• Macro no micro
Desde que eu comecei a acompanhar religiosamente a Marvel, acredito que lá pra metade da Fase 2, eu sempre assisti a todos os filmes no cinema. Alguns deles, como Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, eu vi duas vezes nas telonas. A única exceção foi Viúva Negra, mas por conta da pandemia, então não dá pra considerar. No entanto, quebrei a minha sequência com Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Uma combinação de fatores fez com que eu não saísse de casa pra assistir: cinema caro, falta de empolgação com o atual momento do MCU e a aparente falta de qualidade do filme, de acordo com a maioria dos críticos e cinéfilos. Um dia antes de ver Guardiões da Galáxia Vol. 3, quis assistir o capítulo anterior da gigantesca franquia pra não colocar o carro na frente dos bois, ainda que eles não tenham relação direta um com o outro. De qualquer forma, não acho que o terceiro filme de Scott Lang seja tão ruim quanto disseram.
Sinopse
Com a família toda reunida depois dos eventos de Homem-Formiga e a Vespa e Vingadores: Ultimato, Scott Lang está vivendo uma vida mais calma após passar anos lutando contra o crime em uma agitação atrás da outra. Porém, a sua filha Cassie não compartilha do mesmo sentimento, e deseja fazer algo de útil pelo bem da humanidade. Por isso, secretamente, ela começa a investigar algum modo de coletar informações do mundo quântico. O problema é que a jovem acaba mandando um sinal que puxa não só Cassie, mas Scott, Hope, Janet e Hank para aquele universo microscópico, onde precisam enfrentar uma ameaça de proporções imensas.
Crítica
É inegável que a expectativa (ou a falta dela) afeta diretamente a nossa percepção sobre as coisas. Quanto maior a expectativa, maior a chance de que a gente se decepcione. Por outro lado, quanto menor a expectativa, maior a chance de que a gente acabe aproveitando a experiência. Acredito que isso aconteceu parcialmente em Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania, mas creio que não foi o fato determinante porque, mesmo antes de eu ficar sabendo das avaliações negativas, o meu hype para o filme não estava tão grande assim.
Afinal de contas, a franquia do Homem-Formiga nunca foi particularmente empolgante. O primeiro filme é muito divertido, e o segundo tem suas partes legais. Portanto, o que eu esperava com o terceiro capítulo era algo similar, embora a inserção de Kang, o Conquistador como antagonista dava um tempero a mais de seriedade. Mesmo assim, a minha expectativa era de acompanhar uma história condensada, sem tanto compromisso.
De certa forma, eu acertei. O roteiro toma a decisão de apresentar a história dentro de um universo limitado. No caso, o Reino Quântico. Portanto, a trama não precisa arcar com a responsabilidade de introduzir mais uma ameaça na Terra ou então em algum ponto aleatório da galáxia (algo que seria estranho por se tratar do Homem-Formiga e da Vespa). Como o que acontece no Reino Quântico não afeta os seres humanos diretamente, o enredo tinha total liberdade de fazer o que bem desejasse naquele mundinho microscópico.
O problema é que Quantumania não sabe muito bem o que quer da vida. Ele não tem certeza se deseja ser uma comédia ou um drama, não se decide acerca do vilão, que naturalmente será o próximo grande antagonista depois de Thanos, e o insere de forma estranha dentro de um filme que demandava uma ameaça mais “discreta”, por assim dizer. Colocar o Kang contra alguns dos heróis mais fracos do MCU e fazer com que eles tenham a chance de derrotá-lo faz com que a gente duvide da real capacidade do vilão em ameaçar figuras consideravelmente mais poderosas, como a Feiticeira Escarlate, o Doutor Estranho e a Capitã Marvel.
Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania é um filme que não consegue acertar o seu tom, e o roteiro infelizmente não é grandes coisas. Um dos piores elementos, no entanto, é a parte visual. O Reino Quântico é excessivamente artificial, com um CGI pesado que acaba nos afastando como espectadores. Aquele lugar simplesmente não parece real, o que acaba com a imersão e suspensão de realidade necessários para que possamos mergulhar de cabeça na história. O segredo da ficção é nos enganar a ponto de acreditarmos por um momento que aquilo tudo pode acontecer, e a artificialidade do Reino Quântico impede que isso ocorra. Depois de assistir Guardiões da Galáxia Vol. 3, que tem um ótimo CGI, essa característica ficou ainda mais evidente. Pra piorar, o filme bebeu até demais da fonte de Star Wars, e ficou parecendo uma cópia barata da atmosfera criada por George Lucas.
Contudo, eu não julgo que Quantumania é esse desastre total que pintaram por aí. Acho que, dentro do próprio MCU, tem pelo menos uns três filmes piores. O Homem-Formiga e a Vespa, que emprestam seus nomes pro próprio título, de fato estão bastante apagados, principalmente a Hope Van Dyne. Em compensação, temos boas surpresas, como as novas camadas adicionadas à personagem de Janet Van Dyne. Além disso, eu gostei do desenvolvimento de Kang como um vilão pontual, ainda que ele perca força como antagonista central da franquia.
Veredito
Em termos gerais, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania me divertiu enquanto eu assistia. Ele não me entediou como O Incrível Hulk ou me deixou com um gosto amargo na boca, como Thor: Amor e Trovão. Passa bem longe de ser uma obra-prima e é um dos menos inspirados em termos de roteiro dentro do MCU, enfraquecendo seus protagonistas e tentando ser mais do que deveria ser. É um filme meio Sessão da Tarde, que você provavelmente vai se entreter enquanto assiste, mas sem pensar muito no assunto. Infelizmente, é uma pérola que surge no momento de maior crise da saga desde a sua concepção, o que faz com que pareça pior do que realmente é.
Aviso: Tem duas cenas pós-créditos.
>> MCULeleco #12 – Homem-Formiga
>> MCULeleco #20 – Homem-Formiga e a Vespa
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes
Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Achei super nada a ver o argumento da Cassie (e do Hank também) de que o Scott se acomodou demais e que ele estava errado em querer levar uma vida mais tranquila. Mano do céu, o cara literalmente lutou contra o THANOS, não tem obrigação nenhuma de continuar salvando o mundo se aquele não era o seu desejo. A galera nem mesmo deu o devido reconhecimento a ele por ter tido um papel fundamental em Vingadores: Ultimato. Pelo amor de Deus, o cara lá da loja achou que ele era o Homem-Aranha durante meses. Por que diabos Scott deveria continuar arriscando sua vida? E, por conta dessa necessidade infantil de se provar, a Cassie simplesmente enfiou todo mundo no Reino Quântico, incluindo a Janet, que tanto demorou pra sair de lá. Sacanagem com ela, acima de tudo.
- Sim, eu me iludi pensando que o personagem do Bill Murray seria importante. O cara morreu com uns dez minutos de tela. Imagina o cachê que ele deve ter recebido só por essa brincadeirinha.
- Eu gostei do personagem do Quaz (do ator que faz o Chidi em The Good Place), mas de fato é um superpoder que seria muito mais útil em um ambiente “mundano” do que nas ameaças interplanetárias da Marvel. Mesmo assim, não sei se é uma habilidade que eu gostaria de ter, ainda mais o tempo todo.
- É, eu acho que não gostaria de ser o Veb também, não deve ser muito agradável ser uma gosma. E confesso, quando o Quaz falou que o Scott tem sete buracos, eu e minha namorada pausamos o filme e divergimos sobre um deles. Eu pensava que o sétimo fosse o umbigo, mas ela argumentou que era a uretra. De fato faz mais sentido, até porque o umbigo não é um buraco, e sim uma cicatriz. Sim, esse é o tipo de conteúdo que vocês podem esperar do Pitacos do Leleco.
- Não consigo entender por que diabos o Kang não usou todo o seu poder pra matar o Homem-Formiga e não dar chance pro azar, antes que sua fuga fosse interrompida pelo super-herói. Se ele era tão fodão, dava pra sair por alguns minutos, destroçar o Scott e voltar a tempo pro café da manhã, não? Até tentei me convencer de que esse foi o lado humano do Kang, que, na pressa de ir logo embora, subestimou o inimigo, mas sei lá. Pra alguém que se mostrou tão inteligente, essa decisão me pareceu ridiculamente estúpida. E, quando ele foi derrotado pelas formigas, eu achei legal e tal, mas me deu a impressão de que o pessoal do Reino Quântico tinha medo dele à toa.
- Vocês também ficaram com a sensação de que a Hope “sobrou” no filme? Tadinha, não deram nada pra ela fazer, teve um breve momento de destaque na luta final contra o Kang, mas foi só. Esqueceram a bichinha no churrasco.
- E, por falar em esquecer, fiquei triste que não deram espaço pro Luis, nem mesmo pra uma ceninha no final do filme ou algo do tipo. Depois que parei pra refletir, Quantumania não é um filme ruim, mas é bastante sem alma, algo que sobrava nos outros capítulos da trilogia. E eu nem sabia que o ator do Kurt, que tá nos outros dois filmes, também tá neste terceiro como outro personagem, o Veb.
- Sobre a Jentorra, vi que teve bastante gente que gostou dela e tudo mais. O meu sentimento pela personagem foi o mesmo em relação a todos os outros habitantes do Reino Quântico: méh.
- Não sei se eu gostei muito do que fizeram com o M.O.D.O.K., e não tem nada a ver com o visual tosco dele. Não que eu seja um grande conhecedor do personagem nos quadrinhos, mas fiquei sabendo que a decisão de fazê-lo ser o Darren Cross de Homem-Formiga foi algo específico do MCU. Eu gostei da ideia de trazerem de volta o personagem, porque faz sentido ele ter ido parar no Reino Quântico. Mas, em vez de trabalharem bem o seu rancor para com o Scott, transformaram-no em um personagem… bobo. Se eu fosse o roteirista, teria na verdade só mencionado o Darren como um easter egg, tipo com alguém dizendo que algum tempo atrás, se encontraram com um homem de jaqueta amarela dizendo coisas sem sentido sobre um planeta maior do que aquele. Mas, se era pra aproveitá-lo como vilão, que o tratassem como tal. Pra alguém que era tão “poderoso”, ele não fez praticamente nada, e a sua “virada pro bem” foi tão súbita quanto besta.
- Incrível como os caras nem disfarçaram a inspiração no universo de Star Wars, né. Só faltou o vilão ser o Varth Dader, porque toda a estética e atmosfera foi praticamente uma cópia, sobretudo naquele bar.
- Marvel, se você não tivesse colocado aquela cena pós-créditos com trocentos Jonathan Majors, a ausência dele no restante da franquia seria bem melhor justificada. Não que isso seja empecilho, considerando que já houve recast do Máquina de Combate e até da própria Cassie, mas é meio estranho. E, sobre a outra cena pós-créditos, ela realmente me deixou empolgado pra segunda temporada de Loki, mesmo que ainda tenhamos a (última) presença do Jonathan Majors.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Janet Van Dyne
Foi a primeira vez em que a Marvel realmente a colocou nos holofotes pra brilhar por si própria, sem a sombra dos outros. Do grupo de heróis, foi a mais interessante. Quanto ao Kang, eu gostei dele aqui, mas o fato de prepararem-no para ser o próximo megavilão da Marvel e o inserirem em um filme “filler” acaba tirando alguns pontos.
+ Maior decepção: Hope Van Dyne/Vespa
Scott, Hope, Hank e Cassie, todos eles estiveram meio apagados neste filme. Apesar de tudo, porém, Scott, Hank e Cassie tiveram seus momentos, ainda que isolados. Quanto a Hope, o filme simplesmente não soube o que fazer com ela. Uma pena, porque a Vespa tinha sido a Melhor Personagem no filme anterior da trilogia.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?