Drama, Séries

Designated Survivor: 1ª Temporada (2016/17)

• A ilusão da democracia

Era uma vez um homem. Um homem de aspirações humildes, trabalhando no governo americano como Secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano. Eis que certo dia, o Capitólio explode com todos os principais governantes dos EUA, incluindo o presidente, o vice-presidente o aécio e os demais parlamentares. O homem de aspirações humildes havia sido nomeado o Sobrevivente Designado, ou seja, caso alguma tragédia bem tragicamente trágica acontecesse, ele assumiria o posto de presidente dos EUA, uma medida meramente protocolar. Porém, o improvável de fato aconteceu e agora Tom Kirkman se vê jogado em um dos cargos mais importantes do planeta.
Apresento-lhes uma das séries mais subestimadas da atualidade.
O nosso protagonista Tom Kirkman é interpretado por ninguém menos que Kiefer Sutherland, o Jack Bauer de 24 Horas. Sim, ele milagrosamente está em outro papel. É até estranho ver atores como ele fazendo outras coisas, é tipo ver o ator do Harry Potter não sendo o Harry Potter – embora ele tenha feito um filme de romance bem legal. Será Que? o nome. De qualquer maneira, Sutherland passou de agente profissional combatente do crime para um cargo que lida com ladrões muito mais poderosos*. E acredite, ele mandou muito bem.
É óbvio que o foco central da série, pelo menos em sua primeira temporada, é mostrar-nos o desafio que Tom Kirkman se dispôs a realizar, tendo que tomar decisões de vida ou morte que consequentemente podem afetar milhares de pessoas. E apesar de ser uma trama com mais da metade do tempo se passando na Casa Branca, Designated Survivor não é excessivamente patriota.
Uma brincadeira recorrente aqui em casa é justamente esta insistência dos estadunidenses de se autodeclararem os fodas, os reis da democracia e os donos da América. Por isso, sempre ficamos zoando com isso: de vez em quando começo a cantar o hino americano com a mão no peito, conversamos sobre fontes de justiça no formato de uma águia e sobre como a “América” é maravilhosa. Entretanto, Designated Survivor só faz isso com mais contundência em seu último episódio, fugindo um pouco do padrão. Inclusive a série critica um pouco todo o comportamento da galera da segunda casa mais vigiada do mundo, ficando atrás somente da casa do BBB.
Os primeiros desafios de Kirkman são obviamente acalmar a população, enquanto ele próprio deve aprender a como governar um país daquele tamanho, e buscar aliados na Casa Branca. Com o tempo, mais problemas vão surgindo e é lógico que uma conspiração vem à tona, até porque não existir uma sendo que o CAPITÓLIO foi totalmente destruído seria algo meio sem sentido, né. Anyways, pra ser bem sucedido em sua missão Tom Kirkman vai ter que contar com a ajuda, muitas vezes duvidosa, de diversos elementos.
A primeira-dama é um destes. Servindo como base familiar ao lado dos filhos do casal, ela é quem tem o dever de ter certeza que a cabeça do marido tá no lugar. Em segundo vêm os filhos, que previsivelmente agem como uma inspiração de Kirkman, algo muito bem construído ao longo dos episódios.
Dentro da Casa Branca, a ajuda é ainda mais necessária. Pra começar, temos um dos melhores personagens, Seth Wright, o assessor de imprensa motherfuckin’ responsável por essa parte (nota-se que eu conheço os termos) e um dos homens de confiança que o novo presidente adquiriu. Aaron Shore e Emily Rhodes são outros exemplos, um é chefe de gabinete e a outra eu não lembro bem o cargo. Juntos, eles têm que aprender a trabalhar em prol da nação ainda que cultivem uma certa rivalidade – a qual em vários momentos se torna divertida.

De um lado temos uma poderosa personagem feminina. A outra é só a Alex

A última personagem que quero destacar é Hannah, a Nikita da série Nikita. Na verdade eu nunca nem vi esta série, mas nos comentários dos episódios todo mundo só lembrava disso, então achei importante mencionar. Hannah Wells (favor não confundir com Hannah Baker, obrigado) é aquela típica policial badass que não desiste de seus objetivos por nada, me lembrando um pouco a Deb de Dexter em alguns momentos. Sua função na trama é investigar todo o lado da conspiração, sendo que o presidente tem algumas outras pequenas coisas pra cuidar.
A série é recheada de ótimos personagens, mas se eu for me demorar demais nessa parte vai ficar difícil pra você que tá lendo. Bola pra frente.
O ritmo de Designated Survivor é excelente. Em todo episódio acontece alguma coisa, e mesmo os mais lentos têm uma qualidade enorme. Eu sinceramente não sei o porquê de quase ninguém estar falando desta série, ou pode ser que eu tenha gostado pra caralho por algum motivo especial. De qualquer jeito, é uma série na qual me viciei desde o início. Antes mesmo de começar a assistir, quando meu irmão me mostrou o trailer e propôs que assistíssemos com meu pai, já imediatamente me interessei. E acabou que não me decepcionei, ainda bem.
Em uma temporada que conta com 22 episódios, não são todos eles que avançam a história principal, digamos assim, mesmo que ela não seja descartada em nenhum momento. Até mesmo os capítulos que focam em conflitos específicos trazem um roteiro bem feito e fechadinho, nos deixando sempre curiosos. Quando a trama avança, aí é que as coisas ficam boas de vez, nos deixando apreensivos pelo fato de não sabermos em quem confiar.
Isto, por sinal, é outro ponto positivo. Me dá muita agonia ficar uma temporada inteira sem saber em quem depositar minha confiança. Cada pequena ação se torna suspeita, fazia tempo que eu não via algo parecido em uma série.
Minha principal crítica, além da previsibilidade de alguns acontecimentos, vai pra season finaleDesignated Survivor é uma daquelas séries de mais de 20 episódios que eu tanto abomino. Contudo, esta quantidade funciona no enredo, e minha desaprovação não é dirigida a ela. Pra quem não sabe, normalmente quando este formato é utilizado, a temporada é dividida em duas. A primeira parte é lançada e depois de mais ou menos um semestre a segunda começa a ser transmitida, a exemplo de The Walking Dead.
O capítulo final da primeira metade é insano, deixando um cliffhanger fodido. Justamente por causa disso era de se esperar que o desfecho da temporada em si fosse ser ainda mais tenso. Porém, não foi o que aconteceu, e me arrisco a dizer que a cena final é um pouquinho decepcionante.
Uma ligeira decepção que não apaga de maneira nenhuma o resto. Mesmo antes de terminar, eu já sabia que minha nota seria 5 Lelecos. Só se alguma coisa horrenda acontecesse, como alguém ressuscitar, virar lenhador ou algo parecido. Não foi o caso, e por isso termino este pitaco recomendando mais uma opção para você, que todo fim de semana procura algo na Netflix e sempre termina assistindo Friends. Vai por mim, Designated Survivor vale a pena pra quem curte tramas políticas.

*Crítica Social Foda™

 

{Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: https://pitacosdoleleco.com.br/2017/07/11/glossario-do-leleco/}

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Coisas que Têm em Todo Episódio de Designated Survivor: pessoas andando pela Casa Branca e mexendo no celular; algum olhar estranho do Seth; Kirkman passando as mãos pelo rosto, cansado; Alex se metendo em algum assunto que não deveria; e por último, uma coletiva de imprensa. Dá pra fazer um drinking game com isso.
  • Acabou que o traidor era aquele cara bochechudo. Foi uma jogada legal o “rato” ser alguém que não é protagonista, mas sinceramente esperava mais impacto.
  • Porra, fiquei bolado com a morte do Jason. Jurei que ele estaria usando colete ou algo parecido.
  • A Hannah é foda demais, pqp. Evitou a morte do presidente, destrinchou toda uma conspiração e ainda matou o Catalan em um golpe de Mortal Kombat. Que mulher!
  • O Kirkman é uma contraparte do Underwood, né.
  • Senador Bowman, favor ir se foder. Seu otário.
  • Que reviravolta fooooda aquela do Peter MacLeish, o Jake Gyllenhaal de orçamento reduzido. Não esperava por aquilo, mas a gente tem que reconhecer que o FBI foi bem amador naquela hora.
  • A personagem que me deixou mais confuso com certeza foi a Kimble. Eu gostava dela, depois passei a odiar. Comecei a confiar, e então fiquei desconfiado. Gostei, não gostei. Gostei, não gostei. Tira casaco, bota casaco. Mas acabou que no final ela era de boa, rs.
  • Seria muito óbvio se o Aaron Orelhas Estranhas fosse o traidor. Ainda bem que não era, porque eu gosto dele.
  • Como futuro jornalista, eu entendo o trabalho do Abe Leonard. Mas que cara chato do caralho aaaaaa (acabou se redimindo um pouco no fim).
  • Mike me lembrou um pouco o John Diggle na primeira temporada de Arrow, seu jeitão reservado. Aliás, o segurança particular do presidente nunca me deu a impressão de que tava no lado malvado da história.
  • E que pesado matarem o filho do Jason. Pra que fazer aquilo, mano?
  • A segurança do Pentágono é uma beleza, hein. Confesso que foi um pouco tosco ninguém conseguir impedir o Catalan mas a Hannah casualmente encontrá-lo passando na rua. Essas coisas a gente tenta relevar, né.
  • Alex, tô de olho em você, mulher.
  • Emily, tô torcendo por você, mulher.
  • Não consigo engolir aquele ex-presidente. Gosto dele, de verdade, mas tem alguma coisa errada ali.
  • Aquele discurso do final só faltou contar com a presença do Homem-Aranha e do Capitão América. Que preguiça que eu tenho daquilo, mas assumo que é um tanto quanto interessante de se ver.
  • Bem que poderia ser verdade o controle de armas e a redução de armamento nuclear. Entretanto, considerando que os países só se sentem em paz com armas nas mãos, é praticamente impossível esperar por algo assim.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Tom Kirkman
Quem dera existisse um presidente assim. Talvez algumas coisas fossem diferentes.
Ponto também pra excelente Hannah Wells, que só tem a crescer na série.

Não sabia que este ator era tão bom

+ Melhor episódio: S01E10 (“The Oath”)
O melhor cliffhanger da temporada está aqui. Se você ainda não assistiu e ao ler este pitaco se interessou, você tem sorte porque não vai ter que esperar meses pra saber o que aconteceu. Sorte sua.

Dupla dinâmica

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).