• Quanto maior a altura…
…maior a queda. Não é novidade o que eu vou escrever aqui. Na verdade, é até um pouco batido. A soberba e a arrogância são duas das maiores inimigas do sucesso. Não, você não precisa ser completamente humilde a ponto de se subestimar, até porque, se não acreditar em si mesmo, o mundo não fará isso por você. Mesmo assim, é melhor mesclar a confiança com os pés no chão, justamente pra que não dê um passo maior do que as pernas, sem perceber que logo abaixo tem um fosso perigoso. Em meio a essas alegorias, está a quarta temporada de Last Chance U, a maior prova de que se você se achar demais, pode não conseguir se encontrar.
Sinopse
Depois de uma temporada histórica, que serviu pra lavar a alma dos torcedores, administradores e habitantes da cidade de Independence, no Kansas, as expectativas estão mais altas do que nunca. A fé no programa do técnico Jason Brown se estabeleceu, e novos jogadores talentosos entram em cena pra continuar elevando o patamar dos Pirates. No entanto, algumas coisas não saem como planejado e, mais do que nunca, a equipe vai precisar se reinventar pra não flertar demais com o fracasso.
Crítica
Um documentário só pode ser roteirizado até certo ponto. Que culpa teria a série caso a trama não fosse interessante? É possível mascarar, tentar tirar leite de pedra e investir nas poucas peças que podem vir a render algo, mas, se a realidade não ajudar, a representação dessa mesma realidade pode não parecer tão atraente.
Isso acomete a quarta temporada de Last Chance U. Em todas as outras três, nós espectadores ficamos acostumados com as vitórias, com a expectativa de buscar títulos. Citando a própria série, todos amam vencedores. Em um documentário esportivo, a maioria das pessoas não quer ver fracassos. Os times podem até falhar, mas é necessário que pelo menos se construa uma história épica em volta. Algo diferente ocorre aqui. Não vou dar detalhes demais porque é legal ver sem saber exatamente o que vai acontecer. Eu não tive essa oportunidade pois acabei pegando spoiler, e não quero que vocês passem pela mesma coisa.
O fato é que falta carisma na quarta temporada de Last Chance U. Se as vitórias nem sempre vinham, a série compensava ao explorar a vida de seus personagens centrais. Desta vez, são poucos os jogadores pelos quais a gente realmente torce, pois há um senso de amargura no ar que me fez, inclusive, torcer pra que as coisas dessem errado em determinados momentos. Quem curte esporte vai se identificar com a seguinte visão: não tem nada mais irritante do que um atleta que ainda não provou nada e se acha a última Coca-Cola do deserto.
Mas o pior de todos, nesse mesmo sentido, é o narcisista head coach Jason Brown. Que cara mais irritante. Eu vou dar o braço a torcer e dizer que ele é um ótimo recrutador, mas digo com tranquilidade que é um péssimo técnico. Na temporada passada, ele já dava sinais de que possuía mais lábia do que qualidade, mas o mínimo sucesso do ano anterior o deixou em um salto alto descomunal.
Por esse motivo, dava vontade de ver os Pirates perderem só pra ver a cara de tacho dele. O excesso de confiança nem sempre é uma coisa ruim. Porém, pro cara abdicar da humildade e mergulhar na soberba, ele TEM que ser o melhor. Por exemplo, na NFL, o Tom Brady pode ter pose, porque o cara tem 200 milhões de anéis de Super Bowl na carreira. Ele tem o direito de ser controverso, se quiser, embora opte por não ser. Agora, não dá pro Baker Mayfield fazer a mesma coisa, sendo que jamais entrou na lista de melhores quarterbacks da liga.
O que eu quero dizer com isso tudo é que o material humano da quarta temporada de Last Chance U é o mais fraco até aqui. Quando não é a vaidade latente, é a apatia e o desinteresse. A produção da série faz o melhor que pode pra contornar esses problemas, concentrando-se nas batalhas pessoais contra a adversidade e, como de costume, na fotografia e trilha sonora de bastante inspiração. Na questão técnica, Last Chance U sobra, como sempre. Naquilo que não pode controlar, a obra sofre com o próprio ambiente que escolheu retratar.
Veredito
A quarta temporada de Last Chance U é um pouco inferior às suas antecessoras, e nem é culpa da série. Esse é o risco de se fazer um documentário em tempo real sobre um esporte no qual uma mísera derrota pode ser a diferença entre a classificação e a eliminação. A produção segue impecável, tanto na cobertura dos jogos quanto nos depoimentos dos jogadores. A primeira metade do conjunto é de alto nível, mas a qualidade cai um pouco na reta final. Chegou um momento em que eu desejava chegar logo ao fim do último episódio, pra poder ver aquela tradicional sequência mostrando os destinos de cada atleta. Eu parei de olhar pro presente e me senti mais curioso pelo futuro. Mesmo assim, foi uma experiência que valeu a pena acompanhar porque trouxe uma dinâmica diferente do que a gente havia visto até então. Nota final: 3,7/5.
>> 1ª Temporada de Last Chance U
>> 2ª Temporada de Last Chance U
>> 3ª Temporada de Last Chance U
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco
Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco
Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Cara, muito triste a situação do Bobby. Incrível como, mesmo com todo o talento e um certo apoio das pessoas ao seu redor, ele não conseguiu sair do buraco em que se enfiou. E, além de tudo, só foi Bobby ser dispensado que o time engrenou uma sequência de derrotas. Ele era um órgão vital da equipe, é uma pena gigantesca que não se firmou emocionalmente. O seu testemunho no último episódio me deu um certo otimismo pro seu futuro, mas li que neste ano ele voltou a se envolver em crimes. Que ciclo vicioso lamentável, de verdade.
- E o Jason Brown, hein? Que figura polêmica. Eu tenho plena consciência de que o ambiente em vestiários é daquele jeitinho, mas não deveria ser. Não é porque uma coisa é, que significa que precisa ser. Jason Brown não deveria ser técnico. E não tô falando dos palavrões dele, isso é o de menos. Todo mundo é adulto ali, incomodar-se com palavrão é coisa de gente careta. O problema é a pressão psicológica constante que ele exerce. Essa estratégia só funciona até certo ponto. Alguns jogadores desabrocham dentro da tensão, mas isso é raro. Ele não precisava ficar passando a mão na cabeça de todo mundo, e seria compreensível perder a cabeça algumas vezes. Agora, toda hora não dá, ainda mais quando as suas táticas claramente pararam de dar certo, e ele começa a prejudicar o próprio time ao ser expulso e reclamar excessivamente. Sobre a questão do Hitler, vou falar um pouco mais pra frente.
- KD, máximo respeito por ele. Impressionante como, apesar de tudo, um sorriso nunca deixava de aparecer em seu rosto. E a sua amizade com o Bobby era um dos melhores elementos do começo da temporada. Tomara que se dê bem na vida.
- Pra quem acha que a importância do professor é só ensinar matérias, veja Last Chance U. Latonya e Heather foram absolutamente essenciais nesta temporada. Suas orientações ajudaram a manter o foco de alguns dos garotos, ainda que outros não tenham conseguido sair do abismo.
- Voltando a falar sobre o time, que erro trazer o Malik de volta. As pessoas não mudam assim de uma hora pra outra. Sim, eu concordo que é preciso dar segundas chances, mas o caso de Malik era um negócio à parte. Inseri-lo nos Pirates novamente não seria dar uma segunda chance, mas sim insistir no erro e rachar o vestiário. Sem um pingo de disciplina, não teria como funcionar. Entendo o benefício da dúvida que o Jason Brown deu, mas não rolou.
- Por onde será que está o músico de cabelo loiro que liderava a banda de Indy? Será que virou algum compositor famoso?
- Muito interessante a discussão acerca dos gastos com jogadores e com a educação na universidade. Por um lado, de fato é o futebol americano que faz a economia do lugar girar. Por outro, é revoltante pra um estudante ver alguns setores sucateados da faculdade, enquanto a escola gasta milhares de dólares com um novo campo pro time. Até onde vale a pena abrir mão de um pelo outro? Debate complicado.
- A respeito do Markiese, confesso que não fui com a cara dele. Eu senti uma certa pena no final, quando as coisas não deram certo, mas ele precisava ter tido uma lição de humildade em algum ponto. Sem falar que o Jason Brown avisou trocentas vezes que não toleraria o uso de maconha, e o que o Markiese vai e faz? Fuma maconha. Se algo é proibido e pode custar o seu lugar no time, a primeira coisa que uma pessoa sensata vai pensar é em não fazer. Infelizmente, o wide receiver colheu o que plantou, mesmo com todo o seu talento.
- Bicho, e aquela briga entre Jason Brown e Jeff Sims? Aquele episódio foi elétrico, fiquei esperando a todo mundo uma tragédia acontecer. E sendo bem sincero, numa briga entre os dois, eu fiquei do lado da briga. O mais interessante de tudo, porém, foi o Sims defendendo o seu desafeto após o caso envolvendo o Hitler, que vou comentar a respeito agora.
- Inaceitável. Chamar um jogador alemão de Hitler ou dizer que você seria o Hitler pra aquele jogador é algo escroto, pura e simplesmente. Em um time sério, Jason Brown teria sido demitido imediatamente, sem nem pensar duas vezes. A única outra alternativa seria colocar o próprio técnico pra conversar com a imprensa e pedir desculpas publicamente, sofrendo algum tipo de sanção pesada antes de poder voltar a trabalhar. Ainda assim, com ressalvas. Jason Brown selou o seu destino naquele momento, e eu achei foi pouco ele perdendo o emprego. E tomaram a decisão correta, pois na temporada seguinte os Pirates voltaram a vencer a conferência.
- Pra completar, fico feliz que o Jason Martin tenha conseguido assumir o cargo de head coach dos Pirates. Não sabia dessa? Pois é, aconteceu no início de 2021. Depois de tudo que passou com a família, decisão merecida.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Kailon Davis (KD)
Possivelmente, o único jogador realmente carismático da temporada. Alguns personagens também tiveram seus momentos, como Bobby Bruce, as professoras Latonya Pickard e Heather Mydosh, o coordenador defensivo Jason Martin, além do próprio treinador principal Jason Brown. Sim, ele é uma figura controversa, mas não menos cativante. De qualquer forma, KD é um poço de bom humor em um ambiente tóxico de negatividade, o que ajuda a equilibrar as ações.
+ Melhor episódio: S04E04 (“Garden City”)
O ápice da temporada tem todos os elementos que você poderia pedir: confusão, emoção, ânimos à flor da pele. Um verdadeiro barril de pólvora. O segundo episódio também é excelente, mas por um motivo inteiramente distinto.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?