Marvel

Cavaleiro da Lua (2022)

• Dois em um

Eu não sei se Cavaleiro da Lua terá mais uma temporada ou se será de fato uma minissérie. Esse é o lado ruim de assistir às coisas na época do lançamento, ainda mais quando não há um planejamento claro de futuro. O meu palpite é de que terá sim uma sequência, e a Marvel só tá despistando pra ganhar mais espaço no Emmy. Isso porque teoricamente é mais “fácil” se destacar nas categorias de minisséries do que séries, até por conta do volume de produções desse último tipo. Por isso, classifiquei este conjunto de episódios como “1ª Temporada”. Caso seja realmente confirmado que não teremos uma 2ª, eu edito esta publicação. Mas por que eu tô falando tanto disso? Vamos logo pra crítica.

 

Sinopse

Steven Grant é o cara mais comum possível. Não no sentido de ser igual a todas as outras pessoas, mas sim de não ter nada de muito especial. Ele tem uma personalidade retraída e desajeitada, trabalhando na lojinha de um museu do Antigo Egito. A sua vida noturna, no entanto, é agitada. Steven costuma acordar em lugares estranhos, sem se dar conta de como chegou lá. Tudo vira de cabeça pra baixo no momento em que ele descobre sobre a existência de uma identidade mercenária dentro de seu próprio corpo, sob o nome de Marc Spector. Pra piorar, o controverso deus egípcio Konshu tá envolvido na parada, concedendo seus poderes pra defender a Terra da ameaça de Arthur Harrow, um adorador da deusa Ammit.

Moisés na época da Peste Negra

Crítica

O primeiro episódio me surpreendeu. O piloto de Cavaleiro da Lua é o melhor entre todas as séries da Marvel lançadas até agora. As cenas iniciais são cadenciadas, e aos poucos a história vai pegando no tranco. De repente, a trama começa a ficar cada vez mais confusa. Acredite, isso é um ponto positivo. Steven Grant está passando por um período de confusão mental, e essa característica é transmitida ao espectador por meio de uma montagem frenética e acontecimentos que propositadamente carecem de explicação.

O roteiro brinca o tempo todo com a condição psicológica do protagonista. A sensação fica ainda mais gostosa pra quem não conhece o personagem nos quadrinhos. Aproveito pra dar uma dica pra vocês. Quando estiverem maratonando, não leiam comentários a respeito dos episódios em fóruns ou coisas do tipo. Esperem pra assistir à temporada até o fim. Eu cometi o erro de ficar lendo opiniões da galera no TV Time e fui bombardeado com várias informações que diminuíram a minha surpresa em pontos importantes do enredo.

Pra completar, repudio aqui todas aqueles que se acham no direito de despejar informações, argumentando que não se tratam de spoilers porque “tem nos quadrinhos”. Eu por acaso tô lendo quadrinho? Não, eu tô vendo a série. Então não venham me contar coisas que ainda não apareceram em tela. Obrigado.

Ok, agora que eu desabafei, sigamos em frente. O ator Oscar Isaac entrega uma das melhores interpretações da Marvel, porque o(s) seu(s) personagem(ns) conta(m) com uma complexidade imensa. O artista precisa atuar como Steven, depois como Marc, fazer os dois interagirem entre si e estabelecer diferenças notáveis o bastante pra gente conseguir diferenciar os personagens, mas sem deixá-los caricatos demais. Isso é muito difícil. Uma opinião impopular que tenho, inclusive, é que James McAvoy não alcançou esse nível em Fragmentado. Tatiana Maslany, por outro lado, conseguiu em Orphan Black.

Sem o talento de Oscar Isaac, Cavaleiro da Lua teria perdido mais da metade de sua profundidade. A transição entre personalidades é o grande charme da obra, e eu passei metade do tempo me questionando sobre aquilo tudo. Steven e Marc eram a mesma pessoa, cujo transtorno de identidade dissociativo as dividia em duas? Marc na verdade era alguma espécie de sósia do Steven, e juntos eles habitavam um mesmo corpo? Steven era um receptáculo de Marc, algum tipo de entidade egípcia das transformações? Se eu não tivesse pegado spoiler, teria ficado com essa dúvida praticamente até o fim da temporada.

Ainda no campo de atuações, Ethan Hawke e May Calamawy também estão muito bem como Harrow e Layla, respectivamente. São personagens com uma forte presença, sendo boas adições ao MCU. O trio capitaneia a série sem deixar a bola cair, sendo que o restante do elenco serve somente como apoio e complemento.

A trilha sonora é outro trunfo de Cavaleiro da Lua. Entre as séries da Marvel, esta aqui é a que mais evidencia essa qualidade. É impossível terminar os capítulos sem ficar com as músicas na cabeça, o que não aconteceu comigo em relação a nenhuma outra.

Passando do plano sonoro pro visual, uma das principais reclamações dos fãs foi a respeito do CGI. Eu concordo que a série não é um primor nesse sentido. Ela não possui efeitos especiais que enchem os olhos, embora os cenários sejam bonitos. A presença invisível da tela verde também fica óbvia em algumas sequências. Para os mais exigentes, isso de fato pode ser um problema. No meu caso, não é algo que me incomoda absurdamente. Eu sobrevivi às primeiras temporadas de Doctor Who e às séries da CW. Já estou vacinado contra esse mal. Ainda assim, concordo que a megalomania da Marvel, querendo produzir mais conteúdos do que consegue lidar, vem gerando suas consequências negativas.

A história tem seus altos e baixos. Cavaleiro da Lua é capaz de se manter em alto nível durante a maior parte do tempo, mas sofre com alguns males. Não gostei de certos tons cômicos, que até fazem sentido dependendo do contexto, mas quebraram demais o tom da narrativa. Além disso, o desfecho da temporada é um tanto quanto decepcionante. Depois de um desenvolvimento tão minucioso, o último episódio acelera as coisas e resolve as ameaças de maneira previsível.

Assim que finalizei, comecei a refletir que esta série poderia tranquilamente ter sido um filme. Embora a quantidade maior de tempo beneficie a construção de personagem, acho que a jornada de Steven Grant não precisava necessariamente desse formato. Por fim, não consigo deixar de me sentir desapontado com os terceiros atos genéricos da Marvel. Sempre haverá uma batalha de proporções espetaculares em que o herói vence o vilão. Nem toda conclusão precisa seguir essa estrutura, gente. Isso vem ficando escancarado nesta Fase 4 do MCU, em filmes como Shang-Chi: A Lenda dos Dez Anéis e séries como WandaVision.

Harrow Potter e a Ordem do Crocodilo

Veredito

Eu sei que esta é a principal pergunta que fica, então vamos respondê-la de uma vez. Cavaleiro da Lua é a melhor série da Marvel até agora? A resposta é não. Por pouco, mas não. Na minha humilde opinião, ainda fica atrás de WandaVision Loki. Em compensação, supera com certa facilidade Falcão e o Soldado Invernal, Hawkeye What If…?. O tom da narrativa é bem distinto, o que me deixou o tempo todo instigado pelo que vinha a seguir. Oscar Isaac brilha no papel do(s) protagonista(s), a trilha sonora empacota o conjunto com muita competência e a história se distancia do MCU o suficiente pra que não seja apenas mais uma entre milhares. O CGI peca e o desfecho é apressado, puxando o nível da temporada ligeiramente pra baixo logo na reta decisiva. Contudo, o saldo geral é indiscutivelmente positivo. Nota final: 4,3/5.

Terno do Steven >>> trajes do MET Gala

 

>> Crítica de WandaVision

>> Crítica da Falcão e o Soldado Invernal

>> Crítica da 1ª Temporada de Loki

>> Crítica da 1ª Temporada de What If…?

>> Crítica de Hawkeye

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Como eu não sabia nada do personagem, eu jurava que o Cavaleiro da Lua agia de acordo com a Lua. Tipo, os seus poderes mudavam a cada fase. Na Lua Cheia, seus atributos se elevavam ao máximo. Na Lua Nova, ele sofria com fragilidades ou algo do tipo. É uma ideia legal, não acham? Não sei se existe algum herói assim.
  • Mano, a cena em que o Marc está no deserto com a Layla e precisa ceder o controle pro Steven é sensacional. A mudança súbita na expressão do Oscar Isaac, deixando clara a transição entre ambos, foi maravilhosa. E gostei muito dos dois. O Steven em alguns momentos me soou um pouco exagerado, mas levando em conta que ele era uma criação do próprio Marc pra se proteger, até que faz sentido.
  • Vocês também sentiram uma vibe meio Tomb Raider? Obviamente que sentiram, né, não sou tão especial pra ter sido o único. De qualquer forma, foi legal ver as aventuras do Marc e da Layla naquela tumba, sendo caçados por monstros e humanos e encontrando o corpo de Alexandre, o Grande. Poderia facilmente ser o roteiro de algum dos jogos da franquia de videogame.
  • A infância do Marc foi triste demais, bicho. Imagina ficar traumatizado ao ponto de criar literalmente uma nova identidade pra se proteger? É claro que não existe dor maior do que a mãe perder um filho, mas isso não justifica nem um pouco os atos da mãe do Marc após a morte do Randall. Como é que se culpa uma CRIANÇA por aquilo, cara? Pesado demais.
  • Sobre as motivações do Arthur Harrow, dá pra entender ele querer cortar o mal pela raiz, mas todo o modus operandi da Ammit me deixou meio confuso, não sei se por lerdeza minha. Afinal de contas, o que é levado em conta? A deusa de fato vê o futuro e evita que ele aconteça, matando outras pessoas no processo? Ou ela apenas lê a mente de cada um e faz o julgamento tomando como base pensamentos, e não futuras ações? Além do mais, todos os seus adoradores consequentemente estavam fazendo mal a outras pessoas, então eles deveriam ser decretados culpados também. A não ser que Ammit esteja levando em conta o “bem maior”, o que a torna uma grande hipócrita e retira qualquer tipo de justiça das suas ações. Se for esse o caso, eu acho uma pena, porque deixa de ser uma questão cinza pra se tornar injustificável.
  • A cena em que a Taweret diz “olá” pro Steven e pro Marc no corredor da morte é puro ouro. E, cara, eu gostei demais de todo aquele conceito de vida pós-morte, em que não existe apenas um futuro, mas sim vários. Gostaria que fosse tratado mais a fundo, é um tema que me pega demais.
  • Talvez seja uma opinião impopular, mas eu tive sentimentos conflitantes quanto à “transformação” da Layla. É claro que foi daora vê-la batendo em todo mundo, ostentando as asas e tal, mas a personagem já é foda por si só. Ela não precisa de uma entidade egípcia a dominando pra tornar isso realidade. Como não deve se tornar recorrente, dá pra passar.
  • A briga do Konshu com a Ammit no último episódio poderia ter saído de um episódio de Power Rangers. Ou talvez tenha sido o Godzilla vs Kong da Marvel.
  • Muito boa a cena pós-créditos. Fiquei meio contrariado com o Arthur Harrow sendo poupado depois da galera matar vários de seus seguidores pelo caminho, mas Jake Lockley chegou pra corrigir esse erro. Será que ele é a última personalidade ou tem mais? Mal posso esperar pra descobrir. E não, não quero saber como é nos quadrinhos, por favor.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Steven Grant/Marc Spector
É claro que a atuação de Oscar Isaac ajuda, não posso deixar de destacar isso, mas o(s) personagem(ns) é (são) naturalmente interessante(s). As suas múltiplas camadas culminam em uma constante identificação da nossa parte, de uma forma ou de outra. Layla também é uma personagem excelente, seguida de perto por Arthur Harrow.

Espelho, espelho meu, existe alguém mais transtornado do que eu?

+ Melhor episódio: S01E04 (“The Tomb”)
Embora eu seja fã de carteirinha do primeiro capítulo, o quarto episódio é o auge da série, com fortes inspirações em Indiana Jones. Tem pra todos os tipos: ação, drama, teorias, confusão, tiro, porrada, bomba. Incrível do início ao fim.

Uma das melhores adições femininas nesta Fase 4 do MCU

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).