• Chegando a lugar nenhum
Round 6 tem uma trajetória bem parecida com La Casa de Papel. Essas séries tiveram temporadas iniciais que concluíram bem a história, por mais que tenham deixado pontos abertos. Por pura ganância, a dona Netflix tomou a decisão de dar prosseguimento às tramas, mesmo sem total necessidade, mas pelo menos conseguiu entregar uma boa temporada posterior em ambas. No entanto, nas temporadas de encerramento, as duas produções sofreram com decisões truncadas e um desfecho no mínimo questionável.
Sinopse
Depois de ver o amigo ser morto na sua frente, Gi-hun entrega os pontos e decide não tentar mais lutar contra o sistema. O jogo sanguinário continua e a quantidade de jogadores vai diminuindo cada vez mais, até que um acontecimento inesperado renova as forças do protagonista e reacende o seu instinto de sobrevivência e proteção.

Crítica
Eu não botava fé na 2ª temporada de Round 6, e fui agradavelmente surpreendido. Embora eu não tenha gostado do fato de ela ter sido finalizada com um gancho gigantesco, as projeções para a 3ª temporada eram boas, tendo em vista que a série não tinha dado a entender que cairia o nível de qualidade. Porém, isso infelizmente aconteceu.
Uma das coisas que mais me desconectaram da história tem a ver com os efeitos visuais, e precisarei soltar um pequeno spoiler aqui. Se não quiser saber, pule pro próximo parágrafo. Por algum motivo, os produtores acharam de bom tom fazer um bebê de computação gráfica em vez de simplesmente colocar em cena um bebê humano normal. Tudo bem que o bebê não é tão horroroso quanto a Renesmee da Saga Crepúsculo, mas dá pra ver que é digital, o que faz com que qualquer tipo de conexão com a criança se perca em meio à bizarrice. Pra piorar, a câmera ainda dá frequentes closes no bebê, como se pra esfregar na nossa cara. Não satisfeita, a equipe por trás da produção fez a mesma coisa com um cachorro. Pra que usar um animal de verdade quando se pode inventar moda, né?
Esse pra mim acabou sendo um problemão, mas daria até pra perdoar se fosse o único – problema é que não é. Pelo menos metade dos arcos narrativos é mal trabalhada ou não leva a lugar nenhum, e a conclusão é pra lá de anti-climática. Eu vi muita gente defendendo o final e alegando que as reclamações eram por ele não ser feliz, mas isso não procede. O final é insatisfatório, não tem pra onde correr. Pior do que isso, ele é enganoso, dando a impressão de que Round 6 não passou de um prólogo gourmet pra uma infinidade de spin-offs com o intuito de manter a marca viva e lucrar no processo.
Adotando um tom um pouco mais light na minha crítica, a 3ª temporada de Round 6 não é um desastre completo. Assim como as anteriores, ela tem uma habilidade única de desenvolver um ritmo viciante e que faz a gente maratonar vários episódios, um atrás do outro, sem nem perceber o tempo passando. A dinâmica de reality show ajuda a manter o interesse sempre vivo, e alguns personagens realmente são muito bons. É uma pena que não tenham sido melhor utilizados.

Veredito
A 3ª temporada de Round 6 é a prova perfeita de que as séries precisam aprender a acabar em alta, em vez de serem espremidas até não sobrar mais nada. Finais abertos são diferentes de finais inacabados; a 1ª temporada teve um final aberto competente, e não precisava ter tido continuidade. Já a 3ª teve um final inacabado, com o roteiro dando voltas e andando em círculos, sem saber o que fazer com determinados personagens e sendo burocrático ao cumprir algumas exigências dos chefões que financiam a produção. É uma temporada de bons momentos, mas que acaba se tornando decepcionante.

Melhor personagem: Jang Geum-ja
Gi-hun tem um final de temporada muito bom, mas passa metade dela apagado e sem brilho. Pra mim, a alma deste último conjunto de episódios é Jang Geum-ja, número 149, por mais que tenha tido um tempo de tela bem menor. Destaque também pra Cho Hyun-ju.

Melhor episódio: S03E02 (“The Starry Night”)
Até aqui, a temporada tinha começado meio turbulenta, mas rumava por um ótimo caminho. Depois deste episódio, aos poucos a qualidade foi caindo. Portanto, é o último grande capítulo de Round 6.

Maior decepção: Hwang Jun-ho
Muito tempo investido pra pouco resultado. É tudo o que eu tenho a dizer sobre a jornada deste personagem. Se não estivesse na série, não faria nenhuma falta.

CURIOSIDADES
- Com o lançamento da 3ª temporada, Round 6 se tornou a primeira série da história da Netflix a entrar no Top 1 da plataforma em todos os mais de 190 países em que o serviço está disponível.
- O criador da série revelou que o final sofreu uma “mudança drástica” e que a conclusão original seria bem diferente; Gi-hun faria uma última escolha exatamente oposta à decisão que tomou.
- O espaço entre o lançamento da 1ª e da 2ª temporadas de Round 6 foi de três anos, enquanto o espaço entre a 2ª e a 3ª foi de apenas seis meses. Isso porque a 2ª e a 3ª foram filmadas uma logo depois da outra.
- O ator Lee Byung-hun, que interpreta o Líder, é 21 anos mais velho do que Wi Ha-joon, que interpreta o detetive. Ambos são irmãos na série, o que configura uma diferença de idade bastante incomum.
FICHA TÉCNICA
Nome original: 오징어 게임 (Ojing-eo Geim)
Duração: 6 episódios
País: Coreia do Sul
Criador: Hwang Dong-hyuk
Diretor: Hwang Dong-hyuk
Elenco principal: Lee Jung-jae, Lee Byung-hun, Wi Ha-joon, Im Si-wan, Jo Yu-ri, Kang Ae-shim, Park Gyu-young, Lee Jin-wook, Oh Dal-su
>> Crítica da 1ª Temporada de Round 6
>> Crítica da 2ª Temporada de Round 6
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
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OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO
- Eu sinceramente não tive problemas com as mortes da temporada. Achei que foi bem construído a 120 morrendo ao se sacrificar por outras pessoas, depois de ter votado pela continuidade do jogo lá atrás; a 149 tirando a própria vida após matar o filho para salvar uma criança; a 222 simplesmente não conseguindo continuar; a delirante 144 sendo assassinada por outro cara delirante; e o 456 abdicando da vitória para salvar um bebê. No papel, praticamente todas as mortes têm uma razão narrativa, mas várias delas aconteceram de maneira clichê. Por exemplo, alguns segundos antes da 120 morrer, já dava pra saber que seria atingida pelas costas só pelo enquadramento da cena. A 222 poderia pelo menos ter tentado pular de um pé só pra não deixar a criança nas mãos de um estranho. É disso que eu tô falando.
- Já que eu toquei no assunto, achei estranho ninguém ter pelo menos TENTADO ir por baixo da corda, se segurando na amurada da passarela. As regras não proibiam isso explicitamente. Por mais que desse errado, a série precisava ter dado pelo menos uma explicação visual do porquê. Essa ideia não ter ocorrido a ninguém me soou meio idiota.
- Que desperdício a maneira como utilizaram o jogador 388 nesta temporada. Ele era um personagem mó legal na temporada anterior e, por mais que tenha vacilado e mentido sobre ser um soldado, foi reduzido a um qualquer e teve um fim meio capenga nas mãos do Gi-hun. Merecia mais.
- Vou falar uma verdade que nem todo mundo tem coragem de dizer: eu estava torcendo mais pelos personagens adultos do que pelo bebê. Não me entendam mal, mas não consegui me importar com uma criança digital. Se fosse uma pessoa DE VERDADE, acho que minha visão sobre os acontecimentos teria sido radicalmente diferente. Mas que bom que a ChatGPToy sobreviveu no final. Só achei nada a ver o detetive ter ficado com ela, teria feito muito mais sentido a 011 tê-la adotado. E sobre o detetive, o cara ficou rodando e rodando por dias pra conseguir salvar uma única pessoa, causar a morte de várias no processo e não capturar nenhum dos envolvidos. Parabéns!
- Que anticlimático o encontro entre o 456 e o Líder, hein? Depois de toda a tensão da temporada passada, achei a cena dos dois cara a cara tão sem graça. Era melhor ele ter se revelado no último episódio da 2ª, teria tido bem mais impacto.
- Apesar de ter achado legal a aparição da atriz Cate Blanchett, me senti bastante enganado pela série ter dado a entender que os jogos continuarão em outro lugar. A ideia não é necessariamente ruim, pois serviria pra mostrar o pessimismo da perpetuação do mal, mas ficou claramente parecendo uma postura caça-níquel da Netflix. Ao menos parece que a produção vai ser comandada pelo diretor David Fincher, então tem a minha curiosidade.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?