caçar bandidos e pisotear Sallinger até a morte. Melhoras, Trish, sua doida!
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Jessica Jones
Ela é uma das melhores adaptações feitas no universo Marvel/Netflix, ponto. Só não digo que é a melhor protagonista porque temos Matt Murdock em Demolidor, e ele bate de frente. De qualquer forma, em tudo que ela participou (três temporadas de JJ e uma de Os Defensores), só não foi a melhor na primeira temporada de sua própria série, devido à presença de Kilgrave. Em todas as outras, foi o grande destaque. É preciso respeitar.
+ Melhor episódio: S03E07 (“The Double Half-Wappinger”)
Fiquei em dúvida entre este episódio e o seguinte. Ambos compartilham algo em comum: um momento de choque. No oitavo capítulo, esse choque é consideravelmente maior, mas o sétimo como um todo foi superior.
+ Maior evolução: Jeri Hogarth
Ela foi muito bem construída na temporada de estreia, mas desperdiçada posteriormente com um arco sem graça. Agora, a advogada voltou à sua essência e entregou exatamente o que esperávamos dela – seu cinismo e capacidade de manipulação absurdos.
+ Maior surpresa: Erik Gelden
Porra, a premissa dele é sensacional. Não posso deixar de valorizar o vilão Gregory Sallinger, mas o novo “parceiro” da Jessica foi tão bom que eu assistiria tranquilamente a uma história só dele. A ideia de alguém que tem crises de enxaqueca quando se depara com uma pessoa recheada de maldade é um conceito que eu nunca tinha visto antes. O fato de ele lembrar um pouco o Pedro Pascal só melhora as coisas. Ah, também adorei a adição de Gillian (foto no Veredito), a nova e autêntica secretária de Jessica. Além de ser um ótimo alívio cômico, ganha pontos por apresentar uma personagem transexual que não estabelece seu foco no fato de ser transexual. A própria atriz Aneesh Sheth ficou agradecida por isso.
+ Mais subestimado: Detetive Costa
Sua posição aqui na premiação é semelhante ao que aconteceu com Mahoney na segunda temporada de O Justiceiro. A diferença é que Costa é um pouco mais maleável que seu companheiro de profissão, mas sua vontade de ajudar o lado certo há de ser reconhecida.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?