Ação/Policial, Séries

La Casa de Papel: Parte 4 (2020)

• Rainha das maratonas

Cada série possui uma espécie de força própria. Algumas se sobressaem por conta do enredo ou pelos ricos diálogos. Outras formam sua base primária nos personagens, apostando no carisma dos mesmos e em seu apelo para com o público. Temos também aquelas que desenvolvem suas qualidades a partir da ação, a comédia, o drama, o suspense ou o terror. Até mesmo as séries ruins se destacam em alguma coisa, por menor que seja – como, por exemplo, a premissa. Poucas conseguem se destacar no vício. Não são todas que têm a capacidade de fazer com que, nós, espectadores, grudemos os olhos na tela e maratonemos sem parar. Orphan Black, Stranger Things e Friends se encaixam nesse seleto nicho. Não podemos negar que La Casa de Papel está na mesma prateleira. Adianto que isso não é garantia de série boa, mas que é viciante pra caralho, isso não tem como negar.

 

Sinopse

O céu é o limite pra turma do Professor. Depois de assaltar a Casa da Moeda, a gangue decidiu dominar o Banco Nacional da Espanha. Desta vez, não pela necessidade e vontade de faturar uma boa grana, mas sim por uma causa maior: resgatar Rio das mãos da polícia. Porém, as autoridades estão mais atentas com as peripécias da galera, e a missão é consideravelmente mais difícil. Ainda assim, tudo tava dando relativamente certo até que o Professor foi enganado por Alicia Sierra, a grávida mais sangue frio do planeta, com a falsa informação de que Raquel, ou Lisboa, fora morta com dois tiros. Pra piorar, a Nairóbi levou um tiro (este verdadeiro) enquanto olhava pela janela em direção ao filho. A Parte 4 de La Casa de Papel começa a partir deste ponto, com a turma dentro do banco tentando salvar Nairóbi e lidando com ameaças internas, e o Professor se unindo à Marselha para tentar dar a volta por cima em meio ao luto.

A Turma da Monica

Crítica

La Casa de Papel sempre chamou a atenção por ostentar uma trama ousada e recheada de personagens carismáticos. Nas duas primeiras partes (ou a primeira temporada, se seguirmos o modelo original e não o da Netflix), era difícil decidir de quem a gente gostava mais: Professor, Denver, Berlim, Monica, Tóquio, Nairóbi, Helsinki, Moscou, era tanta coisa boa a ponto de enriquecer o produto final. A conclusão da história foi realizada de maneira perfeita; não precisava de mais nada, nenhuma continuação. Contudo, a Netflix resolveu ser gananciosa e estender a saga dos Bella Ciao um pouco mais. A Parte 3 teve o impacto um pouco menor, como era de se esperar, mas ainda assim foi boa por continuar sendo capaz de nos prender à tela de uma maneira incrível.
Mas isso não foi o suficiente na Parte 4.

O enredo dos novos capítulos de La Casa de Papel é pra lá de conservador. Se considerarmos a continuidade da missão principal de derreter o ouro dentro do banco e sair de lá sãos e salvos, a temporada não andou quase nada. Ela passa a maior parte do tempo enrolando e enrolando e achando que não vamos perceber. Estica arcos desnecessários e força muito a barra, acarretando até mesmo em furos no roteiro. Algumas ações passam a ser questionáveis e quase nenhum personagem brilha de verdade. A série parece ter perdido grande parte do seu charme e teima novamente em não propor uma conclusão.
O que salva a Parte 4 é uma característica notória de La Casa de Papel, a qual rende o título deste pitaco. A facilidade que a produção tem em viciar o telespectador é de tirar o chapéu. Nos três primeiros episódios, confesso que não fiquei capturado, mas a partir daí eu às vezes não conseguia me importar tanto com os defeitos que apareciam ao longo do tempo. Entretanto, eles estão lá e surgem com cada vez mais destaque quando fazemos uma análise fria.

Indo pro Ministério da Magia, foda-se

Veredito

Não é exagero dizer que La Casa de Papel já deu o que tinha que dar. Se tem uma coisa que me deixa irritado e frustrado é série que não sabe a hora de parar, como Supernatural Prison Break. Apesar de ter tido um fim digno após a sua segunda parte, a terceira rendeu bons frutos pois conseguiu extrair o carisma dos personagens, uma trama condizente à proposta original e um nível frenético bem distribuído, mas a Parte 4 abusou demais do tempo de tela e apresentou uma temporada enjoativa e esticada desnecessariamente. Todavia, precisamos dar crédito ao que houve de bom, pois é um excelente entretenimento apesar de ter sacrificado uma fração de sua essência. Nota final: 3,4/5.

Loba na pele de cordeiro

 

>> Crítica das Partes 1 e 2 de La Casa de Papel

>> Crítica da Parte 3 de La Casa de Papel

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Primeiro, quero falar sobre o Gandía. Ele chegou perto de ser o Melhor Personagem pra mim, e só não foi por uma questão muito simples: pra um assassino profissional, ele foi muito incompetente. Vamo lá, o cara conseguiu escapar com o truque da algema (que eu não sei como ele não sabia, considerando sua experiência) e abordou uma Nairóbi inconsciente. Ele poderia tê-la matado de muitas maneiras diferentes, mas tentou sufocá-la, dando margem pra reação da mesma. Em seguida, conseguiu enforcar o Helsinki com maestria, mas em vez de finalizar logo o serviço, resolveu sair dali e dar margem pra que alguém socorresse sua vítima. Isso sem considerar sua aparente imortalidade na cena do tiroteio contra Rio, Denver, Monica e a galera, pois tava levando bala de todos os lados e conseguiu a façanha de não ser atingido. Poderia ter sido o melhor vilão da série, mas foi prejudicado pelo roteiro ruim.
  • A morte da Nairóbi me surpreendeu verdadeiramente. Naquele ponto, eu já tinha aceitado que La Casa de Papel era aquele tipo de série com medo de matar seus personagens, tipo Game of Thrones na última temporada. Isso me decepcionou, mas segui em frente. Quando vi a Nairóbi levando uma bala na cabeça, fiquei chocado. Não esperava que fossem ter coragem. Vai fazer falta.
  • Fiquei sentido pelo Bogotá, apesar de ter pensado que aquela paixão dele veio meio do nada. E o Helsinki então nem se fala, deve ter sido o que mais sentiu. Assim como o Professor, que teria um filho com ela. Aliás, ele chegou a contar pra Raquel?
  • Arturo é um grandessíssimo filho da puta. Quando eu pensava que não podia piorar, ele vai e abusa de uma mulher e tenta abusar outra. Merecia ter morrido na porrada pelas mãos do Denver. Melhor ainda, poderia ter sido metralhado pela Manila, a nova personagem. Aliás, queria que tivesse sido melhor utilizada, sinceramente. Tem potencial.
  • Já que mencionei o Denver no tópico acima, ele ficou chato, mas pelo menos fez sentido com sua personalidade. Sempre foi um cara explosivo, mas o estresse causado pelas adversidades extremas despertou essa característica e o transformou em um legítimo cuzão. Engraçado pensar que ele combina muito mais com a Tóquio e o Rio com a Monica, mas Denver + Monica e Rio + Tóquio acaba sendo mais saudável.
  • Palermo é outro tremendo de um cuzão. Foi um dos principais culpados pela morte da Nairóbi. Pra falar a verdade, quase todo mundo foi, indiretamente ou não. O Palermo libertou o Gandía. O Professor se recusou a eliminar o Gandía antes do assalto. O Rio deixou o Gandía fugir, apesar de eu não julgá-lo por conta do trauma. De qualquer forma, geral tem culpa no cartório.
  • Vocês vão me perdoar, mas por que o Berlim ainda tá aparecendo? Deixa o cara descansar, porra, não tá acrescentando em nada na história. E, sinceramente, tô começando a ficar meio cansado das cantorias de La Casa de Papel.
  • Jurei que o policial Antoñanzas tinha morrido quando pulou da janela e caiu na prancha. Acabou que ele foi uma peça super importante no xadrez do Professor.
  • Se pararmos pra pensar, a temporada pode ser resumida em flashbacks, o Gandía fugindo, a galera brigando entre si, a Nairóbi morrendo, a Raquel sendo resgatada e depois entrando no banco. Aliás, por que faziam tanta questão de colocá-la dentro do banco? Não entendi.
  • A pergunta que fica é: a Sierra vai magicamente se converter ao lado dos assaltantes e se aliar ao Professor, ou vai manter sua honra e derrotar o homem? Saberemos em 2021.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Alicia Sierra
Tem série que me deixa numa verdadeira sinuca de bico com tantos bons personagens, tal qual a própria La Casa de Papel em seus fragmentos iniciais. A Parte 4 também gerou muitas dúvidas em mim neste quesito, mas nivelando-se por baixo. A maioria dos personagens está apagada, apenas com alguns momentos irregulares de brilho. Dito isso, a mais constante foi a Inspetora Alicia Sierra, alguém que mostrou em inúmeras ocasiões poder rivalizar de frente com a mente brilhante do Professor.

Sierra, a inspetora que lhe fierra

+ Melhor episódio: S04E06 (“TKO”)
O acontecimento mais importante da temporada está aqui. Pra falar a verdade, talvez tenha sido o único momento realmente importante da temporada.

LMFAO – Party Rock Anthem

+ Maior evolução: Marselha
O personagem apresentado na Parte 3 não foi nem um pouco explorado lá atrás e aqui também não foi muito, mas o bastante pra que rendesse cenas interessantes dentro da série.

A famosa D.R.

+ Mais subestimado: Helsinki
Este cara precisa ser mais valorizado por La Casa de Papel. É um coadjuvante mais cativante do que muitos protagonistas.

Helsinki é tão subestimado que esta é a imagem na qual ele esteve em mais destaque

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).