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AnáliseRicardo #12 – Um filmaço chamado Anatomia de uma Queda

anatomia de uma queda ricardo

• Em busca do veredito

No começo da faculdade de jornalismo, logo nas primeiras aulas, somos instruídos a saber sobre qual recorte vamos contar uma história, até porque não tem como ser imparcial, certo?

Esse exercício de saber o recorte me acompanha desde esse início de jornalismo e vem me ajudando a entender o que alguns diretores decidem fazer em alguns filmes biográficos, por exemplo.

Só que isso não é uma máxima só do jornalismo e como eu falei do cinema, no filme de hoje isso é usado de uma forma espetacular e eu vou adentrar um pouco nisso a partir de agora.

Com vocês, o espetacular Anatomia de Uma Queda.

Eu tinha uma visão um pouco deturpada dessa obra por conta das minhas expectativas para os filmes do Oscar. Definitivamente eu não queria fazer aquela maratona desesperada e muito menos ficar vendo filmes chatos, com suas tecnicalidades aprimoradíssimas.

Dito isso, fui para Anatomia de Uma Queda com a expectativa baixa, sem esperar me surpreender. Eu só não contava com que esse filme fosse tão bom assim.

E para falar dele, vou selecionar 3 pilares para a crítica. São eles: direção, atuação e montagem.

Samuel Theis e Sandra Hüller

Para começar, eu puxo uma parte técnica que eu tenho familiaridade, que é a montagem.

Lembra de quando eu falei de recorte, logo ali em cima? Pois então, temos aqui o exemplo do que pra mim é a melhor montagem do Oscar 2024. A seleção de cada cena que busca dar o ritmo do longa é uma coisa linda demais.

O melhor exemplo que eu posso te entregar é uma cena de tribunal. Ela começa dando valor para uma imagem de descrição de áudio, depois fala que vai tocar um áudio e aí parte para o vídeo. Mas o trunfo nem está nessa troca rápida de foco e sim no que vem após essa cena, em que o momento principal foi deixado só em áudio, para que nós, espectadores, possamos pensar e tirarmos nossas próprias conclusões do que a gente acabou de ouvir e, parcialmente, ver.

E isso é muito bem orquestrado pela direção da Justine Triet. Desde o momento inicial, em que ela decide contar sobre o encontro da protagonista com uma aluna, Justine Triet constrói um mistério de forma que antecipe o que nós estamos vivendo em nossa sociedade. Não à toa o filme decide trabalhar a visão de julgamento de uma forma bastante pilantra.

Ele nos entrega o que achamos que precisamos para ligar os pontos e logo depois, ele vem cá e dá uma mudada pequena que nos deixa pensando no que foi dito, no que foi feito… Esse sentimento de estar jogando um xadrez com o filme é o que mais me deixa animado quando vou pensar em uma obra cinematográfica. O filme não nos limita a uma explicação fácil e simples, não nos trata como meros espectadores, ele nos envolve a ponto de chegar nesses momentos finais do longa sabendo que já temos o nosso veredito e ainda assim abrir um espaço para uma possível pulga atrás da orelha.

Em outras palavras, o filme nos entrega tudo para julgarmos e termos nosso veredito, mas na última cena ele ainda pergunta se isso tudo foi o suficiente ou se isso tudo que vimos era realmente toda a verdade, toda a história.

Mas nós poderíamos ter um roteiro e montagem incrível, como temos aqui, mas se a atriz principal não fosse tão boa para pegar essas nuances e estruturar sua personagem com esse mistério, muito seria perdido e poderia me tirar do filme. Só que aqui a gente tinha a Sandra Hüller em um dos melhores papéis da vida dela.

Ela traz aquela atuação intimista, mais contida e com bastantes camadas. Uma mãe de um garoto com problemas visuais, uma escritora de sucesso, uma alemã que mora em outro país… são essas camadas que se põem para a personagem da Sandra Hüller e ela faz com que sua personagem cresça a cada momento que o filme decide destacar um desses aspectos. Ela só não é a minha atuação favorita desse Oscar porque teve uma tal de Emma Stone aí.

Anatomia de Uma Queda é instigante e consegue deixar a gente reflexivo sobre as meias verdades que permeiam nossa sociedade. Poderosíssimo e com um roteiro e direção afiadíssimo, sem falar na Sandra Hüller, né?

Então já coloque na sua lista e assista o quanto antes esse filmaço chamado Anatomia de Uma Queda.

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).