• Mentirosa patológica
Eu e minha namorada começamos esta série de maneira muito despretensiosa. Logo depois de terminar Adolescência, ficamos zapeando pelo catálogo da Netflix e nos deparamos com Vinagre de Maçã. A capa chamou a atenção da minha namorada, e resolvemos ver a prévia da plataforma. Lembro-me de pensar “ah, é a atriz que vai fazer a Abby em The Last of Us“. A história parecia interessante, então demos play logo de uma vez, fugindo um pouco do nosso jeito planejado de assistir às coisas. E valeu a pena ter dado essa chance.
Sinopse
Belle Gibson quer atenção. Ignorada, com uma vida social inexistente, um filho pra cuidar e um parceiro que não lhe dá a mínima, ela decide escapar daquela realidade através de uma mentira. E não é uma mentira qualquer – Belle inventa que tem câncer no cérebro e investe em uma conta no Instagram e em um aplicativo de celular. A estratégia funciona a curto prazo, mas logo passa a afetar a vida de quem realmente sofre com a maldita doença.

Crítica
É engraçado como as coisas têm impactos diferentes nas pessoas. Apesar de ter gostado de Vinagre de Maçã desde o início, algo estava me incomodando: a edição. Não muito tempo depois, minha namorada comentou comigo que um dos elementos que mais a agradou foi… a edição.
Vinagre de Maçã é montada de um jeito bem peculiar. Pra fazer jus à mente bagunçada, pra dizer o mínimo, de sua protagonista, a série trabalha com uma edição bastante caótica. Diversas músicas diferentes tocam a todo momento, os personagens quebram frequentemente a quarta parede, sobretudo pra reforçar que esta é (ou não é, dependendo de quem diz) uma história real. Eu acho legal a ideia, mas em determinadas partes eu senti que estava assistindo a algo que parecia se esforçar demais pra ser autêntico. Sim, é exatamente o que Belle Gibson faz, e entendo a escolha criativa. Pro meu gosto pessoal, porém, não funcionou 100% do tempo.
Por se tratar de uma minissérie, Vinagre de Maçã pode se dar ao luxo de ir direto ao ponto, mas nem sempre o faz. Ao contrário de Inventando Anna, que também lidava com uma mentirosa compulsiva que subiu na vida, mas tinha um viés mais “imparcial” e jornalístico, esta produção aqui perde tempo desnecessário com algumas narrativas com pouco a dizer. Entre elas, destaco o arco de Lucy, que come muito tempo de tela e a própria série não parece saber o que fazer com ela.
Embora tenha alguns defeitos técnicos, Vinagre de Maçã é bem divertida. A cada acontecimento, eu fui ficando mais chocado e reflexivo sobre o alcance do poder das redes sociais e a capacidade de um ser humano enganar tanta gente. Eu não me cansei em nenhum momento da série e o final conclui de maneira perfeita tudo o que havia sido feito até ali.
No campo das atuações, Kaitlyn Dever não tem um roteiro espetacular a seu dispor, mas convence como a protagonista. Alycia Debnam-Carey faz um ótimo trabalho ao nos causar sentimentos conflitantes por causa da natureza de suas convicções. A personagem de Aisha Dee me incomodou um pouquinho no começo, mas cresce com o passar dos episódios e tem uma trajetória fechadinha.

Veredito
Vinagre de Maçã conta uma história real de como as pessoas podem ser influenciadas e enganadas por alguém disposto o suficiente para ir até o fim com sua mentira. O tema do câncer é pesado e poderia exigir um tom mais sóbrio, mas a minissérie trata tudo a partir de uma dose gigantesca de ironia, que simula os pensamentos desencontrados da infame Belle Gibson. É uma produção divertida e fácil de assistir, que vai fazer você dar risada ao mesmo tempo em que sente revolta.

+ Melhor personagem: Belle Gibson
É impossível não se sentir impressionado, mesmo que negativamente, com os feitos desta mulher. E, assim como eu disse na crítica, Kaitlyn Dever captura muito bem essa imprevisibilidade da personagem.

+ Melhor episódio: E05 (“Casseroles”)
Em meio a uma narrativa tão descontraída, este episódio dá a pitada de drama necessária pra fazer a gente entender ainda mais a gravidade de toda a situação.

CURIOSIDADES
- A série é baseada no livro “The Woman Who Fooled The World” (“A Mulher que Enganou o Mundo”, em tradução livre), dos jornalistas Beau Donelly e Nick Toscano.
- Apesar da história ser baseada em fatos, a personagem de Milla não existe na vida real. Ela representa “uma junção de influenciadores de bem-estar da época”.
- A conta original de Belle Gibson no instagram, @healing_belle, segue ativa na plataforma, mas sem nenhuma publicação. A página tinha 129 mil seguidores no momento desta postagem.
- A atriz Kaitlyn Dever aceitou o papel de Belle Gibson para prestar homenagem a sua mãe, que morreu de câncer de mama em 2024.
FICHA TÉCNICA
Nome original: Apple Cider Vinegar
Duração: 6 episódios
País: Austrália
Criadora: Samantha Strauss
Diretor: Jeffrey Walker
Elenco principal: Kaitlyn Dever, Alycia Debnam-Carey, Aisha Dee, Tilda Cobham-Hervey, Mark Coles Smith, Ashley Zukerman
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO
- Aquele momento em que a Belle finge convulsão no aniversário do filho me deu dor física de assistir, sério. Como uma pessoa pode ser capaz de fazer aquilo tudo? Fico pensando no dano irreparável na cabeça do filho, bicho…
- Me diga, Sonic, me diga qual a verdadeira idade de Belle Gibson. Pelo que eu entendi, ela tinha menos de 18 anos quando deu à luz na série, né? E provavelmente também era menor de idade quando começou a ficar com o Clive, já que se recusou a responder quantos anos tinha quando ele perguntou.
- Como a desinformação é algo perigoso, cara. Eu sei que o que aconteceu com a Milla foi trágico, mas isso não a torna menos vilã. Ela pode não ter sido maldosa como a Belle, que fez tudo o que fez por pura convicção, mas ainda assim a Milla influenciou milhares de pessoas a acreditar que uma bobagem qualquer seria mais eficaz do que um tratamento com comprovação científica. Eu fiquei com bastante pena dela no final, ainda mais quando a mãe morreu, mas infelizmente ela se enganou e colocou a vida de outros em risco. Imagina o pai, que perdeu a mãe e a filha uma atrás da outra, e que ambas poderiam ter sobrevivido com tratamento adequado?
- Que preguiça me deu a história da Lucy, que a cada hora acreditava em alguém diferente, menos na CIÊNCIA. Por outro lado, eu achei muito bem bolado o momento em que a mulher lá no Peru faz todo um discursinho e depois vem com “vai querer pagar em dólares australianos?”. E também gostei do final da personagem, que se reconciliou com o marido jornalista.
- Ok, eu ri muito quando a Belle apareceu na tela, na última cena, falando pra gente pesquisar no Google o que tinha acontecido com a Belle da vida real. Eu me senti quase invadido, mas de um jeito engraçado. Encerrou a série da melhor maneira possível, nunca tinha visto algo do tipo.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?