• Um dia é da caça, outro do caçador
Enquanto eu procurava alguns dados pra utilizar neste pitaco, deparei-me com algo curioso: o gráfico contendo o índice de audiência de Blindspot durante toda a sua existência. De longe, o episódio com a maior quantidade de gente assistindo foi o primeiro, com mais de 10 milhões de pessoas. Depois disso, a audiência foi apenas caindo, exceto por algumas exceções como o primeiro capítulo da segunda temporada, na marca de 7 milhões de telespectadores. Para termos uma ideia, o episódio final desta quinta e última temporada teve uma audiência de 1.7 milhões, um número muito baixo em comparação à maneira como a série começou. Por isso, não dá nem pra reclamar com a NBC pelo fato de a série ter sido finalizada, mesmo se você tiver a opinião de que foi um cancelamento injusto. Se os números de audiência estavam só caindo, era hora de concluir a história de uma vez.
Sinopse
A nossa equipe favorita do FBI foi bombardeada, literalmente. Em um golpe de desesperado clamor por interesse do público, Blindspot finalizou a sua quarta temporada com a casa onde estavam Weller, Reade, Zapata, Rich e Patterson sendo explodida por um míssil, enquanto uma desolada Jane Doe observava à distância. O acontecimento nos deixou preocupados com qual teria sido o grau de fatalidade, embora soubéssemos que não seria 100%. Tentando se recuperar do atentado, os seis policiais, agora procurados pela Justiça, precisam se esconder das autoridades estadunidenses e de uma lunática Madeline Burke comandando todas as ações do FBI. Nas profundezas de um bunker, o grupo busca limpar os nomes de cada um dos seus integrantes para assim conseguir derrotar de vez a ameaça de uma mulher com um poder imensurável na palma da mão.
Crítica
Se Blindspot é uma típica série de conspirações e uma típica série policial, o que a diferencia das demais? Bom, não é um enigma tão difícil. A princípio, a obra possuía um objetivo bem desenhado: o desvendamento de todos os segredos envolvendo as tatuagens de Jane. Em seguida, a missão passou a ser o desmantelamento da organização conhecida como Sandstorm, até desembocar na destruição do império de um magnata com o nome de Hank Crawford. Depois disso, não tinha mais pra onde correr sem que a essência de Blindspot fosse perdida. O roteiro testou algumas jogadas criativas que deram certo, como recolocar as memórias de Remi na cabeça de Jane, e o enredo poderia facilmente ter sido finalizado na temporada passada pra que não ficasse gasto.
Estender a trama por mais uma temporada, mesmo ela sendo mais curta, atrapalhou um pouco o ritmo das coisas. Os roteiristas perderam a mão e entregaram vários erros bobos, os quais deram um quê de fragilidade à história. Tudo bem que Blindspot nunca foi um exemplo de roteiro redondinho e perfeito, mas os problemas aparecem de forma tão escancarada que tornam a imersão mais tênue. Eu não sei vocês, mas quando um furo de roteiro é tão considerável assim, minha mente não consegue se concentrar nos desdobramentos da trama. Eu só consigo ficar pensando: pô, mentira que deixaram isso passar. As falhas de roteiro não são os únicos defeitos da quinta e última temporada da série. Os arcos dramáticos são, em sua maioria, dispensáveis, e a história anda devagar demais e fica previsível à medida que os episódios vão passando. Na etapa final, tudo se acelera demasiadamente e eu não consegui deixar de me perguntar por que os roteiristas não dosaram melhor os acontecimentos.
O sistema de “caso da semana” não tinha como dar certo aqui. Nas outras temporadas, ainda que houvesse um objetivo central, os policiais não precisavam ficar o tempo todo focados no inimigo principal. Da forma com que o universo foi ambientado, dava pra colocar uma ameaça diferente a cada episódio. Pessoalmente, eu acho que é um formato ultrapassado, sobretudo quando aplicado em uma quantidade grande de capítulos dentro de uma mesma temporada. É preciso desvincular a série totalmente da realidade, porque imaginar que os Estados Unidos são atacados todo dia por algum terrorista tentando destruir as mais famosas cidades do país é, no mínimo, bobo. Se fossem ameaças que se estendessem por dois ou três episódios, até daria pra aceitar. Contudo, em um dia os EUA estão sendo alvos de uma bomba, no outro são quase vítimas de bioterrorismo, e por aí vai. Isso tudo sem falar na previsibilidade. A gente sabe que, no final, os vilões vão ser apreendidos e a ameaça, neutralizada. Essa necessidade de impor ação, tiros e salvamentos em todo episódio desgasta muito a narrativa.
Em adição a essas características, grande parte dos personagens ficou cansativa. Os dilemas de ai-meu-Deus-sou-culpado-de-todas-as-coisas-ruins-da-Terra do Kurt, as piadas totalmente sem encaixe do Rich, a cara de sou-foda-porém-tenho-sentimentos da Zapata e a inexpressividade do Reade são os lados negativos, mas pelo menos ainda temos os alentos. Jane Doe aparece em um de seus melhores momentos, mesmo sendo prejudicada pelos furos de roteiro, Weitz exerce bem o seu papel de um cara-desonesto-com-coração-bom, Afreen é um eficiente suporte pro elenco e Patterson é, bem, a Patterson. Não preciso dizer mais nada.
A grande vilã, Madeline, tem menos carisma do que a minha escrivaninha. A vice-vilã, Ivy Sands, tem um pouco mais de presença, mas nada demais. No final das contas, o grande mérito da temporada final de Blindspot é a preservação de sua melhor característica – o entrosamento entre os personagens. A química entre todos é palpável, e eu sentia realmente que eles eram parceiros/amigos uns dos outros. Os últimos desenvolvimentos do enredo são corajosos, e a audácia em tomar certas decisões me deixou genuinamente impressionado. Eu não esperava por aquele desfecho, e o ritmo alucinante das ações derradeiras ajudaram a elevar bastante o nível da temporada.
Veredito
O começo de Blindspot é de uma originalidade tamanha. Fala sério, uma mulher toda tatuada, sem roupas e lembranças, encontrada dentro de uma mala no meio da Times Square? Acho difícil alguma série superar essa premissa. Entretanto, uma obra não pode se sustentar eternamente em sua base. Para evoluir, ela precisa ir além. Blindspot até conseguiu fazer isso e atingiu o auge em seu terceiro ano e registrou uma excelente quarta investida. Em sua quinta e última temporada, porém, os sinais de desgaste que já apareciam discretamente foram ressaltados de vez. Os dramas pessoais dos personagens não se alteram, o antagonismo é fraco e o ritmo varia muito subitamente de um “lento quase parando” para um “acelerado até demais”. Nesta última fase, no entanto, a série consegue resgatar o que tem de melhor e salva o que poderia ter sido uma desastrosa despedida. O entrosado elenco brilha, a coreografia melhora e até a esquisita trilha sonora é coroada com uma versão maravilhosa da música Dear Prudence, dos Beatles. O final foi realmente muito bom, mas consolidou uma queda notável em comparação com as duas temporadas anteriores, logo no adeus de uma obra que vai ficar na memória, de um jeito ou de outro. Nota final: 3,0/5.
>> Crítica da 1ª Temporada de Blindspot
>> Crítica da 2ª Temporada de Blindspot
>> Crítica da 3ª Temporada de Blindspot
>> Crítica da 4ª Temporada de Blindspot
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Ok, eu não esperava que o Reade teria aquele destino. Eu continuo achando que sua morte perdeu totalmente o impacto porque deveria ter acontecido no último episódio da temporada anterior. Além disso, fiquei o tempo inteiro achando que, de alguma forma, ele teria se safado. Sempre que um corpo não é mostrado em alguma série como Blindspot, eu já imagino que seja porque o indivíduo está vivo. Quando acabou a série e eu realmente percebi que ele tinha morrido, me senti enganado. Ah, e uma verdade aqui pra vocês: Reade e Zapata formam um casal melhor quando não são um casal, como exposto nos flashbacks.
- Vamos aos furos de roteiro que eu percebi e me lembrei de anotar (sim, teve outros que eu esqueci). Em primeiro lugar, por que a Ivy Sands optou por deixar a Jane pra trás quando sequestrou o Weller? A Jane tava toda ferida e provavelmente não ofereceria grande resistência, acho que valia a pena tê-la capturado também. Ah, e por que diabos a Ivy não levou o Kurt pros EUA depois de sequestrá-lo? Se tivesse feito isso, ele não teria nem como escapar. Pra completar, a Ivy ainda teve um surto e resolveu CHUTAR o Kurt da cadeira quando ele a provocou. Para alguém tão profissional, este é um erro absurdamente infantil. Continuando, teve a Jane acordando e sabendo do vídeo do Kurt, sendo que ela mesma tinha dito que era a primeira vez que acordava após ter se machucado, logo, não tinha como ter conseguido aquela informação. Pra fechar, a série realmente introduziu o arco da Avery pra nada? A Jane quase morreu em incontáveis ocasiões e ela sequer pensou na própria filha. Beleza que a Avery apareceu na última sequência da temporada, mas é muito pouco, né?
- Impressionante como a galera do FBI tá em um posto tão alto sendo que são um bando de incompetentes. E tá provado de vez que o cargo de diretor do FBI é o equivalente do cargo de professor de Defesa Contra as Artes das Trevas em Hogwarts. Alguma coisa de ruim sempre acontece com quem assume a função.
- Nossa, a Brianna morreu pelas mãos da Madeline! Fiquei muito de luto! Tá, talvez eu esteja sendo insensível.
- Eu fui enganado direitinho pela Kathy, confesso. Eu cheguei a CHORAR quando ela decidiu se sacrificar pelo grupo. No final das contas, ela trapeceou geral sem um pingo de escrúpulos.
- Vamo combinar que a morte do Weitz já era esperada, né. Tava na cara há um bom tempo que ele iria morrer de forma heroica. Eu teria me surpreendido se ele tivesse ficado vivo, pra falar a verdade. Ainda assim, acho que foi um bom fechamento pro seu arco. Sobre a morte da Madeline, foi um fim sem graça para uma vilã sem graça. A série não se preocupou nem um pouco a dar um traço diferente de personalidade pra ela. A mulher parecia uma máquina insaciável de poder e sem um pingo de obstáculos reais em seu caminho. Se bobear, até o Hank Crawford foi um antagonista melhor.
- FINALMENTE DESCOBRIMOS O PRIMEIRO NOME DA PATTERSON!! Eu jurava que eles fossem enrolar isso até a série acabar, mas até que foi mais rápido do que eu pensava. William. O nome perfeito pra ela, sinceramente. O Bill Nye, aliás, deixava melhor todo episódio em que aparecia. E já que estamos no tópico da Patterson, é incrível o plot armor que ela teve em sua quase morte. Por mais que eu amasse a personagem, merecia um momento menos preguiçoso. Todo o peso de seu sacrifício anulado por uma passagem secreta na qual ela escapou. Teria sido muito mais impactante se, por exemplo, o Rich tivesse se sacrificado e realmente morrido no processo. Seria triste, com certeza, mas igualmente foda.
- A Ivy Sands sendo derrubada e nocauteada pela Zapata em um único golpe no último episódio me fez soltar uma risada involuntária pelo nariz. A grande Ivy Sands derrotada sem mais nem menos. Tá bom então.
- Boston perdendo dedos foi tenso. Pelo lado bom, ele acabou formando um trisal com o Rich e a Patterson. Acho que não tem do que reclamar.
- Certo, vamos falar sobre o final. Que coisa maluca foi aquela??? Achei genial praticamente todos os atores, antigos e novos, fazerem uma ponta no centésimo e último episódio. Senti falta da Mayfair, mas pelo menos honraram seu legado. Seguindo em frente, cada um tem a sua teoria acerca de qual era a verdadeira realidade. Pra mim, a Jane de fato sobreviveu e aquela cena de todo mundo feliz em volta da mesa realmente rolou. Isso faz sentido porque, em uma espécie de sonho, com certeza o Reade teria estado naquela mesa. Além disso, uma mala sendo deixada com um corpo dentro, totalmente sozinha no meio da Times Square simplesmente não aconteceria no mundo “real”, e acho que foi só um recurso da série pra acabar tudo como começou. Eu sei que tem gente argumentando que a última cena foi licença poética e que ela realmente morreu, o que pode ser provado pelo fato de que o Boston estava com todos os dedos das mãos na cena com todo mundo em volta da mesa. Contudo, isso pode simplesmente ter sido um furo no roteiro (o que não seria surpresa) ou o Boston poderia ter colocado os dedos de volta, cirurgicamente. De qualquer forma, o criador da série, Martin Gero, afirmou que a interpretação do final poderia diferir entre quem é otimista e quem é pessimista. Bom, acredito que eu seja otimista então.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Patterson
Não tem nem concorrência, na moral. A engrenagem mais importante do FBI é uma personagem tão superior a todos os outros que não dá nem graça essa premiação. Se não fosse pela Patterson, a série teria sido outra.
+ Melhor episódio: S05E11 (“Iunne Ennui”)
Uma conclusão bem melhor do que eu esperava, em uma temporada não tão boa quanto eu esperava.
+ Maior evolução: Afreen Iqbal
Uma excelente ajudante. Se não fosse por ela e o Weitz (uma parceria ótima, por sinal), o núcleo do FBI teria sido um verdadeiro porre.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?