• Arcando com as consequências
Clint Barton, ou Gavião Arqueiro, ou Hawkeye, merecia um espaço próprio há muito tempo. Após se destacar em Os Vingadores, ser um dos melhores personagens de Era de Ultron e protagonizar um dos momentos mais icônicos da Marvel em Ultimato, era mais do que hora de deixar o cara brilhar. Algo parecido aconteceu com o filme da Viúva Negra, mas o Gavião foi premiado com uma série. O objetivo se mostrou claro desde o primeiro momento. Além de dar um pouco mais de profundidade a ele, a nova obra do MCU precisava preparar o terreno pra sua eventual substituta, Kate Bishop. Será que a estratégia deu certo?
Sinopse
Depois de todos os eventos envolvendo o “blip” de Thanos, Clint Barton só quer curtir a vida com sua família. Chega de arcos, flechas e explosões. As consequências de tais embates, inclusive, bateram à porta e provocaram uma perda de audição parcial no super-herói. E por falar em consequências, o Gavião Arqueiro se vê novamente forçado a entrar no meio de um conflito. Após se envolver em um leilão do mercado negro, a jovem Kate Bishop cai de paraquedas em uma conspiração que respinga em si e na sua família. Ela conhece o seu ídolo vingador e juntos eles se comprometem a resolver toda a confusão antes que chegue o Natal e Clint quebre a sua promessa de passar o feriado com a esposa e os filhos.
Crítica
Vingadores: Ultimato foi o fim de uma era no Universo Cinematográfico da Marvel, isso é óbvio. Uma longa saga foi encerrada, e não dá pra parar no tempo e deixar de abraçar o novo. Paralelamente, é preciso honrar o passado e desenvolver as repercussões de todas as lutas que culminaram na queda do Titã Louco. Hawkeye investe nessa certeira junção entre o que já foi e o que será. Nada melhor do que representar essa equação do que Clint Barton e Kate Bishop.
A cada capítulo que passa no MCU, é possível observar com clareza a substituição de postos. Sam Wilson pegou o lugar de Steve Rogers. Yelena Belova herdou a vaga de Natasha Romanoff. O jogo de xadrez da Marvel aposta na renovação e na familiaridade, e isso nunca ficou mais evidente do que agora. A química entre os atores Jeremy Renner e Hailee Steinfeld, que interpretam Clint e Kate, respectivamente, deixa a experiência ainda melhor de se acompanhar. A relação entre ambos é o grande trunfo de Hawkeye, e a série jamais teria dado certo sem esse elemento.
Quanto à história, temos alguns probleminhas. Como a Marvel optou por focar na famigerada passagem de bastão (ou, no caso, passagem de arco e flecha), o núcleo da dinâmica dos dois ganha força, mas enfraquece o enredo. A ameaça da Gangue do Agasalho não empolga muito, ainda mais porque os vilões são tão cômicos que não tem como sentirmos qualquer tom de medo pelos mocinhos. Somente após a adição de Echo é que o antagonismo passa a ganhar mais contornos. Porém, é aí que surge outro defeito que pode atrapalhar este universo cinematográfico e televisivo como um todo.
A Marvel está produzindo cada vez mais filmes e séries, correto? Portanto, cada vez menos ela dará um fechamento realmente conclusivo para suas obras. Todo título precisa conter um gancho futuro, e assim as tramas falham em viver o presente. Hawkeye é a personificação perfeita disso. De tanto olhar pra frente, a série parece não olhar pra si mesma. Não dá para explorar totalmente a Echo, porque ela terá uma obra própria. Não dá para trabalhar completamente a Kate, porque ela com certeza fará parte dos Jovens Vingadores. De filme em filme, de série em série, vai ficando cada vez mais notável a dificuldade das obras se bastarem por si mesmas.
As brigas só funcionam unicamente por conta dos personagens, porque o enredo propriamente dito não possui nada de especial. A impressão que eu fiquei é de que Clint Barton e Kate Bishop precisavam de alguma batalha que os aproximasse, mas tanto faz qual seria. Quando finalmente a série engata em uma trama com potencial, a história já está no fim e logo acaba. Fica um gostinho de algo que começou genérico, encorpou-se e acabou antes da hora.
Os combates são legais, os personagens são carismáticos e Hawkeye reserva algumas surpresas ótimas para os fãs. O tom da narrativa é acertado, o senso de humor se encaixa bem com os protagonistas e o vislumbre do futuro é promissor. Por outro lado, fica a sensação de que faltou alguma coisa pra realmente fazer a obra se destacar.
Veredito
Eu vi diversas opiniões nas internéticas dizendo que Hawkeye era possivelmente a segunda melhor série do MCU até agora, atrás apenas de WandaVision. Vamos com calma. Sim, a relação entre Clint Barton e Kate Bishop caracteriza uma das melhores duplas da Marvel. Há momentos marcantes, divertidos e empolgantes, a pavimentação do caminho futuro é bem feita e existe aqui um misto de paixão, ação e bom humor. No entanto, em meio a um conflito totalmente esquecível, a jornada do Gavião Arqueiro sofre com uma ligeira falta de identidade e fica um pouco atrás da subestimada série Falcão e o Soldado Invernal, da astronômica Loki e da icônica WandaVision, se estabelecendo no mesmo patamar da inconstante What If…?. Nota final: 3,9/5.
>> Crítica da Falcão e o Soldado Invernal
>> Crítica da 1ª Temporada de Loki
>> Crítica da 1ª Temporada de What If…?
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Algo que me deixou pra lá de incomodado é o quanto as habilidades de luta ficaram banais no MCU. Cara, beleza que a Kate pratica lutas, esgrima e tudo mais desde criança, mas isso não a qualifica pra derrotar uma dúzia de inimigos ao mesmo tempo. Se ela tivesse treinado brigas com outras pessoas antes, até daria pra entender, mas os seus combates eram sempre individuais. Aí do nada ela consegue bater em um monte de vilões portando armas de fogo, ainda por cima. E já que mencionei, isso também me incomoda demais em histórias de super-heróis. Em boa parte das vezes, os capangas têm metralhadoras ou revólveres, mas sempre preferem usar os punhos. Por quê, velho?
- Um spin-off focado em Clint Barton participando de RPGs medievais não me desagradaria nem um pouco, não tenho vergonha de admitir.
- Gostei de terem finalmente abordado a surdez parcial do Clint, ainda mais entrelaçando a sua condição com a da Echo. Porém, queria que tivesse aparecido antes, porque não vejo como isso vai se desenvolver a fundo ao longo do MCU, já que o arco (com o perdão do trocadilho) do Gavião Arqueiro parece estar perto do fim, e o do Ronin já acabou.
- Beleza, mas se alguém inventar de fazer mal ao Lucky, não terei opções a não ser me transformar no John Wick. Esteja avisada, dona Marvel.
- Eu acho incrível como os fãs de quadrinhos conseguem ser iludidos às vezes. Em WandaVision, geral ficou pensando que o Mephisto apareceria e daria início a uma trama gigantesca, mas a realidade foi muito mais simples do que isso. Senti a mesma coisa em relação ao musical Rogers (bela cena pós-créditos, aliás). Vi algumas pessoas no TV Time comentando que o fato do Homem-Formiga estar presente na Batalha de Nova York poderia significar que toda a história da franquia foi reescrita por causa das mexelanças no espaço-tempo. Na verdade, os criadores só quiseram mostrar como o ser humano é capaz de produzir lembranças de coisas que nunca aconteceram. Achei uma grande sacada.
- Certo, eu já tinha pegado spoiler da aparição da Yelena, embora fosse meio óbvio que ela apareceria por conta da cena pós-créditos de Viúva Negra. Ainda assim, gostei demais de vê-la fazendo dupla com a Kate, é uma parceria que pode render muitos frutos legais no futuro. E, finalmente, ela confrontou o Clint e parece ter feito as pazes com o que aconteceu com a irmã. Pra mim, foi o encerramento decisivo da saga de Natasha Romanoff, mas a sua influência sempre estará lá.
- Também peguei spoiler da aparição do Rei do Crime, e confesso que fiquei triste. Imagino o tanto que eu teria ficado alucinado se tivesse visto as cenas sem saber. De qualquer forma, a confirmação de Wilson Fisk como personagem existente no MCU abre um leque tão grande de possibilidades que não posso evitar me sentir empolgado.
- Gostei da Echo, mas achei que ainda se mostrou um pouco rasa. Espero que ganhe profundidade em sua série. Promissora ela é, principalmente por ter dado um tiro na cara do seu querido tio, mas com certeza o Careca vai voltar no futuro. Sem corpo, sem morte.
- No começo, eu não desconfiei de que a Eleanor seria uma vilã, mas na metade final da temporada foi ficando óbvio, assim como a inocência do Jack. Não é como se fosse uma subversão original, né.
- Eu não consigo comentar sobre a Laura, esposa do Clint, ser a tal agente-sei-lá-das-quantas-dona-do-relógio-misterioso, até porque eu não assisti Agents of S.H.I.E.L.D.. É só isso mesmo, obrigado a todos.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Kate Bishop
Clint Barton ganhou um bom espaço para trabalhar e aproveitou, mas quem roubou a cena foi sua herdeira. Ainda que eu tenha tido alguns problemas quanto a certos aspectos da personagem, o seu carisma compensou e foi um dos pontos positivos de Hawkeye.
+ Melhor episódio: E03 (“Echoes”)
Nos dois primeiros episódios, a série ainda não tinha me empolgado. A partir deste capítulo, as coisas mudaram e eu me vi investido.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?