Coleção Tarantino, Faroeste

LelecoTarantino #07 – Django Livre (2012)

• Olho de Tigre

Sabe o que é tão bom quanto assistir nazistas se ferrando? Assistir escravistas se ferrando. Depois de seu trabalho sangrento em Bastardos Inglórios, Tarantino retorna para contar a história de Django, um escravo do sul dos Estados Unidos em meados do século XIX. Uma vez mais, o diretor insiste no tema de vingança, alicerce de pelo menos seis de seus sete filmes. Com uma fórmula que ele sabe bem que deu certo, sua criatividade desembocou em Django Livre, com as presenças de Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington e, claro, Samuel L. Jackson entre os papéis principais, além de alguns outros atores conhecidos.

 

Sinopse

Django tá fodido. Após tentar fugir da fazenda escravista em que residia junto de sua esposa, os dois são pegos e separados. Sem esperanças, ele é “resgatado” pelo Dr. King Schultz, um caçador de recompensas alemão que precisa da ajuda de Django pra completar um de seus contratos. A aliança entre os dois ganha força e eles decidem resgatar a esposa do ex-escravo das mãos de Calvin Candie, dono de uma imensa propriedade e amante de lutas até a morte entre seus servos forçados.

Se tivesse Oscar de Melhor Cena, esta possivelmente teria vencido em 2013

Crítica

2h45min de filme. Não precisava disso tudo. Eu não consigo gostar dessa mania que Hollywood tá criando de transformar seus longa-metragens em longuíssima-metragens. A história de Django Livre claramente não caberia em 1h30, mas poderia ter sido condensada em no máximo 2h15 com tranquilidade. Infelizmente, a exagerada duração acaba sendo um defeito, foi me cansando à medida que o tempo passava. O pior problema, na verdade, é o ritmo da obra, que demora muito a alcançar sua premissa central.
Ao contrário dos outros filmes do Tarantino, este não é dividido em capítulos, mas pode ser separado em algumas partes principais. A primeira delas destrincha o crescente companheirismo entre Django e Schultz, e a parceria entre ambos é gostosa de se ver. Os dois atores estão muito bem entrosados, nos aproximam da história. A ressalva está no fato de que esta introdução é esticada até mandar parar. Se o enredo continuasse com aquele foco, aí estaria tudo certo, mas ainda tinha muita coisa pra contar.
Todas as etapas de Django Livre, analisadas separadamente, são praticamente impecáveis. As atuações, a fotografia, a trilha sonora e o roteiro são muito bem executados, mas em conjunto acabam causando um pouco de cansaço. O final é brilhante e deixa um gostinho bom na boca (aliás, acho que todas as conclusões do Tarantino o fazem) e a experiência geral me deixou sorrindo enquanto olhava pra televisão e ouvia as músicas temáticas.

Samuel L. Jackson sendo o Stan Lee dos filmes do Tarantino

Veredito

Do jeito que eu critiquei o ritmo e a duração, pode ter parecido que achei Django Livre a coisa mais maçante dos últimos tempos. Ele é um pouco cansativo sim, mas é proporcionalmente incrível. A construção dos personagens, a trilha sonora e o roteiro inspirado formam o tridente sobre o qual o filme se sustenta com altivez. Não tem como terminá-lo e não ficar com DJAAANGOOOO, OOOOOOOH, DJAAAANGO na cabeça. Não tem como finalizá-lo e não lembrar do protagonista batendo em branco fodido. Não tem como conclui-lo e não aplaudir de pé os senhores Foxx, Waltz, DiCaprio e o restante do competente elenco.

Branco fodido sendo alvejado, 1858, óleo sobre tela

 

>> A Sessão LelecoTarantino começou com Cães de Aluguel…

>> …e logo passou pelo icônico Pulp Fiction!

>> Pela primeira vez, pude acompanhar Jackie Brown,

>> e então conheci a história de Kill Bill, Vol. 1;

>> sua conclusão apenas no Vol. 2.

>> Acompanhei então À Prova de Morte, como nunca tinha visto antes?

>> Bastardos Inglórios tornou-se ícone, assim como seu sucessor:

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Eu sei que é um fato muito conhecido, mas vai que alguém não sabe. A cena em que o Calvin Candie machuca a mão e passa sangue no rosto da Broomhilda foi totalmente improvisada. No roteiro original, nem era pra ele ter se ferido, aquilo aconteceu por acidente. Se repararmos bem, dá pra ver que o DiCaprio dá uma olhadinha rápida pra mão como se tivesse pensado “ih carai, o bagulho tá sangrando”.
  • Mano, o Stephen (personagem do Samuel L. Jackson) era muito fdp, putz. Se não fosse ele, teriam enganado facilmente o Candie. O mais triste é pensar que sempre existiu (e continua existindo) integrantes de alguma minoria que agem contra si mesmos. Uma boa reflexão trazida pelo filme.
  • Que coisa mais bizarra a relação entre o Candie e sua irmã. Aquilo é errado em tantos níveis diferentes.
  • “Você tinha minha curiosidade. Agora, tem minha atenção” permanece como uma das frases mais icônicas do TCU. E não consigo descrever em palavras a minha agonia com a luta de mindingos em que o cara arranca os olhos do outro.
  • Ok, vamo concordar que toda aquela sequência pré-tiroteio e pós-tiroteio foi de tirar o fôlego. Fiquei em êxtase quando o Schultz deu um tiro no peito do Candie, mas logo depois foi arremessado pela escopeta do outro carinha lá, o que me deixou enlutado. Depois disso, Django saiu matando geral e foi lindo demais.
  • E ah, o ator que interpreta o homem que matou Schultz, James Hemar, fez dois papéis no filme. Minha namorada comentou comigo que ele se parecia muito com o cara do começo, que levou um tiro na cabeça. Confirmei depois que de fato é o mesmo ator. O que é bem poético, já que a primeira face que tem sua vida esvaída pelo Schultz na obra é a última face que ele vê antes de morrer.
  • Mais satisfatório que ver o Candie se fodendo foi ver o Billy Crash (Walton Goggins) levando tiro entre as pernas, a irmã do Candie levando um tiro no peito, o Stephen levando duas balas nos joelhos e a casa sendo explodida e queimada até virar cinzas. Bom demais.
  • Outra cena que é muito boa é a do Schultz matando o xerife naquela cidadezinha e mandando chamar o capitão. Eu veria facilmente uma história totalmente centrada na parceria dele com o Django, vestido de aristocrata.
  • Vi no app “letterboxd” que o Tarantino deve ter alguma tara pela morte, pois em todo filme que ele aparece acaba morrendo. Em Django Livre, ele literalmente explodiu e sumiu no ar.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Django
Durante a introdução, King Schultz talvez tenha sido melhor. Porém, quando o personagem principal percebe o poder que maneja e a oportunidade de usá-lo, não tem como não torcer por ele.

Seria esta a melhor dupla do Tarantino Cinematic Universe (TCU)?

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).