• Para todos governar
Hoje é Dia do Hobbit! Como forma de comemoração, resolvi fazer uma postagem especial da trilogia de O Senhor dos Anéis, algo que estava nos meus planos há um bom tempo. Afinal, muita gente considera essa como a melhor trilogia do cinema, ou pelo menos uma das melhores. Pra escrever esse texto, eu tomei como base as versões estendidas de cada filme. Eu acho que já vi as versões cinematográficas na primeira vez que assisti, mas optei por levar em conta o conteúdo completo. Bora lá?
O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel – Os Nove Companheiros
A nossa história se passa na Terra-média. Milênios depois da destruição de Sauron e o sumiço do Um Anel, um artefato com o poder de controlar a todos, o mundo vive um período de paz. Nas sombras, porém, as forças das Trevas estão tomando forma, ainda mais quando o Um Anel reaparece no Condado, nas mãos da espécie mais improvável possível: a dos hobbits.
Vou tentar não soltar spoilers muito grandes por aqui, mas já adianto que é melhor ler essa análise depois de assistir aos filmes. Certo, A Sociedade do Anel é um espetáculo. São 3h30 de duração e tanta coisa acontece que a experiência jamais se torna cansativa. Eu precisei pausar algumas vezes pra beber água e ir ao banheiro, mas não por me sentir entediado ou por precisar espairecer a cabeça.
Por onde começar? Bom, talvez pelo começo, né. A Sociedade do Anel não tem a mínima pressa de fazer a sua aventura acontecer. Demora quase uma hora pra que a missão de Frodo Bolseiro, o protagonista da trilogia, efetivamente tenha início. Antes disso, o filme explica calmamente os antecedentes daquele universo fictício, dando um panorama das raças inseridas naquele contexto, e desenvolve lentamente os seus personagens.
Nessa primeira hora, Gandalf e Frodo são os personagens que mais chamam a atenção de forma positiva; Bilbo Bolseiro também cumpre bem o seu propósito. Aos poucos, o filme vai perdendo parte da sua inocência, digamos assim, à medida que os nossos heróis partem em direção aos seus objetivos, deparando-se com incontáveis perigos. O filme só desacelera um pouco o ritmo quando Frodo chega a Valfenda. Há uma ligeira quebra na narrativa, que logo se recupera após a criação do grupo que viria a se chamar Sociedade do Anel.
Dali pra frente, a aventura continua, mas em uma dinâmica diferente. Não há mais aquele senso de urgência e perigo da jornada de Frodo antes de Valfenda. É claro que os personagens seguem com pressa de chegar ao destino, mas a força dos números dá uma sensação mais próxima de uma excursão do que de uma fuga, ao contrário da missão anterior. O filme não deixa a bola cair, criando uma ótima sinergia entre os personagens, com destaque pra Aragorn e Boromir, em sequências empolgantes e uma ambientação impressionante.
Sério, é inacreditável o que o diretor Peter Jackson e toda a equipe dos bastidores realizaram em A Sociedade do Anel. O trabalho de câmera pra deixar os hobbits menores na nossa perspectiva, a construção de cenários únicos, a atenção aos detalhes em cada cena, a trilha sonora marcante e a óbvia paixão pelo material original de J.R.R. Tolkien. Eu posso estar sendo meio ingênuo ao dizer isso, mas este não é um trabalho feito com as cifras em foco. É um trabalho claramente impulsionado pelo coração de uma equipe apaixonada por O Senhor dos Anéis.
Continuando, o filme volta a perder um pouco do ritmo quando o grupo se aproxima de Galadriel. Acho que é algo muito pessoal e não sei se isso é uma opinião impopular, mas a maioria das cenas envolvendo elfos me dão um pouco de tédio. Pra ser justo, talvez seja necessário colocar o pé no freio e criar interlúdios entre as aventuras. Mesmo assim, a minha mente não deixa de vagar nesses momentos.
O terceiro ato não culmina em uma batalha memorável de grandes proporções, mas prepara o terreno de maneira perfeita pros outros dois capítulos da trilogia, colocando cada personagem em um caminho bem delineado. A gente já termina o primeiro filme tendo uma boa noção de como vai começar o segundo, e isso mostra o quanto as obras conversam entre si.
Em resumo, A Sociedade do Anel não é só um excelente ponto de partida pra trilogia. É um filme que basta em si mesmo e provavelmente é o que mais tem um significado especial pra mim. Nunca fui um fã da saga durante a minha infância. Na primeira vez que tentei assistir, vi o primeiro e não senti interesse pelos demais. Dos três, este é o que mais me cativa e dá vontade de revisitar. Melhor personagem: Gandalf. Por ser um filme muito longo e de diversas variações narrativas, é difícil bater o martelo, mas acredito que Gandalf seja quem mais nos conquiste logo de cara, além de guiar muito bem o protagonista e a trama como um todo. Além disso, é responsável por pelo menos metade dos momentos mais icônicos de A Sociedade do Anel.
O Senhor dos Anéis: As Duas Torres – E então começa
Frodo e Sam dão seguimento à viagem até Mordor. Aragorn, Legolas e Gimli vão atrás de Merry e Pippin, que foram sequestrados por orcs. Nos outros locais da Terra-média, as forças de Sauron e Saruman ganham força e o reino de Rohan se vê à beira da destruição.
As Duas Torres é o meu filme menos favorito da trilogia. Sim, a Batalha de Helm’s Deep (Abismo de Helm) é de tirar o fôlego, cair o queixo e sacudir a cidade, mas não posso analisar todo o restante tomando como base apenas o encerramento. Por isso, vamos por partes.
O começo de As Duas Torres é muito bom. Temos um novo vislumbre do que aconteceu na luta entre Gandalf e o Balrog, antes do filme mostrar os primeiros passos de Frodo e Sam sem a companhia da Sociedade do Anel. O personagem de Sméagol/Gollum é finalmente introduzido de maneira completa, em vez de meros vislumbres da criatura nas sombras.
O modelo narrativo deste segundo capítulo de O Senhor dos Anéis é bem diferente do primeiro. Lá, nós tínhamos o enredo se desenvolvendo a partir de um único centro: a aventura dos Nove Companheiros. Aqui, temos uma história de muitas bifurcações. Diferentes arcos são explorados simultaneamente, seja em Mordor, Isengard, Rohan ou Gondor. Isso faz com que tenhamos uma dimensão maior do tamanho da Terra-média e do impacto que a guerra iminente tende a causar.
Essa escolha narrativa precisava ser feita, mas infelizmente isso tem um custo. Para dar um panorama mais completo da guerra, o filme perde muito no quesito de progressão. Frodo e Sam, por exemplo, andam em círculos e dá pra perceber que a trama está deixando ambos em banho-maria porque eles não podem chegar à Montanha da Perdição ainda; tá muito cedo pra isso. Isso causa a sensação de que alguns núcleos específicos são meio que perda de tempo.
As Duas Torres é mais focado na política do que na aventura, isso é um fato. Novamente, é algo que a trilogia precisava fazer pra que o mundo de O Senhor dos Anéis ganhasse em profundidade. Em outras palavras, o impacto do clímax de O Retorno do Rei só se torna possível devido ao desenvolvimento que ocorreu aqui. A boa notícia é que o enredo mais disperso e menos objetivo culmina em uma das maiores e melhores batalhas já feitas na história do cinema. Todo o terceiro ato deste filme é praticamente impecável, e ainda há espaço pro humor, principalmente com Gimli.
Sobre os novos personagens inseridos neste longa, o meu predileto é Sméagol, sobre o qual vou falar mais no final do texto. Os demais não me causaram um impacto tão grande. Éowen tem uma premissa interessante, mas ainda não diz a que veio, Faramir é excessivamente semelhante ao que vimos com Boromir, o Rei Théoden promete muito e entrega pouco, e Gríma soa demais como um vilão de desenho animado. A maior força está nos personagens que já haviam sido introduzidos antes, como Aragorn e Legolas, só pra citar alguns.
Alguns arcos são melhores do que outros. O núcleo de Frodo e Sam passa por altos e baixos. A história de Merry e Pippin se arrasta, mas termina de forma incrível. A de Aragorn, Legolas e Gimli começa bem, sofre com um miolo menos empolgante e termina em altíssimo nível. Por causa dessa diferença de qualidade entre os blocos, ao contrário da singularidade presente em A Sociedade do Anel, considero que o segundo filme perde pontos no conjunto geral.
As Duas Torres é uma espécie de sacrifício necessário pra que O Senhor dos Anéis não fosse “apenas” uma simples jornada do herói pontuada por uma derradeira guerra final. O segundo filme da trilogia não tem um ritmo tão agradável de se acompanhar quanto o primeiro, e as tramas e subtramas são menos estimulantes. Por outro lado, o final é catártico, fecha o filme em alta e deixa tudo em ordem pro último capítulo. Melhor personagem: Sméagol/Gollum. Sim, eu sei que ele está muito presente na primeira metade do filme e depois acaba perdendo espaço. Ainda assim, eu gosto muito de sua imprevisibilidade, pincelada por toques de fragilidade, carência, maldade e sofrimento. É possível que Sméagol seja o personagem mais complexo de toda a trilogia, e é aqui que temos o primeiro grande contato com ele. Destaque também pro Aragorn.
O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei – O poder corrompe
As forças de Sauron se preparam para atacar Gondor e destruir de uma vez por todas o reino dos homens. Cabe a Aragorn, Legolas, Gimli, Rei Théoden e Gandalf, e muitos outros heróis, aguentar firme até que Frodo e Sam consigam destruir o Um Anel na Montanha da Perdição.
Nas críticas dos dois primeiros filmes, eu tentei revelar o mínimo possível a respeito das tramas, pra aqueles que não querem ler spoilers explícitos. Porém, pra destrinchar melhor a minha opinião a respeito de O Retorno do Rei, vou precisar escrever mais abertamente. Por isso, se você nunca viu e não quer saber o que acontece, sugiro que pule pra última seção deste texto.
O Retorno do Rei é o filme que eu mais enxerguei problemas nos detalhes. Ao contrário de A Sociedade do Anel e As Duas Torres, acredito que o terceiro e último capítulo abusa um pouco demais das conveniências do roteiro. Não posso dizer com propriedade se essas conveniências são frutos do material original do J. R. R. Tolkien, mas isso não importa. O que importa é o que eu vi em tela.
A conveniência que mais salta aos olhos é o exército de mortos-vivos. Sério, é forçar demais a amizade me convencer que, coincidentemente, por incrível força do destino, havia um batalhão inteiro de soldados imortais que devem suas lealdades a Gondor em uma montanha onde, olha só!, está o herdeiro do trono de Gondor naquela mesma hora. Sei lá, acho que foi uma decisão meio sacana, um artifício muito fácil pra não precisar lidar melhor com a desvantagem numérica dos mocinhos.
Além disso, não curto alguns outros caminhos da trama. Os Nazgûl voltando da hibernação em As Duas Torres pra provocar uma ameaça a mais em O Retorno do Rei me parece meio abrupto, como se eles estivessem esperando o momento certo pra aparecer. A Éowyn se infiltrando entre os soldados e tomando cuidado pra não revelar sua identidade, mas do nada tirando o elmo pra poder conversar com o Merry, em meio a um monte de gente, também me desconectou um pouco do filme. Ah, um adendo sobre a Éowyn: é uma personagem que infelizmente não foi trabalhada da melhor maneira. Ela passou tempo demais sendo apenas a mulher-que-quer-lutar-e-tem-uma paixão-pelo-Aragorn. Por mim, essa subtrama tinha que ter acabado no segundo filme, pra desenvolver melhor a Éowyn como pessoa e até o seu potencial romance com o Faramir. Ela matando o Rei Bruxo de Angmar é uma parte extremamente icônica e simbólica, mas poderia ter sido ainda mais significativa.
Há algumas outras coisinhas que me incomodam, como a facilitação narrativa de quando o Pippin olha o Palantír e a galera tem um vislumbre dos planos do inimigo, pros heróis não serem pegos tão de surpresa. Por fim, o filme erra um pouquinho o tom cômico do Gimli, que às vezes fica meio forçado. Tem uma última coisa que me incomoda em toda a trilogia: o fato de as cidades parecerem pequenas e vazias demais. Não sei, me dá a impressão de que a escala da Terra-média é muito menor do que aparenta ser.
Beleza, eu passei três parágrafos só falando mal do filme, então deve ser o meu menos favorito, certo? Pior que não. Vale demais a pena acompanhar as quatro horas de duração da versão estendida. As melhores atuações da trilogia provavelmente estão aqui, e não preciso nem falar da trilha sonora e da fotografia, né? O Retorno do Rei é tecnicamente perfeito e a montagem é muito mais balanceada do que a de As Duas Torres, que de vez em quando parecia meio empacada. Aqui, tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, mas o filme consegue equilibrar com primazia o ritmo mais intenso de uns e os momentos mais cadenciados de outros.
Em questão de segmentos empolgantes, O Retorno do Rei é disparadamente o ápice da trilogia. Eu continuo considerando a Batalha do Abismo de Helm como a melhor de O Senhor dos Anéis, mas o terceiro filme executa mais ou menos o que Vingadores: Ultimato fez no Universo Cinematográfico da Marvel, com quase duas décadas de antecedência. Sem dúvida nenhuma, o encerramento de O Senhor dos Anéis foi pioneiro em diversas coisas e um marco absoluto no gênero de fantasia. E digo mais: o filme não é só um marco na história do cinema, mas um ponto importantíssimo da cultura popular como um todo. O epílogo dele é uma obra-prima, e é impossível não derramar uma lágrima depois de tanto investimento emocional naquele mundo.
O Retorno do Rei conclui a trilogia de O Senhor dos Anéis da melhor maneira que se poderia esperar. O filme não decepciona ao entregar um clímax recheado de cenas memoráveis capazes de gerar arrepios de contentamento. Quando eu olho a fundo os detalhes, consigo enxergar várias conveniências narrativas, mas são apenas detalhes que não estragam a experiência. Melhor personagem: Samwise Gamgi. Não quero tirar os méritos do Frodo de ter carregado o fardo do Um Anel, mas ele não teria chegado a lugar algum se não fosse por Sam. Ok, eu confesso que não gosto tanto do Sam nos dois primeiros filmes, sobretudo quando ele trata mal o Sméagol quando a pequena criatura estava buscando uma redenção, mas, em O Retorno do Rei, é Sam quem rouba a cena. Ah, também gostei do Pippin ganhando mais espaço, até porque Merry tinha tido essa oportunidade em As Duas Torres.
+ Veredito
O Senhor dos Anéis é uma das melhores trilogias da história do cinema. Não é um universo que funciona pra todo mundo. Eu mesmo demorei a pegar gosto pela saga, mas hoje a vejo com outros olhos, em seu amontoado quase interminável de qualidades, mesmo com alguns tropeços narrativos pelo caminho. O meu filme preferido dos três é A Sociedade do Anel – pra mim é o que tem a melhor sinergia e o que conta a sua história da melhor maneira. Em seguida, vêm O Retorno do Rei e As Duas Torres, respectivamente. Não sei dizer quem é o melhor personagem da trilogia como um todo. Aragorn é um forte candidato, mesmo não tendo sido individualmente o melhor de nenhum filme, pelo menos na análise que fiz desta vez. Futuramente, quando eu revisitar os longas, pode ser que eu mude de ideia. Então, não vou bater o martelo em relação a isso. O que importa é que O Senhor dos Anéis tem coisa boa pra dar e vender, e recomendo que você dê pelo menos uma chance caso nunca tenha assistido.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
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Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê acha dos filmes. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?