Marvel

Mulher-Hulk: Defensora de Heróis (2022)

she-hulk

• Entre quartas paredes

Você é sommelier em CGI? Quando a Marvel lançou o trailer de Mulher-Hulk: Defensora de Heróis, de repente todo mundo na Internet se formou em Efeitos Especiais pela Universidade de Harvard. A verdade é que as pessoas adoram pagar de entendidas, ou então somente seguir em uma onda de manada. É isso que aconteceu aqui. Adicione também um tempero do “fator nerdola” e você terá uma enxurrada de críticas negativas antes mesmo do lançamento do produto. Eu sou da filosofia de que qualquer apontamento prévio à estreia de um filme ou série não passa de uma mera impressão, uma opinião impaciente. Isso quer dizer que eu achei o CGI de She-Hulk bom? Não, não é isso. Na realidade, os efeitos me incomodaram muito. Esta introdução nada mais é do que um pequeno desabafo direcionado a todas as pessoas que decretam que algo vai ser ruim antes mesmo de ver. Sem mais enrolações, vamos em frente.

 

Sinopse

Conheça Jennifer Walters. Advogada, mulher determinada e… prima de Bruce Banner. Sim, prima de ninguém menos do que O Incrível Hulk. Mas não venha resumi-la a seu parentesco com o Vingador, pois ela é muito mais do que isso. O problema é que, quando o sangue de Bruce entra em contato com o seu, ela adquire os poderes do primo e ganha a habilidade de se transformar em uma mulher verde gigante e imponente. A faceta é bastante útil para autodefesa, mas Jennifer não quer seguir o mesmo caminho do Hulk. Será que ela conseguirá conciliar a vida de mulher, advogada e pessoa superpoderosa, tudo ao mesmo tempo?

Mais que amigos, primos

Crítica

Mais uma vez, a equipe por trás da Marvel acertou na escolha de elenco. A atriz Tatiana Maslany possui a dose certa de carisma, senso de humor e alcance interpretativo para o papel da protagonista. As participações especiais de personagens conhecidos do UCM, como Wong e o próprio Demolidor (e não venham me acusar de spoiler, porque isso tá no trailer), agregam bastante no sentido de inserir Mulher-Hulk naquele mesmo universo de centenas de super-heróis, super-vilões e super-histórias.

O UCM não é mais como era antigamente – e como poderia ser? Seres superpoderosos não são mais novidade entre os seres humanos. A ideia de ter habilidades especiais não é mais assustadora. Mutantes estão literalmente andando entre a população comum, e uma invasão alienígena não é mais amedrontadora do que uma ameaça de guerra nuclear. Ms. Marvel já tinha escancarado essa perspectiva, e Mulher-Hulk perpetua, introduzindo o conceito de uma pessoa que ganha super-poderes, decide não usá-los da maneira “convencional” e realmente coloca em prática esse plano.

Mulher-Hulk também chama a atenção por fazer algo inédito até então no UCM: a quebra da quarta parede. Pra quem não sabe o que é isso, é exatamente o que Deadpool faz ao conversar diretamente com o espectador, como se ele soubesse que está dentro de um filme e que aquela realidade ali tecnicamente não existe, pelo menos não na nossa Terra. A liberdade criativa da série também permite que ela faça algumas piadas ligeiramente inapropriadas pra determinadas idades, contrastando com a temática adolescente de sua antecessora Ms. Marvel.

Resumindo, She-Hulk tinha tudo pra dar certo. Então por que ela se tornou a minha série menos favorita do UCM até então? Uma série de fatores influenciou. Vou falar rapidamente sobre o CGI, porque já me adiantei lá na introdução do pitaco. É inegável que os efeitos visuais relativos à aparência da protagonista são terríveis. Não tem desculpa pra um desempenho tão ruim, dentro de uma empresa milionária como a Marvel. Devo deixar bem claro que a culpa é totalmente da companhia, e não dos artistas pressionados por um cronograma impossível de datas. De qualquer forma, o resultado final incomoda, pois várias vezes eu estava prestando mais atenção em como os efeitos estavam abaixo do que nas sequências em si. Quando isso acontece, passa a ser um defeito, sem dúvida alguma.

Contudo, essa não foi a característica que me fez desgostar de Mulher-Hulk. Na verdade, não é que eu a odiei, só achei que ela sofreu com um grave problema estrutural. A série não sabe se quer ser uma comédia, uma obra que busca se inserir no universo da Marvel ou uma história de advogada. É tanta vontade de colocar uma identidade própria que a quantidade de identidades diferentes deixa a série meio sem identidade. Faz sentido isso? O pretenso formato de sitcom não funciona, por um simples motivo: não é uma série engraçada. É claro que o roteiro acerta os tons de humor em alguns momentos, mas não o bastante pra justificar a narrativa ser contada daquele jeito, deixando-a truncada e jogada.

Mulher-Hulk faz esforço demais pra se vender como algo despretensioso, mas essa falta de pretensões prejudica a própria trama. Fica difícil de se conectar inteiramente com os personagens, e os episódios curtos condensam excessivamente os acontecimentos, sem falar que a série mente pra gente na cara dura. Logo no primeiro episódio, ou no segundo, não tenho certeza, a protagonista nos informa de que, se o espectador está esperando uma história de super-herói, não era o caso. Aquela era uma série de advogados. Eu super apoiaria essa dinâmica, mas me senti enganado a partir do momento em que o alicerce da obra não é a parte legal, que poderia ter sido mais legal. A série nada mais é do que uma jornada de herói como qualquer outra, com alguns caprichos aqui e ali pra diferenciá-la das demais.

Apesar de ter me decepcionado com o andamento de Mulher-Hulk, eu me surpreendi positivamente com os dois episódios finais. Eles se destacam absurdamente acima dos outros, por motivos diferentes. O penúltimo, por conta de uma química entre atores. O último, pela criatividade em sair da caixinha e colocar a série de cabeça pra baixo das maneiras mais inimagináveis. É uma pena que a produção não tenha conseguido acertar esse tom no restante da temporada.

Mais que amigos, parceiros de Sopranos

Veredito

Vou mandar um papo reto: não escutem quem fala mal de Mulher-Hulk utilizando argumentos machistas e/ou saudosistas. Aliás, o modo sarcástico com que a série trabalha esses assuntos, tão presentes na nossa própria realidade, é um dos seus maiores méritos. O problema é que o roteiro não se decide a respeito da identidade da história, transformando a experiência em algo confuso e pouco empolgante. É triste, porque os bons elementos estão todos aqui. No entanto, as peças se espalham em um quebra-cabeças que não foi capaz de ser montado a tempo. Faltou refinamento, coesão e foco. Em compensação, sobrou inventividade, ironia e carisma. Nota final: 3,0/5.

Mais que amigos, super-heróis

 

>> WandaVision

>> Falcão e o Soldado Invernal

>> 1ª Temporada de Loki

>> 1ª Temporada de What If…?

>> Hawkeye

>> Cavaleiro da Lua

>> Ms. Marvel

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • O melhor é que foi só lá pra metade da temporada que eu percebi as ilustrações temáticas nos créditos de cada episódio. Como algumas das imagens eram repetidas em todos eles, pensei que sempre fossem as mesmas. Portanto, quando apareciam em tela, eu já pegava o celular pra ver comentários no TV Time e nem reparava que havia figuras alusivas ao episódio em questão. É bobeira, eu sei, mas queria ter descoberto isso mais cedo.
  • Gostei muito da relação entre a Jennifer e o Bruce. Ele todo paciente e tentando ser professoral, ela não ligando pra todo aquele papo e com um viés meio rebelde. Queria ter visto mais dos dois juntos em tela, mas o primeiro episódio foi um bom aperitivo disso. Foi legal também a piadinha com o Hulk do Edward Norton, além da Jennifer descobrindo que o Capitão América não morreu virgem.
  • O Abominável poderia ter dado muito errado. Um soldado sério e centrado virando um mané que faz haikai e tem duzentas esposas? Não é uma ideia que me agrada muito, conceitualmente falando. Porém, encaixou bem com a vibe da trama e, se formos ser sinceros, não era como se o Emil Blonsky fosse um personagem memorável, né. E ainda bem que a Jennifer evitou aquele final no qual ele provou nunca ter deixado totalmente de ser um vilão, porque eu gosto de histórias de redenção e elas estão ficando cada vez mais raras.
  • Eu adoro quando uma série ou filme resolve criticar alguma coisa da nossa sociedade e meio que acerta em cheio. Mulher-Hulk direcionou seu sarcasmo aos nerdolas que acham que histórias de super-heróis só podem ter um homem branco e musculoso como protagonista. E adivinha o que eles acharam da série na vida real? É uma pena que a obra realmente tenha falhado em alguns aspectos de qualidade, pois poderia ter se destacado ainda mais. E ah, só um pequeno espaço pra uma problematização que pode ser chata. Vi isso em um TikTok que minha namorada me mostrou, e parei realmente pra refletir. A Jennifer Walters tem cabelo ondulado, certo? Meio cacheado. Então por que o cabelo dela fica liso quando se transforma na Mulher-Hulk? Não seria aquela velha história da garota nerd nada popular de cabelo cacheado e óculos que, quando “fica bonita” em um filme adolescente dos EUA, se transforma em uma loira de cabelo liso, sem óculos e sem aparelho dentário? De fato, é meio contraditório uma série que critica tanto os nocivos padrões de beleza cair em nocivos padrões de beleza.
  • Sobre o humor de She-Hulk, fica muitas vezes entre o engraçado e a vergolha alheia. Algumas das conversas da Jennifer com o Bruce me tiraram alguns sorrisos, enquanto outras me deixaram com uma careta no rosto. A Madisynn é mais um exemplo. Ela funcionou em alguns momentos, mas estava uns três tons acima. Sem falar que aqueles julgamentos me deixaram meio incomodado com tanta pataquada, igual com aquele mágico toda hora soltando fumaça. E outra, por que o Wong foi tão passivo com o Donny Blaze, que tava claramente colocando muita gente em risco?
  • Infelizmente, eu esperava mais da Titania. Eu gosto muito da atriz Jameela Jamil em The Good Place, e ela poderia ter se encaixado muito bem aqui. Porém, foi bastante subutilizada e, quando utilizada, pareceu deslocada no meio da história. Ela é a representação perfeita da bagunça de roteiro de Mulher-Hulk.
  • Eu gostei da Nikki com a Jennifer, a Nikki com o Pug e a Nikki com a Mallory. Tenho que dar o braço a torcer e admitir que a série vai bem na formação de duplas. Wong e Madisynn tiveram uma química boa, assim como Jen e Bruce, Jen e Matt e Jen e Megan Thee Stalion. Além disso, a série não precisou forçar relações românticas; as que vieram, aconteceram naturalmente.
  • Agora, a respeito do nosso querido Demolidor, que química GIGANTESCA ele teve com a Mulher-Hulk. Sério, eu poderia ver um filme inteiro só com os dois. Os atores clicaram muito bem um com o outro, tanto na parte “humana” quanto na parte “heroica”. E achei um tanto quanto engraçado a série freando constantemente a aparição do Matt Murdock, deixando pro final só pra enrolar os fãs.
  • Fiquei TÃO surpreso quando o Josh foi revelado como vilão. Quem poderia esperar aquilo, hein? Ou, e isso me lembrou um rolê lá do casamento. Que trabalho sem graça do estilista Jacobson, bicho. Na hora que ele falou que estava fazendo um vestido de festa pra Jennifer usar enquanto Mulher-Hulk, pensei que fosse ser um negócio impressionante. Era só um vestido sem graça de bolinhas.
  • Que maluquice aquele último episódio, cara kkkk e no bom sentido. Eu estava meio assim com o Abominável estando do lado dos esquisitos do 4Chan, como citei ali em cima, mas quando a história começou a virar de cabeça pra baixo e a Jennifer quebrou a Disney+, foi maravilhoso de assistir. Só queria que a legenda não tivesse colocado “K.E.V.I.N.” pra se referir ao ser que controlava tudo na Marvel. Se tivessem colocado “Kevin”, eu teria ficado acreditando até o último segundo que apareceria o Kevin Feige. Quando ficou tudo em caps lock com pontos entre as letras, eu já sabia que seria alguma piadinha com siglas. Não que tenha estragado a experiência, porque foi tudo muito divertido. E foi impagável a Jennifer perguntando sobre os X-Men e olhando pra tela, dei uma risada sincera naquele momento. Ah, se a série inteira tivesse sido tão criativa quanto o seu desfecho…

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Jennifer Walters
A talentosa Tatiana Maslany poderia ter sido melhor aproveitada? Talvez. Os pontos altos da série existem muito por conta de sua interpretação da Mulher-Hulk? Com certeza.

Haja tela verde nessa série, viu

+ Melhor episódio: S01E08 (“Ribbit and Rip It”)
Não tem nada mais delicioso pra alguém que curte boas interpretações do que ver uma química sólida entre dois ou mais personagens. Este capítulo é a representação perfeita disso. O último episódio também é sensacional; preferi o penúltimo por sentimentos puramente pessoais.

Geração Y e Boomers, óleo sobre tela

+ Maior evolução: Emil Blonsky/Abominável
A Marvel tem uma mania chata de construir a maior parte de seus personagens sob um mesmo arquétipo, com toques de humor frequentemente deslocados. Contudo, eu gostei do que fizeram com este personagem, considerando que tinha sido pouco memorável em O Incrível Hulk.

O Abominável Homem que Escreve

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).