Drama

The Bear: 2ª Temporada (2023)

the bear 2

• Cada segundo importa

Todo mundo tem medo de alguma coisa. Alguns temem aranhas, outros ficam apavorados com o conceito da morte, mas eu atualmente tenho uma reserva grande com algo não muito comum: tenho medo de quando uma série boa é renovada. Talvez seja por causa dos inúmeros traumas de produções que não sabem a hora de parar e espremem até a última gota de um conteúdo que não tem mais nada a oferecer. Portanto, fui assistir à segunda temporada de The Bear com um certo receio de que a série tivesse se tornado repetitiva ou sido prejudicada com uma qualidade inferior à sua antecessora. Ainda bem que eu me enganei.

 

Sinopse

Depois de uma jornada atribulada e recheada de obstáculos, o The Beef foi extinto para dar lugar a um novo estabelecimento, com o nome de The Bear. O problema é que não é tão simples assim abrir um restaurante. Não é só comprar umas mesas, cadeiras, utensílios de cozinha e elaborar um menu. Pra falar a verdade, isso por si só já seria mais do que complicado. No entanto, a situação piora quando se torna necessário conseguir alvarás de bombeiros, resolver problemas elétricos e de encanamento, contratar novos funcionários e incentivar os antigos a embarcar na nova proposta. Mais um desafio gigantesco para Carmy, Sydney e companhia.

Adorei a decoração do lugar!

Crítica

A primeira temporada de The Bear conquistou a minha atenção desde o início. A segunda, por outro lado, não conseguiu exercer o mesmo efeito, o que aumentou o meu medo de que talvez o roteiro não estivesse tão inspirado desta vez. Os três primeiros episódios são bons, mas sabe quando você fica com aquela sensação de que tá faltando alguma coisa? A minha impressão era de que a série estava ciente de que não podia fazer simplesmente o que já havia sido realizado antes, e tampouco sabia como resolver com esse dilema.

Porém, a partir do quarto episódio, a história se encaixa e a série caminha a passos largos rumo a um conjunto de extrema qualidade. A começar pelo elenco, que não tem como não ser citado. Os intérpretes “originais” da série já são bons, como Jeremy Allen White (Carmy), Ayo Edebiri (Sydney) e Ebon Moss-Bachrach (Richie). Pra deixar tudo ainda melhor, The Bear investe em atores e atrizes convidados, e o nível chega à estratosfera. Estou falando de nomes como Jamie Lee Curtis, Will Poulter, Olivia Colman, John Mulaney, Sarah Paulson, Bob Odenkirk e outros.

É importante dizer que não adianta nada você ter um elenco estrelado se não sabe o que fazer com ele. Definitivamente, não é o caso. Os diálogos são hipnotizantes, a fotografia é agonizante e as interpretações são cheias de nuances, em meio a um roteiro detalhista e que não deixa ponto sem nó. Além disso, a história avança de modo a deixar os acontecimentos cada vez mais imprevisíveis e alucinantes.

Aliás, eu também fico feliz pelo fato de que The Bear não se deixou empolgar pelos próprios méritos. A série tem plena consciência de que brilha quando insere cenas de pressão e estresse absolutos, mas não tenta focar apenas nisso. Praticamente todos os personagens (os principais, pelo menos) ganham mais tempo de tela e desenvolvimento, incluindo episódios quase inteiros dedicados a cada um deles. O fortalecimento desses elementos deixa a obra na beira da perfeição, deixando difícil a tarefa de encontrar defeitos significativos.

O desfecho da segunda temporada, contudo, é inferior à primeira. Pode ser puramente gosto pessoal, mas eu não curto muito temporadas que deixam múltiplos ganchos em aberto para as histórias futuras. Eu gosto quando uma temporada basta por si só, deixando somente algumas pontas soltas que podem render continuidade, mas que não necessariamente precisam disso. O final do primeiro ano de The Bear é fechadinho, dando chance pra gente imaginar as repercussões da abertura de um novo restaurante. O final do segundo ano, por sua vez, é aberto, eliminando o sentimento de resolução e deixando bem claro que a obra voltará a tratar dos mesmos temas na temporada seguinte.

A aprendiz e o mestre

Veredito

Em questão de excelência em séries de televisão, The Bear está começando a se colocar entre as gigantes. Caso alguém tenha pensado que o sucesso da primeira temporada foi puro acaso, a segunda chegou para provar que os responsáveis pelos méritos de antes sabem muito bem o que estão fazendo. A sequência da história de um restaurante semifalido de Chicago não decepciona, muito pelo contrário. O elenco é estelar, a trama caminha de um jeito organizadamente caótico e os diálogos são acelerados e cativantes. Em comparação à primeira temporada, a segunda é um pouco mais irregular, mas possui picos de qualidade maiores, sustentando o alto nível estabelecido. Nota final: 4,7/5.

Aplausos para esta série maravilhosa

 

>> 1ª Temporada de The Bear

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Quase todos os atores convidados fizeram um excelente trabalho. Talvez eu só não tenha curtido tanto a Sarah Paulson, porque acho que poderiam tê-la aproveitado melhor. Todos os outros eu adorei. E é engraçado pensar que a atuação de Jamie Lee Curtis como a mãe instável dos Berzatto foi melhor do que a interpretação dela mesma em Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo, que lhe rendeu um Oscar.
  • E, já que estamos falando desse episódio, é interessante observar como saúde mental (ou a falta dela) gera um efeito cascata. Os problemas da Donna afetaram todos os seus três filhos. O Michael tinha depressão e tirou a própria vida. O Carmen tem ataques de pânico e ansiedade. Já a Natalie possui uma certa insegurança e ânsia por cuidar demais das pessoas, esquecendo-se de si mesma.
  • Continuando em um tópico semelhante, que sequência absurda aquela na ceia de Natal. O Michael ameaçando aquele canalha do Lee com um garfo, a Donna invadindo a sala com um maldito carro, aquele relógio acionando o alarme sempre que um prato ficava pronto… e pra coroar, uma mulher grávida no andar de cima. Isso é que é uma família desajustada e tóxica.
  • A despeito de todas as chatices do Richie, é impossível não ficar feliz pelo homem que ele se tornou. Sim, eu não sou idiota, eu sei que é uma ficção, mas vocês também sentiram orgulho dos personagens? Aconteceu muito comigo, quando vi o Richie encontrando seu propósito e assumindo o controle. Também vale pro Marcus arrasando nos doces, a Tina se tornando uma pessoa agradável e a Sydney espantando as dúvidas a respeito da própria capacidade.
  • Uma outra coisa que eu adoro em The Bear é como a série consegue fugir de cenários óbvios de romance. Qualquer outra obra investiria pesado em um caso de amor entre Carmy e Sydney. Fico grato por não terem feito isso. Nem todo homem e mulher que ocupam postos de protagonistas precisam ficar juntos. O Marcus com a Sydney talvez combine, mas não é absurdo pensar que aquilo não vai dar certo, até porque vimos as repercussões da cantada do doceiro.
  • O que vocês acharam da Claire? Eu admito que até agora não tenho uma opinião 100% formada. Não a acho desagradável nem nada, mas possivelmente um pouco… rasa? Como se fosse a representação da “mulher ideal”, aceitando todos os problemas do homem sem questionar. Não sei se vou sentir falta dela caso o término com o Carmy seja definitivo.
  • Fico pensando se na próxima temporada vão abordar um pouco mais os personagens do Ebra e do Sweeps. O Ebra até ganhou um pequeno espaço, mas ambos ficaram muito de lado. Até o Neil e o Tio Jimmy foram mais desenvolvidos, e ambos nem fazem parte efetivamente da cozinha.
  • Apesar do final ter ficado meio em aberto, não consigo teorizar sobre o que exatamente será a terceira temporada. Não sei se ainda tem muito espaço pra tentar coisas diferentes na série. A primeira focou na decadência do restaurante. A segunda concentrou-se na revitalização. Só consigo pensar que a terceira será aquela em que haverá a consolidação, mas e depois? Ah, quer saber, eu confio nos roteiristas, então vou deixá-los fazer o trabalho deles.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Richard “Richie” Jerimovich
Olha, o Richie esteve bem apagado na primeira parte da temporada, é um fato. Entretanto, quando os holofotes se viraram pra ele, não teve pra ninguém. O cara roubou a cena totalmente.

Nada mais apetitoso do que um garfo, né

+ Melhor episódio: S02E06 (“Fishes”)
Lembra daquele episódio da primeira temporada em que o The Beef começa a receber dezenas de pedidos, levando a uma situação de tensão absoluta? A ideia de estresse volta a ser trazida à tona em um especial de Natal. Destaque também para o episódio 7, que contou com um impecável desenvolvimento de personagem.

Rezando pro Michael Myers ceifar toda a família

+ Maior evolução: Natalie “Sugar” Berzatto
Um dos grandes acertos da temporada foi dar mais espaço pra Natalie. Se não fosse pela ascensão meteórica do Richie nos episódios finais, Natalie teria sido a Melhor Personagem.

You are my candy girl ♫

+ Mais subestimado: Marcus Brooks
A temporada começa com ele, um dos melhores episódios (o quarto), que funciona como ponto de virada da história, é focado nele, e a sua aura de gentileza é por vezes pouco valorizada. Marcus foi um dos vários destaques positivos, assim como Tina.

Adam Warlock fazendo uma vitamina de abacate é algo que eu não esperava ver

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).