• Rocky n’ roll

Fazia tempo que eu não ficava empolgado com o MCU. Não, eu não acho que tudo que veio depois de Vingadores: Ultimato foi ruim. De lá pra cá, tivemos bons filmes como Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis e o evento Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, e boas séries como WandaVision, Loki e Cavaleiro da Lua. Mesmo assim, foram situações isoladas, em meio a várias produções medianas ou até mesmo fracas. Guardiões da Galáxia Vol. 3 chegou pra quebrar essa sequência negativa. No último capítulo do grupo mais carismático da Marvel, o diretor James Gunn deixa bem claro que a franquia sentirá a sua falta, e que a DC estará em boas mãos ao longo dos próximos anos.

Sinopse

Depois de se estabelecerem em Luganenhum, os Guardiões da Galáxia vivem uma vida pacífica, ainda que atribulada no caso de Peter Quill, abalado pela perda da Gamora tal como ele conheceu. Tudo muda quando a vida de Rocket Raccoon fica em perigo, e o seu passado traumático é trazido à tona. Em uma corrida contra o tempo, a equipe precisa salvar o amigo, ao mesmo tempo em que deve lidar com a figura do Alto Evolucionário, um genocida metido a Deus que tem como objetivo criar uma sociedade “perfeita”.

Crítica

Eu sou suspeito pra falar deste filme, porque Guardiões da Galáxia é simplesmente o meu favorito da Marvel. Eu também tenho um ponto fraco com Os Vingadores, mas ele ainda fica um pouco abaixo na minha lista. Quanto a Guardiões da Galáxia Vol. 2, confesso que eu não gostei tanto dele quanto do primeiro, e minha expectativa era de que o terceiro pelo menos fosse superior ao segundo. E ele é amplamente melhor.

Não lembro da última vez em que eu ri e chorei tanto em um único filme. Guardiões da Galáxia Vol. 3 possui a habilidade de misturar uma comédia genuinamente engraçada com sequências tocantes, especialmente pros fãs mais apaixonados pela franquia. Tem uma cena envolvendo Mantis e Drax que me fez ficar com os olhos marejados de tanto dar risada. Posteriormente, as melancólicas despedidas me deixaram novamente com os olhos marejados, mas desta vez por motivos bem diferentes.

A trama do filme transborda urgência. Diferentemente dos outros dois, o terceiro capítulo tem uma história muito mais intimista. A importância maior está dentro do grupo, e não em uma ameaça externa. Apesar disso, o Alto Evolucionário é um bom vilão. Não achei espetacular como muita gente julgou por aí, mas funcional o suficiente pra se colocar acima da média. Além disso, é inegavelmente o melhor antagonista da trilogia, mesmo que isso não seja muito impressionante. Afinal de contas, Ronan e Ego não foram lá essas coisas, né.

É difícil mensurar qual o maior acerto de Guardiões da Galáxia Vol. 3, mas grande parte da força está, novamente, nos personagens. Dois deles perderam espaço neste último filme da trilogia: Peter e Groot. Ambos minguaram enquanto outros despontaram, mas ainda assim os dois tiveram suas importâncias. Uma outra boa notícia foi Kraglin, que eu achava meio chato e aqui ganhou parte da minha simpatia. Quanto a Adam Warlock, eu o achei apenas OK. Entendo quem o considera como decepção pois aparentemente é alguém relevante nos quadrinhos, mas como eu não tenho essa base, não estava esperando por nada em específico.

Houve outra surpresa agradável que me saltou aos olhos, de uma maneira até literal. Os efeitos visuais de Guardiões da Galáxia Vol. 3 são muito bons, ainda mais quando comparados com o filme anterior, Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania. Toda a direção de arte colorida é muito bonita de se ver, criando um espetáculo que vai além de roteiro e elenco. A trilha sonora não é tão marcante quanto no primeiro filme, por exemplo, mas há aqui boas escolhas musicais. Logo na abertura, inclusive, a sequência com uma versão acústica de Creep, do Radiohead, já nos coloca imediatamente no clima de urgência e melancolia que o filme carrega.

As cenas de ação também são ótimas. Uma delas se destaca, e se você assistiu ao filme, já sabe qual é. Tem algo mais legal do que um combate em plano-sequência? Guardiões da Galáxia Vol. 3 tem um desses momentos, que me deixou sorrindo que nem bobo a cada golpe dos personagens que tanto me fizeram sorrir em outras ocasiões. O filme também faz isso muito bem: mesmo com aqueles que perderam força, como os já citados Peter e Groot, a direção de James Gunn dá algum jeito de escolher pelo menos uma cena em que vão se destacar individualmente, como se fosse um último presente para os fãs.

Veredito

Guardiões da Galáxia Vol. 3 é o melhor filme da Marvel desde Vingadores: Ultimato. Eu sei que a competição não era tão grande assim, mas o desfecho da trilogia desbanca tranquilamente os bons Shang-Chi: A Lenda dos Dez Anéis e Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa. Sabendo exatamente como trabalhar temas sensíveis e misturar emoção, comédia e aventura, tudo isso em meio a um espetáculo audiovisual, a despedida de James Gunn é o jeito perfeito de dar adeus ao grupo que ninguém esperava que fosse dar certo, e acabou se tornando um dos mais queridos do público. É possível argumentar que faltou uma certa dose de ousadia e coragem ao roteiro, mas nada que afete a experiência proporcionada por esse bando de desajustados.

Aviso: Tem duas cenas pós-créditos.

>> MCULeleco #10 – Guardiões da Galáxia

>> MCULeleco #15 – Guardiões da Galáxia Vol. 2

>> Eu Sou Groot/Guardiões da Galáxia: Especial de Festas

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

• Eu achei interessante como trataram a relação do Peter e da Gamora, de verdade. A saída mais fácil era fazer com que ela voltasse a se apaixonar por ele, com aquele argumento de que quando duas pessoas foram feitas uma pra outra, o amor sempre vai dar um jeito de aparecer. Acho que o fato dos dois não ficarem juntos e ela não devolver o amor do Quill é bem mais original e faz muito mais sentido, considerando que não é a mesma Gamora. O nome e a aparência são os mesmos, mas o contexto de ambas é totalmente diferente. E achei legal também que a família dela acabou sendo os Saqueadores, embora tenha criado um laço com os Guardiões.
• Sério, a cena em que a Mantis hipnotiza o guardinha pra que ele se apaixone pelo Drax, e ele revira os olhos dizendo “de novo não”, foi uma das que eu mais ri em muito tempo. Os dois juntos são muito bons, e individualmente também. Ela domando aqueles animais gigantes, ele conversando com as crianças. Dois personagens incríveis, espero que ainda apareçam no MCU em momentos ocasionais.
• Eu também gostei da Nebulosa neste filme. É bem verdade que não cheguei a considerá-la como Melhor Personagem em nenhum dos filmes que apareceu, mas na maioria deles esteve pelo menos entre as três melhores. Aqui, não foi diferente. Eu acho interessante de ver como ela lida com a dor, sendo madura o suficiente pra entender algumas coisas, como a Gamora não sendo tecnicamente a sua irmã, ainda que esconda uma fragilidade inevitável, como vimos na cena com as crianças. E ainda teve aquela cena de ela usando o próprio corpo na nave lá, que foi bem legal.
• Quem não se arrepiou com a abertura do filme, ao som de Creep, não tem alma e nem coração. E mano, que história a do Rocket, hein? Sim, eu acho que faltou um pouquinho de coragem do roteiro em deixá-lo ir depois de tanta tragédia, mas também fiquei feliz de ele ter sobrevivido. E se a Nebulosa falou que aquilo que foi feito com ele conseguiu ser pior do que a tortura do Thanos, dá pra gente ter uma ideia do quão horrível foi o passado do Rocky. E, só pra concluir, fica aqui meu “????” pra pessoa aleatória do Twitter que deu a ideia da Disney produzir uma série com mais detalhes da amizade entre Rocket e os outros animais das jaulas. Essa é a última coisa que a gente precisa, sinceramente.
• Sim, eu gostei do Alto Evolucionário como vilão, e gostei da interpretação do Chukwudi Iwuji. Mesmo assim, não é um vilão que eu vou lembrar lá na frente e pensar “nóóó, esse vilão foi foda”. Ele ainda fica muito atrás de Thanos, Loki, Killmonger, Soldado Invernal e Abutre. Acho que também fica abaixo do Duende Verde e talvez do Ultron,  que eu acho muito subestimado, mas entendo quem não gosta.
• Quando você estiver se sentindo mal consigo mesmo, lembre-se de que o Kraglin demorou dias pra reconhecer que a Cosmo era sim uma boa garota. Imperdoável. E como é legal ver a Maria Bakalova participando da Marvel, mesmo que só através de sua voz.
• Adam Warlock foi responsável por quase matar o Rocky e então salvar a vida do Peter. É esse o equilíbrio que o Thanos tanto falava?
• Sim, eu confesso que levei um susto quando ouvi o Groot falando algo sem ser “eu sou Groot” no final, mas eu pensei que fosse óbvio que ele não falou de fato aquilo, mas sim que foi a primeira vez que NÓS entendemos o que ele falou. E não digo isso tentando ser o inteligentão, é mais porque nenhum dos Guardiões reagiu de um jeito diferente naquele momento, aí eu deduzi.
• Percebi que algumas pessoas não gostaram muito do quão longa foi aquela cena dos Guardiões cantando e dançando em Luganenhum, ao som de Florence + The Machine. Mas, mano, pra mim não teve jeito melhor de encerrar o ciclo. Me emocionei mesmo, tô nem aí.
• Será que veremos mais aventuras dos novos Guardiões da Galáxia, liderados por Rocket Raccoon e com as presenças ilustres de Groot, Adam, Kraglin, Blurp, Cosmo e Phyla? Não há o mesmo carisma do grupo original, é claro, mas eu estaria disposto a dar uma chance, nem que seja em um outro Especial de Natal.
• A segunda cena pós-créditos mostrou que o Senhor das Estrelas voltará, após se reunir com o seu avô. Por que só ele? E quanto aos outros Guardiões? Será que veremos algum deles novamente além do Quill? Muitas perguntas, nenhuma resposta.

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

+ Melhor personagem: Mantis (menção honrosa à Nebulosa)
Essa foi difícil de escolher. Eu sei que a opção mais óbvia é de colocar o Rocky aqui neste posto, mas, na minha opinião, apesar de ele ser o catalisador da trama e ela girar em torno dele, o personagem em si aparece relativamente pouco. A Mantis, por outro lado, roubou a cena sempre que esteve presente, algo que já havia acontecido em Guardiões da Galáxia: Especial de Festas. Cito também a Nebulosa como uma ótima personagem, que solidificou o seu espaço ainda mais no MCU.

+ Maior evolução: Rocket Raccoon
Pra não ficar injusto com o protagonista do filme, não poderia deixar de colocá-lo como Maior Evolução. Isso porque finalmente pudemos conhecer a sua trágica história pregressa, adicionando centenas de camadas novas ao personagem, que sempre foi o meu favorito dentro dos Guardiões.

+ Mais subestimado: Drax
Fui dar uma olhada na minha lista de premiações de todo o MCU, e percebi que Drax jamais foi mencionado como o vencedor de algo. Por isso, considerando toda a sua trajetória desde o primeiro Guardiões da Galáxia, concedo aqui um prêmio de honra pela evolução que o personagem apresentou até se tornar um dos pilares do grupo.

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?