Comédia dramática, Nacionais

LelecoNacionais #05 – Estômago (2007)

estômago

• Peixe morre pela boca

Eu tô começando a melhorar um péssimo hábito que tenho, relativo ao consumo de obras audiovisuais. Infelizmente, 90% das coisas que eu assisto são dos Estados Unidos. Uns 7% são de outros países, principalmente em época de Oscar, e uma parcela de mais ou menos 3% consiste em filmes brasileiros. Talvez a porcentagem exata não seja essa, mas o ponto é que dá pra contar nos dedos quantos longas tupiniquins eu vi nos últimos anos. E foi por isso que eu criei o quadro LelecoNacionais aqui no blog, começando por Bacurau, passando por Tropa de Elite e Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, e também por Cidade de Deus. Agora, é a vez de Estômago.

 

Sinopse

Raimundo Nonato é um homem simples. Após se mudar do interior do Nordeste para uma cidade grande, rapidamente se depara com inúmeros obstáculos. Contudo, quando descobre a respeito do próprio talento no ramo da culinária, ele começa a prosperar e sua vida passa a ficar melhor. O problema é que, nos tempos atuais, Raimundo Nonato se encontra na prisão e precisa novamente se adaptar. Mas como é que ele foi parar lá? E será que vai conseguir sobreviver com sua ingenuidade em um ambiente tão hostil?

Não lembro dessa parte no BBB

Crítica

Normalmente, eu começo as minhas críticas falando dos elementos positivos e depois começo a escrever sobre as coisas negativas. Hoje, vou fazer o inverso. Isso porque eu preciso contextualizar um negócio. Estômago é um filme de 2007. De lá pra cá, se passaram duas décadas. Por isso, é óbvio que certos aspectos da linguagem são datados, principalmente a personagem de Íria, interpretada por Fabíula Nascimento. O interesse romântico do protagonista é pra lá de importante na trama, mas não tem sua personalidade muito bem trabalhada. Ela existe quase exclusivamente pra representar a gula e a luxúria, e é a única mulher com alguma relevância ali.

Sim, eu acho que os argumentos de crítica em relação à maneira como o filme retrata a figura feminina são válidos. Mas, novamente, não podemos julgar obras de arte tendo como base os nossos olhos, a nossa realidade e a nossa época. Portanto, embora isso incomode em alguns momentos, acredito que seja necessário dar uma colher de chá porque o mundo mudou demais em um curto espaço de tempo. Dito isso, vamos em frente com a resenha.

Estômago é um filme divertidíssimo com personagens extremamente carismáticos. O roteiro é inteligente e o diretor Marcos Jorge teve a “sorte” de trabalhar com um elenco talentoso e comprometido com seus respectivos papéis. O destaque fica pra João Miguel, que vive Raimundo Nonato. O ator é capaz de transmitir de forma impressionante todas as camadas do protagonista, desde a sua inocência até a mudança gradual de pensamento e comportamento, sem que isso pareça corrido ou inorgânico. Babu Santana (ele mesmo) também está muito bem.

A narrativa é instigante, existindo em duas linhas do tempo diferentes. Em determinadas sequências, eu fiquei mais interessado no que estava acontecendo no presente do que no passado, e em outras cenas a situação se invertia. Isso às vezes acaba sendo um pequeno problema, mas que é rapidamente remediado pela originalidade latente naquele enredo. E, novamente, os personagens são tão carismáticos e a história é tão intrigante e divertida que dá pra perdoar alguns tropeços no ritmo.

A conclusão é memorável, aplicando uma reviravolta que não chega a ser daquelas que explode a nossa cabeça, mas funciona no contexto da trama e faz sentido com tudo o que havia sido proposto até ali. Definitivamente, fiquei curioso pela sequência que estreia neste ano.

Ela deve estar cantando uma ópera bem bonita, né

Veredito

Multipremiado nacional e internacionalmente, incluindo uma vitória como Melhor Filme no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro de 2008, Estômago esbanja originalidade e possui ingredientes que o tornam único não só no contexto daqui, mas na sétima arte em si. É um filme descolado e esperto, cheio de malandragem e com um protagonista capaz de despertar diferentes sentimentos na gente. Se você está buscando por uma joia brasileira que nem sempre ganha o devido valor, essa aqui é uma pedida certeira.

Um dia de almoço na xepa

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: pra saber sobre quais filmes eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco: Filmes

Nota nº 4: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Ok, eu não quero bancar o espertalhão aqui, porque eu odeio esse tipo de pessoa. Porém, a revelação de que o Raimundo envenenou o Bujiú não me surpreendeu tanto assim, porque a história tava meio que telegrafando que aquilo aconteceria. Isso não significa que a reviravolta não tenha me deixado satisfeito, pois fez total sentido com o desenvolvimento do protagonista.
  • Uma das coisas mais legais desse filme foi tentar adivinhar por que exatamente o Raimundo foi parar na prisão. Primeiro, eu pensei que ele mataria o Zulmiro. Depois, fiquei desconfiado de que algo aconteceria com a Íria e o Giovanni, o que de fato provou ser verdade. Mas eu jamais esperava que o Raimundo fosse cortar um pedaço da coxa da Íris e fritar na frigideira. Misericórdia.
  • Eu sei que o Giovanni meio que mereceu, mas me deu uma certa agonia do Raimundo bebendo aquela bebida super antiga lá só pra se embriagar e se vingar do patrão. Eu queria ter tomado um gole daquilo, pô.
  • Por falar em agonia, fiquei tenso pensando que daria merda no almoço com o Etcétera. Eu não parava de dizer pro Raimundo, em direção à televisão: “faz o simples, moço!!!”

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Raimundo Nonato
Na superfície, o protagonista parece apenas um homem simplório constantemente enganado pelo jeitinho brasileiro pulsante sobretudo nas metrópoles. À medida que a história avança, percebemos que há ali muito mais do que os olhos podem ver.

Será que ele venceria o Carmy de The Bear em uma luta?

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).