Star Wars

The Mandalorian: 1ª Temporada (2019)

• Pai é quem cria

Sabe quando você começa uma série, vê alguns episódios e simplesmente abandona? Tenho certeza de que isso já aconteceu com todo mundo. Normalmente, o ato de abandonar uma série acontece quando ela é ruim ou simplesmente não faz o nosso estilo. O caso de The Mandalorian é diferente. Eu vi os primeiros episódios em 2019 com meu pai e meus irmãos. Porém, meu pai disse que não queria continuar. Eu e meus irmãos nunca nos reunimos pra assistir juntos depois daquilo, e acabei deixando a série cair no ostracismo. No ano passado, decidi retomá-la junto à minha namorada, começando a temporada tudo de novo. Por algum motivo, a gente parou no quarto episódio e parou de assistir. Finalmente, decidimos continuar de vez neste ano e enfim concluímos a maratona. O pior de tudo é que, desde o início, eu gostei da série. Então por que eu demorei tanto tempo pra finalizar os oito capítulos? Sinceramente, não faço ideia.

 

Sinopse

A história de The Mandalorian se passa poucos anos depois da queda do Império, ou seja, entre a Trilogia Clássica e a Trilogia Atual. Um mandaloriano caçador de recompensas recebe a incumbência de coletar um alvo e levá-lo vivo até o seu contratante. Entretanto, o alvo passa longe de ser o que ele imaginava. Habilidoso e misterioso na mesma medida, o mandaloriano então começa a se envolver em aventuras cada vez mais perigosas, frutos de suas tomadas de decisões.

O Hellboy e o Mandaloriano

Crítica

Quando a gente para pra pensar friamente, sem aquela paixão de fã, Star Wars tem mais coisa mediana do que de qualidade. Bom, pelo menos analisando os filmes principais, sem levar em conta animações, jogos e outras mídias. A primeira trilogia é irretocável, a segunda alterna entre momentos de vergonha alheia e batalhas épicas. Já a terceira teve um começo promissor, mas apresentou um final pior do que Game of Thrones. Além da Trilogia Clássica, o único filme que eu acho realmente acima da média é Rogue One. Agora, posso adicionar The Mandalorian à lista.

Não há como negar que existe um charme em personagens durões que se mostram sensíveis e com sentimento paternal. Não é um artifício novo na ficção, vamos combinar, mas funciona demais. Wolverine e X-23 em Logan, Joel e Ellie em The Last of Us, Geralt e Ciri em The Witcher são alguns dos exemplos. Em The Mandalorian, acontece algo semelhante. Pode não ser extremamente original, mas não há como não querer ver mais da relação entre um mandaloriano e um mini Yoda.

No entanto, a dinâmica de interações entre os dois personagens está longe de ser a única qualidade da primeira temporada. Outro grande trunfo da série reside em sua narrativa. Ao mesmo tempo em que constrói histórias relativamente independentes uma da outra, em um formato bem episódico, The Mandalorian também consegue conectar as tramas, fazendo com que haja um senso de unidade entre os capítulos. Com esse formato, o universo de Star Wars se expande além do óbvio, sem ficar excessivamente estagnado em fillers, mas deixando espaço para enredos fechadinhos.

Uma das maiores críticas que eu tenho a Star Wars é se tratar de um universo infinito, mas que só consegue abordar Império, República, Skywalkers e a Força. Pra um mundo tão gigantesco, isso é pensar pequeno demais. E é aí que eu faço mais um elogio a The Mandalorian. Embora tenha um pano de fundo familiar, mostrando a decadência pós-Império e a transição de poderes políticos, esse não é o enfoque. O ponto principal é mais contido e intimista, com destaque para a construção dos personagens expostos em tela, sobretudo o protagonista.

O fato do mandaloriano se manter o tempo todo com o capacete também é algo que me agrada pra caramba. Atualmente, quando alguma estrela de Hollywood é escalada pra viver um personagem que cobre o rosto, o roteiro sempre dá um jeito de tirar essa máscara ou capacete em artes promocionais ou ao longo da própria obra. A equipe de The Mandalorian não possui essa vaidade. Mesmo tendo o incrível Pedro Pascal vivendo o papel central, o personagem se atém aos seus princípios. E, considerando que é um artista com Game of ThronesNarcos e Mulher-Maravilha 1984 no currículo, é algo de se admirar.

Infelizmente, a primeira temporada escorrega logo em seus dois últimos episódios. Pra mim, o roteiro de ambos foram os mais fracos, com soluções rápidas e fáceis e escolhas óbvias. Uma prova disso é o quanto a fórmula Star Wars ficou escancarada. Praticamente toda obra dessa franquia precisa ter um trio, além de figuras fofas como R2-D2 e BB-8 e droides socialmente estranhos como C-3PO e IG-11. A resolução dos problemas também foi meio lugar comum, e o uso do sacrifício como recurso ficou bastante desperdiçado.

Quando a gente ainda pensava que essa atriz era uma pessoa legal

Veredito

A primeira temporada de The Mandalorian é surpreendente. A história faz bom uso dos elementos de Star Wars, embora eventualmente caia em algumas repetições da franquia. A narrativa é gostosa de acompanhar, e o carisma dos personagens deixa a experiência ainda mais divertida. A série conta com a dose perfeita de seriedade e humor, com momentos de drama e alívio cômico, e sabe ser interessante tanto nos arcos paralelos quanto na trama principal. As cenas de luta são empolgantes, aliadas a uma trilha sonora competente e um estilo western funcional. O panorama de queda do Império também fornece situações e cenários bem específicos, dando uma boa dose de frescor a uma saga que frequentemente é menos ousada do que deveria. Nota final: 4,1/5.

Uma asari orelhuda, o Diabo de Tenacious D, um careca qualquer e o Arraia-Negra

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • O Mando encontrando o berço com o Baby Yoda lá dentro e esticando o dedo pra tocar a criança foi um dos momentos mais emblemáticos que eu já vi em Star Wars. E sim, eu caí direitinho na pegadinha do “alvo com 50 anos de idade”. Na época em que vi o primeiro episódio, a febre do Baby Yoda ainda não tinha tomado conta, então eu realmente não sabia qual seria o tal alvo. Hoje já deve ser mais difícil começar a ver a série sem ter essa noção.
  • Foi sensacional ver que, depois do Mando quase morrer pra matar aquele bichão lá e pegar os seus ovos, o propósito dos jawas era de simplesmente comer o recheio. Essencialmente, o Mando agiu como um coelhinho da Páscoa.
  • Aproveitando o gancho, o Baby Yoda usando seus poderes de jedi é sempre ótimo. A primeira vez foi a mais marcante, mas, quando isso acontece no último episódio, também é espetacular. E ele caindo sentado pra trás, cansado, após usar seus poderes, está no Top 2 de coisas mais fofinhas de todos os tempos. E não ocupa o segundo lugar.
  • Ok que a Fennec Shand manipulando o Toro Calican pra ele trair o Mando era algo meio previsível, mas gostei da reviravolta dele matando-a pra coletar o prêmio sozinho. E fico pensando: será que, se o Calican tivesse conseguido capturar o Mando, teria voltado pra buscar o corpo da Fennec e chegar com uma glória dupla à Guilda?
  • Às vezes no silêncio da noite, fico imaginando quem teria vencido a queda de braço entre Mando e Cara Dune.
  • Passei o sexto episódio inteiro tentando lembrar de onde eu conhecia a atriz da Xi’an, e só nos créditos percebi que era a Natalia Tena, a Tonks de Harry Potter e a Osha de Game of Thrones. Sobre o capítulo em si, achei a galera meio ingênua em tentar prender o Mando em vez de matá-lo. E jurei que o Mando tinha matado o Burg ao fechar a porta na sua cabeça; toda aquela sequência de luta foi muito boa. Acabou que o cara ficou só com enxaqueca mesmo.
  • Eu sabia que em algum momento o Mando mostraria o seu rosto, e acho que devo começar a chamá-lo de Din Djarin daqui pra frente. Só não fiz isso no pitaco porque é meio que um spoiler, né. De qualquer forma, sabia que ele mostraria seu rosto em alguma cena, mas pensei que talvez isso só fosse acontecer na segunda temporada. Até aqui, ele segue sem ter mostrado seu rosto pra nenhum ser vivo desde que passou a seguir o credo. Este é o Caminho.
  • Fiquei tristão com a morte do Kuill, e tenho dito. Ainda nutri esperanças de que ele tivesse sobrevivido ao golpe dos malucos lá, mas acabou que eu estava errado. Pra piorar, os dois stormtroopers ainda ficaram agredindo o Baby Yoda, ainda bem que tiveram um destino merecido. E, já que eu mencionei stormtroopers, sigo sem conseguir entender pra que diabos servem as suas armaduras se um único tiro já as ultrapassa. Bem mais fácil utilizar uma roupa mais leve então, pra pelo menos dar mobilidade.
  • IG-11 se sacrificando foi um negócio previsível, e que sinceramente não me causou muita emoção. A gente literalmente conhecia o personagem há um episódio, e a sua morte pareceu gerar mais comoção do que o falecimento do Kuill, o que achei meio decepcionante. E, pra completar, não gostei muito do Din Djarin tentando se sacrificar toda hora pra salvar a galera. Sei que até pode fazer sentido querer uma morte digna, mas ele vivo seria muito mais útil na tarefa de proteger o Baby Yoda. Fez parecer que desejava se livrar da responsabilidade ou sei lá.
  • Moff Gideon é um vilão que ainda não disse a que veio, na moral. O ator é fera, sem dúvidas, mas como antagonista de The Mandalorian ainda não me pegou. O trio formado por Din Djarin, Cara Dune e Greef Karga nem sequer olhar os escombros pra checar se o homem realmente tinha morrido também me irritou um pouco, mas beleza.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Mando
O protagonista é assertivo, combatente, reservado, sensível e resignado, tudo ao mesmo tempo. A cada episódio, ficamos querendo saber mais a respeito dele. A cereja do bolo é a atuação de Pedro Pascal que, mesmo sem mostrar o rosto, consegue transmitir perfeitamente as expressões do personagem. Naturalmente, Baby Yoda também rouba a cena.

Imagina o feed do Instagram dele, sempre com a mesma cara

+ Melhor episódio: S01E03 (“The Sin”)
Em questão de conjunto, este capítulo preparou de vez o terreno pra temporada, aplicando empolgação e evolução de personagens.

Há muito tempo, numa galáxia de muita, muita fofura

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).