Suspense/Terror

A Queda da Casa de Usher (2023)

a queda da casa de usher

• A promessa do corvo

Eu sou um grande fã de A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly, como já relatei nos meus pitacos. O que ambos têm em comum com A Queda da Casa de Usher? Bom, todos eles foram idealizados pela mesma pessoa: Mike Flanagan. É verdade que ele também comandou outras duas produções da Netflix, Missa da Meia-Noite e O Clube da Meia-Noite, que eu não cheguei a assistir ainda. Mesmo assim, depois de ouvir tantos elogios sobre o último trabalho do cineasta na empresa vermelhinha, pois ele está de malas prontas para se mudar pra Prime Video, precisei passar esta minissérie na frente. E não me arrependo da decisão.

 

Sinopse

Roderick Usher é um bilionário, que não entende muito bem o conceito de métodos contraceptivos. Com seis filhos, quatro deles de mães diferentes, o poderoso dono da Fortunato, uma empresa farmacêutica, vive uma vida descolada da realidade e centrada apenas na família. Na verdade, é praticamente um clã de pessoas que se odeiam, mas estão entrelaçadas eternamente pelo sangue. Porém, quando os herdeiros começam a ter destinos terríveis, Roderick é obrigado a encarar o próprio passado e as consequências dos seus atos.

Essa família é muito unidaaaa

Crítica

A Queda da Casa de Usher é inspirado no livro de mesmo nome e nos contos de Edgar Allan Poe, um dos maiores autores de terror gótico. A junção com a visão de Mike Flanagan, um dos melhores diretores do mesmo gênero na atualidade, cai como uma luva e o resultado final não poderia ser diferente.

Traçando um comparativo com A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly, há um grande diferencial em A Queda da Casa de Usher. A maneira com que o mistério é construído tem uma particularidade. Nas outras duas minisséries, a principal pergunta era “o que aconteceu?”. Aqui, o questionamento é “como aconteceu?”. Pode parecer algo pequeno, mas faz grande diferença.

A Queda da Casa de Usher logo de cara já deixa bem claro que a maior parte dos personagens morreu no tempo presente daquela história. Porém, não explica como é que eles morreram e quais foram as circunstâncias das tragédias. E, além de nos instigar com esse interesse mórbido, a série também deixa várias pontas soltas a respeito do passado mais longínquo dos irmãos Roderick e Madeline, e em como eles chegaram ao poder.

Mike Flanagan tem pleno domínio de seus personagens. Fazendo uma média geral, eles são menos carismáticos do que aqueles de Residência Hill e Mansão Bly, mas isso não é totalmente um demérito, até porque as outras duas séries são incríveis. Na verdade, essa característica é consequência da escolha criativa de explorar personagens odiáveis, corruptos e embriagados pelo poder. Por isso, você dificilmente vai se afeiçoar a alguém, mas isso não quer dizer que vai deixar de admirar os arcos pessoais de cada um.

O ritmo da narrativa é devagar, mas não arrastado. O estilo não-linear, que varia entre décadas a bel-prazer do roteiro, pode dar a impressão de que a série está andando em círculos, só que isso não acontece. Cada revisita ao passado tem um propósito, seja para explicar detalhes das personalidades dos protagonistas ou dar pistas do que vem a seguir. A trama é cuidadosa e atenta a tudo que está colocando em pauta, edificando vagarosamente um enredo que vai ficando melhor a cada episódio que passa.

Por questões de preferência pessoal, a única coisa que às vezes me tirava um pouco da série era o excesso de citações poéticas, provavelmente advindas de obras de Edgar Allan Poe. É tiro e queda; toda vez que uma série ou filme coloca um personagem pra citar alguma passagem, seja ela qual for, eu me distraio. Como esta obra aqui faz isso constantemente, chegou um ponto em que eu passava a me concentrar mais nas imagens do que no texto em si, até que os diálogos “normais” retornassem.

O desfecho é coeso e coerente, dando aquela satisfação do encerramento que somente uma minissérie pode fazer. Inclusive, isso me fez refletir uma vez mais sobre como uma história bem contada em pouco tempo normalmente vale bem mais do que uma de grandes ambições, mas que se perde no meio do caminho.

Ideia de fantasia pro Halloween desbloqueada

Veredito

Se você gosta de terror, suspense ou simplesmente adora histórias bem contadas, sugiro que dê uma chance para A Queda da Casa de Usher. São apenas oito episódios, e você não vai precisar se comprometer a acompanhar uma continuação daqui a um ano ou mais. É uma minissérie, então tudo que começa aqui, acaba aqui. De nada adiantaria se o resultado fosse negativo, mas a verdade não poderia estar mais distante disso. A trama atiça, os personagens desagradam (no bom sentido) e o senso de mistério é diferente do comum em títulos do gênero. Em sua despedida da Netflix, o cineasta Mike Flanagan nos relembra por que é um dos nomes mais importantes do terror atual. Nota final: 4,6/5.

Anteriormente em The Walking Dead…

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Ok, eu passei a maior parte do tempo pensando que o Roderick era sim uma pessoa ruim, mas ficava pior sob a influência da Madeline. Isso não deixa de ser verdade, mas não dá pra passar pano pras maldades do irmão. Ele sequer hesitou quando a Verna propôs sacrificar a linhagem, e olha que o cara já tinha dois filhos com a Annabel. Não dá pra dizer que não mereceu o que aconteceu com ele.
  • A Verna pode ser chamada de muitas coisas, mas dá pra considerá-la como uma entidade maligna? Certo, que ela não tem escrúpulos não há dúvidas, mas há ali um certo senso de honra e – por que não? – justiça. Um exemplo disso foi ela se sentindo mal ao ter de matar a Lenore e avisando a Morelle pra sair da boate antes de cair a chuva de ácido. Por outro lado, ela foi meio que indiretamente responsável pela morte de milhares de pessoas, ainda que finja o contrário e esfregue aquilo na cara do Roderick. Ela pode não ter apertado o gatilho, mas deu a arma pra um potencial assassino. Ou talvez eu esteja tentando encontrar senso demais em um ser que é essencialmente a Morte.
  • Mike Flanagan pode até ter dito que não pensou na “teoria dos sete pecados” enquanto estava escrevendo a trama, mas eu preciso dizer que adoro essa visão. Pra quem não sabe, existe uma teoria criada por fãs em que cada filho seria a representação de um pecado. Os mais óbvios são Perry (luxúria), Leo (preguiça) e Frederick (ira). Os outros são mais interpretativos. Pra mim, Tamerlane seria a vaidade, até por conta das alegorias com espelhos. Quanto à Camille, acredito que seria a inveja, até porque ela tá sempre querendo cuidar da vida dos outros. Em um sentido mais metafórico, Victorine poderia ser a gula, devido à sua fome constante e insaciável por reconhecimento, e Roderick fecharia a brincadeira com a ganância, por motivos que nem preciso explicar.
  • Pra vocês, qual foi a pior (ou melhor) morte? Acho que a mais icônica foi sem dúvidas a chuva de ácido em Perry, mas o processo de construção da queda do Leo também foi ótima, com toda aquela paranoia do gato. Opiniões divergem sobre isso, mas todos concordam que a mais satisfatória foi a do Frederick, né?
  • Não tem como não respeitar o senhor Arthur Pym. Tudo bem que ele acobertou segredos que prejudicaram milhares e tudo mais, só que não tô falando sobre ele ser uma boa pessoa, e sim um ótimo personagem. Ele tinha a chance de viver um final de vida mais “tranquilo”, apesar de todo o mal que tinha feito, mas se recusou a fazer um acordo com o Diabo. Eu sou fascinado por personagens que não cedem perante circunstâncias extremas, e a interpretação de Mark Hamill foi a cereja do bolo.
  • Cara, que ÓDIO daqueles sustos que eu levei nas cenas em que o Roderick conversava com o Auggie. Aquela em particular onde a janela atrás do Roderick explode me pegou de um jeito absurdo, e o pior é que esses momentos SEMPRE me pegavam desprevenidos, porque estavam espremidos no meio de um diálogo interessante.
  • Que doideira o fim que teve o Griswold. Até que os irmãos Usher foram misericordiosos em envenenar o empresário pra não deixá-lo passar dias atrás de um muro, no escuro, pra morrer de fome ou sede. Mesmo assim, foi uma das piores mortes, no sentido de horripilante. E aquela figura com o bobo da corte poderia ter aparecido mais vezes durante a série, tinha uma estética muito assustadora e intrigante.
  • Se fôssemos fazer uma lista dos piores herdeiros Usher, como pessoas, começando pelo pior, seria Frederick, Camille, Tamerlane, Perry, Victorine e Napoleon, certo? Alguém discorda?
  • O Auguste Dupin parecia uma pessoa tão decente que eu jurava que ele não fosse sobreviver, assim como a Lenore. Ainda bem que eu estava errado, e agradeço pela série ter feito isso. O grande tema da temporada foi que quanto maior o voo, maior a queda, e os personagens mais malignos foram sendo destruídos um por um. O único efeito colateral definitivo na trama principal foi da Lenore mesmo, por puro azar (e ainda bem que não tentaram “driblar” isso só pra fazê-la sobreviver). É legal que o Auggie tenha sobrevivido, apesar de tudo. As mesmas coisas valem para a Juno.
  • Pra encerrar, a Madeline ressurgindo das sombras após ser dada como morta, do mesmo jeito que a mãe, e punindo no processo não só a ela, como também o irmão, foi puro cinema.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Verna
Esta enigmática mulher rouba a cena toda vez em que aparece, e olha que ela possui menos tempo de tela do que vários outros personagens. O multifacetado Arthur Pym (interpretado por Mark Hamill) vem logo atrás, ficando em 2º lugar por uma ligeira diferença de pontos.

Garotas de cabelo curto são tão fofas :3

+ Melhor episódio: E02 (“The Masque of the Red Death”)
É bastante incomum o melhor episódio de uma série ser o segundo. Normalmente, é o primeiro, o último ou aquele exatamente na metade. Embora eu concorde que A Queda da Casa de Usher vai melhorando a cada capítulo, o momento mais impactante está aqui, estabelecendo de forma imponente a abordagem que seria utilizada dali pra frente.

Leia Organa e Luke Skywalker

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).