Super-Heróis

The Boys: 3ª Temporada (2022)

the boys 3

• Nivelando o jogo

É difícil uma série não passar por momentos de turbulência. Até mesmo as melhores obras têm aquele patinho feio, a temporada que todo mundo sabe que é mais fraca. São raros os exemplos de produtos que estabelecem um nível alto desde o início e conseguem mantê-lo com o passar do tempo. Conseguir essa façanha pode ser uma benção e uma maldição, já que colocar-se em um pedestal criativo tende a gerar mais responsabilidades. É aquele velho ditado: quanto maior a escalada, maior a queda. The Boys segue escalando sua montanha de estrelato, e ainda não deu sinais de que vai despencar. Seria essa uma das séries que marcarão a atual geração, assim como Game of Thrones e Breaking Bad fizeram há alguns anos, e Stranger Things está fazendo hoje?

 

Sinopse

Tempesta está fora da jogada, mas isso nem de longe significa que os problemas acabaram. Afinal de contas, os nazistas não sumiram magicamente depois da morte de Hitler, né? O mundo ficcional e real são provas vivas disso. No entanto, um ano se passou desde que Tempesta fez cosplay de Anakin. Estranhamente, isso deu início a um período de relativa paz. Porém, tudo muda quando a Vought se coloca novamente em um centro de conflitos, fazendo com que nossos Garotos e Garotas precisem tomar medidas drásticas para agir.

A pessoa mais calma do mundo, pois nunca perde a cabeça

Crítica

Certas séries têm o poder de gerar debates. Independentemente da comparação entre temporadas que lançam todos os seus episódios de uma vez e aquelas que vão lançando um capítulo por semana, é fato que essa segunda proposta favorece The Boys. Com tantas acontecimentos marcantes e chocantes, essa sensação de imprevisibilidade seria diminuída em cenário de maratona. O formato fragmentado favorece a nossa degustação da história, porque sempre ficamos querendo mais.

A melhor coisa de The Boys, pra mim, é a capacidade de introduzir conceitos absurdos em situações assustadoramente reais. De um jeito sarcástico, a série tece diversas críticas sociais ferrenhas e pesadas. Nesta temporada, tal característica se acentuou, pois a trama se aproximou ainda mais de tudo que está acontecendo no nosso mundo. Mesmo em um enredo no qual a fantasia impera, o roteiro consegue transformar aquilo em algo crível, ainda que não tangível, justamente por extrapolar a ficção e mostrar de maneira irônica o comportamento humano.

Como isso é um pitaco de The Boys, tá liberado escrever palavrão aqui, né? Pois bem, a terceira temporada é boa pra caralho. É até difícil começar a elucidar as qualidades, pois são muitas. Além das críticas sociais certeiras, a série se desloca com um ritmo que jamais fica maçante ou desinteressante. Isso se fortalece por causa dos personagens. Quando paramos pra pensar, nenhum deles é ruim. Eu não sei vocês, mas tem série que pode ser boa pra cacete, com vários personagens fodas e tudo mais, só que de vez em quando bate aquela preguicinha quando o episódio decide focar em um arco não tão bom assim. O próprio The Boys já sofreu com isso, mas definitivamente superou essa fase.

As novidades da terceira temporada ajudam a manter aquela realidade em constante expansão, trazendo elementos do passado e explorando os dramas de novos personagens. As analogias e paródias constantes, aliás, deixam a experiência ainda mais gostosa pra quem curte o subgênero de super-heróis. Saber que sempre vai haver algo de novo, com potencial a ser explorado, auxilia no processo de jamais empacar a história.

Nada em The Boys é essencialmente ruim. De verdade, quanto mais eu penso nisso, mais eu fico impressionado. Obviamente, nem tudo é perfeito, mas nenhuma coisinha me deixa revoltado ao ponto de estragar a experiência.

Eu não fui muito fã das resoluções do último episódio desta temporada, não vou negar. Achei que, contraditoriamente, a série tomou decisões que ficaram no lugar comum e soaram formulaicas demais pra uma obra tão ousada. Quando paramos pra pensar também na situação em que os personagens começaram a temporada, em comparação com a conclusão dela, não houve nenhum evento tão traumático quanto nas outras conclusões. Além disso, eu tive a impressão de que o arco da temporada não chegou ao fim. Nas outras, apesar dos cliffhangers, dava pra perceber que um fragmento da história total tinha sido completado.

Esses detalhes evitam que a temporada seja perfeita, mas passam longe de abaixar o sarrafo de qualidade. Nenhum, repito, nenhum episódio é bosta ou algo do tipo. Eu confesso que fiquei com um pouco de medo do primeiro capítulo da temporada. Isso porque em uma cena, por mais divertida que ela tenha sido, eu senti que houve um choque apenas pelo choque, algo que não é muito comum em The Boys. Normalmente, as cenas de violência extrema servem a algum propósito. Essa, em específico, me pareceu um pouco deslocada, e imediatamente tive receio de que a série tivesse se tornado vítima do seu próprio sucesso. Os fãs adoram mortes gráficas e sangue pra todo lado? Pois vamos dar isso a esses merdas!

Graças aos Sete, a temporada não caiu nessa armadilha de aumentar a incidência de um elemento narrativo só porque os fãs gostam. The Boys não é uma série que se destaca por suas cabeças explodindo. The Boys é uma série que se destaca pela sua representação crua e pessimista de como o ser humano se comporta ao deter grande poder. The Boys é sobre traumas, egoísmo, ganância, egocentrismo e autoritarismo, ao mesmo tempo que é sobre família, amizade, valentia, sacrifício e companheirismo. The Boys é uma série com muitas camadas, que não precisa se sustentar em uma só. Se conseguir manter essa filosofia em mente até o fim, vai ser difícil alguma outra obra ser tão revelante quanto ela no universo atual da cultura pop.

Vingadores: Eu Te Mato

Veredito

Em seu terceiro ano, The Boys dá aula de como utilizar violência a seu favor, enriquecendo uma trama recheada de vida em uma realidade na qual a morte pode surgir a cada esquina. É uma série inteligente, com pouco medo de se arriscar, e que sempre nos deixa na dúvida sobre o que vem a seguir. São poucos momentos previsíveis e as reviravoltas não acontecem sem sentido, ajudando a manter a nossa curiosidade em alerta o tempo todo. Os personagens são espetaculares, a expansão de universo é de tirar o chapéu, as interpretação são memoráveis e, acima de tudo, é um bagulho muito divertido de ver. A temporada teve certos desníveis, sobretudo na abertura e no encerramento, mas entregou um conjunto sólido que me deixou ansioso pelos próximos desdobramentos. Nota final: 4,6/5.

Parece capa de filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Direção de Arte, Melhor Figurino, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original

 

>> 1ª Temporada de The Boys

>> 2ª Temporada de The Boys

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Jurei que aquele jogo duplo da Neuman fosse durar pelo menos metade da temporada, mas decidiram acabar logo de cara com o suspense. Gostei. E eu estava me encaminhando pra escolher Stan Edgar como Mais Subestimado da temporada, porque o cara domina um monte de seres superpoderosos só com a lábia, mas ele foi preso, escafedeu-se e eu deixei pra lá. E sobre a Tempesta enfim morrendo de vez, já foi tarde.
  • Aprendeu, Homem-Formiga? Bastava entrar na bunda do Thanos pra evitar a catástrofe! Mas sério, que cena absurda aquela. Pra quem não pegou, era dela que eu estava falando na Crítica. Pensei que a série começaria a se apoiar só em mortes bizarras pra chocar e gerar hype, mas, quando vi que era pra ser só uma piada isolada, achei sensacional.
  • Supersônico mal chegou e já saiu fora. Pensei que ele seria mais um super a entrar pro “time do bem”, mas Homelander não deixou nem chegar a esse ponto. E, bicho, eu sinceramente não lembro da série mostrar quais eram os seus poderes. Precisei pesquisar no Google pra saber. Pra quem não se lembra e ficou curioso, ele possuía superforça e a capacidade de gerar uma intensa onda sonora com as próprias mãos. Radical.
  • Quem não fez uma careta na hora em que apareceu o momento #Homelight, já morreu completamente por dentro.
  • Achei massa de ver a Grace Mallory ganhando mais profundidade com aquele flashback envolvendo o grupo Payback. E na hora que vi aquele maluco voador indo pros céus, soube imediatamente que ele seria explodido. Me antecipei a vocês, roteiristas!
  • Herogasm. Não vou negar, eu estava empolgadaço pra ver o que seria esse episódio, ainda mais depois do hype que fizeram. Quanto às partes de sexo, foram poucas coisas realmente estranhas. Por outro lado, ver o Billy e o Soldier Boy metendo porrada no Homelander foi impagável.
  • Frenchie e Kimiko precisam ser protegidos a qualquer custo. Eu fiquei com a péssima sensação de que algum deles morreria durante a temporada, ainda bem que errei. E, sinceramente, não sei se torço pra eles ficarem juntos romanticamente ou se a relação é mais fraternal do que qualquer coisa.
  • Não fiquei nem um pouco triste com a morte do Falcão Azul, mas entendo o argumento do irmão do Trem-Bala de que seria melhor se ele tivesse sido preso.
  • Pesado o passado da família do Billy, com o irmão se suicidando por causa das agressões do pai e tudo mais. Deu bastante dor pro personagem, e ajudou a iniciar de vez o seu processo de evolução, que uma hora ou outra viria. Será que ele vai sobreviver ao cérebro derretido?
  • Se alguém não comemorou quando o Leitinho meteu porrada no padrasto da filha dele, essa pessoa está mentindo. Ou então ela não possui boa índole. Cara esquisito do caralho.
  • Eu prefiro não comentar nada sobre o Profundo e suas relações extraconjugais com polvos. Não tenho sanidade mental suficiente pra isso.
  • R.I.P. Black Noir. Eu pensava que ele duraria mais e seria mais importante pra batalha com o Soldier Boy, é uma pena que não chegou a esse ponto. Sinceramente, queria ter visto a reunião dos dois, acho que foi um potencial desperdiçado. Vou sentir falta dos bichinhos que acompanhavam o nosso silencioso herói. E, após a sua morte, a saída da Starlight e o sumiço da Maeve, os Sete no momento são apenas Três, correto? Homelander, Profundo e Trem-Bala. Quem diria.
  • Aconteceu tanta coisa no último episódio que eu reservei um tópico somente pra falar dele. Certo, eu não gostei do Billy subitamente voltando os olhos pro Soldier Boy e se aliando momentaneamente ao Homelander. Fez sentido com a evolução do personagem, considerando que ele fez a promessa de salvar o Ryan? Fez. Foi uma solução fácil e sem riscos do roteiro pra manter todo mundo vivo pra próxima temporada? Foi. Se era pra fazer isso, eu gostaria de pelo menos ter visto mais destruição. Pô, construíram a temporada inteira pra um possível embate entre Billy, Homelander e Soldier Boy, e até tivemos uma prévia disso no Herogasm. Porém, quando chegou a hora do vamo ver, a série peidou na farofa. Poderiam ter pelo menos, sei lá, destruído o prédio da Vought ou matado o Ryan. Achei que, surpreendentemente, faltaram culhões na season finale. Em compensação, achei que fez sentido a Maeve e o Soldier Boy terem sobrevivido, até pela dimensão dos poderes de cada um. Foi meio conveniente, mas dá pra passar.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Billy Butcher
Acho que The Boys é a série mais difícil de escolher o Melhor Personagem de cada temporada, sinceramente. Pra vocês terem uma ideia, eu já mencionei aqui que fico votando no melhor de cada episódio por meio do app TV Time. Homelander, Starlight, Hughie, Leitinho da Mamãe, Soldier Boy e Maeve tiveram um voto cada. Apenas o Billy teve dois. A diferença em relação aos outros foi pouca, porque todos estiveram muito bem. Porém, o nível de desenvolvimento do Billy me chamou a atenção.

Homelander passando o bastão pro Billy após ser o melhor das duas temporadas anteriores

+ Melhor episódio: S03E06 (“Herogasm”)
O episódio mais bem avaliado de todas as temporadas de The Boys. Preciso dizer mais alguma coisa?

A dona dos poderes mais ameaçadores do planeta

+ Maior evolução: Trem Bala/A-Train
Esse membro dos Sete ainda não alcançou o seu pico de evolução, mas está praticamente irreconhecível quando comparamos com o Trem Bala da primeira temporada. Além disso, a sua alternância entre babaca e alguém em busca da redenção é algo muito bem trabalhado pelo roteiro.

Arthur Picoli após ser chamado de fraco no BBB 21

+ Maior surpresa: Soldier Boy
Votá-lo como Melhor Personagem da temporada não seria loucura, tá? No entanto, Maior Surpresa é o mínimo que o herói do ator Jensen Ackles, de Supernatural, merece. Uma excelente adição à mitologia de The Boys.

Dean Winchester Lenhador™

+ Mais subestimada: Ashley Barrett
Acho que nem ela sabe como continua viva até hoje. De qualquer forma, a série ficaria um pouquinho menos dinâmica sem a Ashley, isso não podemos negar.

Ah não, a operadora de celular ligou mais uma vez pra cobrar a fatura do mês

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).