• Equilíbrio cósmico
Os Oito Odiados é recheado de simbologias. Na verdade uma em específico: o número 8. Isso pode parecer meio óbvio, já que são oito personagens centrais e trata-se do oitavo filme dirigido por Quentin Tarantino. Contudo, a obra é recheada de referências que eu não teria reparado se não fosse minha namorada me avisando. Do nada, alguém na tela diz que a recompensa é de 8000 dólares, em outro há uma menção de duas pessoas terem se conhecido há oito meses. Popularmente, o 8 é conhecido como o número do equilíbrio cósmico. Não sei o que tal definição significa exatamente, mas sei que o longa equilibra muito bem sua extensa duração e seu rico enredo.
Sinopse
Uma nevasca está vindo. John Ruth viaja pela esbranquiçada paisagem de um Estados Unidos posterior à sua Guerra Civil. Dentro de uma carruagem conduzida pelo cocheiro O.B., o caçador de recompensas conhecido como “Carrasco” transporta uma prisioneira chamada Daisy Domergue. No caminho, eles se deparam com outro caçador de recompensas, Major Marquis Warren, que pede carona para o refúgio mais próximo. Algum tempo depois, Chris Mannix, um futuro xerife, também pede auxílio contra as condições adversas do tempo. Juntos, os cinco resolvem parar em um local chamado “Armarinhos da Minnie”, onde se encontram com outras misteriosas figuras.
Crítica
Ao contrário de Django Livre, Os Oito Odiados administra bem o seu tempo de duração. Com quase três horas no total (o corte original tem 3h8min, mas na Netflix aparece com mais ou menos 2h45), ele volta a trazer uma proposta episódica que já se tornou marca de Tarantino. A diferença está na apresentação dos personagens, os quais vão surgindo numa ordem muito bem delineada e singular. A história desponta com o trio da carruagem, busca um outro caçador de recompensas e um futuro xerife na estrada e desemboca numa taverna. Cada um é apresentado à sua própria maneira e o filme dedica vários minutos para explicar ao espectador quem é quem. Neste sentido, o estilo lembra um pouco Cães de Aluguel, com uma carga reduzida de pessoas e um enredo compactado.
Como o cenário segue um formato meio teatral, o desenvolvimento dos personagens acaba sendo o ponto principal. A relação entre eles e os diálogos estabelecidos voltam a ser o ponto alto, com uma premissa simples, mas tão bem escrita que chama a atenção. São poucos os momentos que causam tédio, ao contrário do que se poderia pensar. A habilidade que o Tarantino tem com ritmos de trama é digna de nota, apesar de pra mim ter errado em algumas ocasiões. A trilha sonora é novamente uma qualidade imensa, pois conduz os acontecimentos de maneira perfeita. Palmas pra Ennio Morricone.
Se os personagens são bons, muito disso é por causa do recheado elenco. Samuel L. Jackson (de novo), Kurt Russell, Jennifer Jason Leigh, Tim Roth, Michael Madsen e até o Channing Tatum possuem partes, e todos fazem seus trabalhos muito bem. A obra alcança seu ápice a partir do terceiro ato, quando uma reviravolta toma conta e as coisas ficam frenéticas. Em resumo, Os Oito Odiados é um filme muito subestimado, mesmo não sendo a obra-prima do TCU.
Veredito
Personagens bem construídos, ótimos atores, história e diálogos escritos com uma dose alta de inspiração, aspectos técnicos esbanjando qualidade. Os Oito Odiados tem tudo isso e é um dos melhores filmes do Tarantino. Não é perfeito, claro. A sua longa duração não incomoda tanto, mas não deixa de ser um pouco desnecessária. Uma vez mais, o diretor se estende além do que precisava no primeiro ato. Muitas das ocorrências poderiam ter tomado parte já dentro dos Armarinhos da Minnie, para que sentíssemos mais na pele a passagem de tempo. Ademais (linguagem de ENEM aqui no Pitacos), vale a pena pra quem curte um cinema clássico.
>> A Sessão LelecoTarantino começou com Cães de Aluguel…
>> …e logo passou pelo icônico Pulp Fiction!
>> Pela primeira vez, pude acompanhar Jackie Brown,
>> e então conheci a história de Kill Bill, Vol. 1;
>> sua conclusão apenas no Vol. 2.
>> Acompanhei então À Prova de Morte, como nunca tinha visto antes?
>> Bastardos Inglórios tornou-se ícone, assim como seu sucessor:
>> Django Livre na área, em todo o seu esplendor.
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~
- O discurso do Major para o general aposentado segue como uma das melhores cenas do Tarantino Cinematic Universe. Não importa se ele realmente fez aquilo tudo com o filho do cara, só do outro ter imaginado em sua cabeça já valeu a pena pra caralho. E foi útil também pra eu aprender algumas novas alcunhas para designar o órgão genital masculino, como “big black johnson” e “ding dong”.
- Talvez o momento mais Tarantino do filme tenha sido o O.B. e o John vomitando sangue do nada em uma intensidade anormal. Da primeira vez que assisti, me lembro de ter ficado chocado com tudo aquilo e enojado com a Domergue sendo atingida pelo jato de seu captor. Ok, a última parte não mudou.
- A morte do Bob me lembrou algo proveniente dos jogos de Resident Evil, com o Major explodindo a cabeça do Mexicano com dois tiros de revólver à queima-roupa. Os assassinatos do Oswaldo e do Gage já foram mais tranquilos, colocando em perspectiva a trajetória do diretor.
- O tiro na cabeça que o Jody levou foi tão satisfatório, por tudo que a gente viu ele fazendo naquela mesma manhã. E pra castrar um cara com uma bala tem que ser muito miserável. A Daisy sendo enforcada também foi justo, com seus dois carrascos moribundos observando de perto. Fico imaginando a polícia visitando o lugar dias depois e vendo toda aquela carnificina.
- Fiquei tristão por todo mundo que morreu no flashback. A Minnie parecia tão simpática, principalmente depois de ter “aprendido” francês. O Sweet Dave eu já não sei, mas coitado. E foi massa ver a dublê de À Prova de Morte fazendo uma ponta também.
- A partir de hoje vou começar a falar que tenho uma carta de Abraham Lincoln. Bom, talvez não funcione, então vou falar que quem me enviou foi D. Pedro II, sei lá. Acho que causaria um impacto maior.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Major Marquis Warren
Pela segunda vez no Universo Cinematográfico do Tarantino, Samuel L. Jackson fatura o prêmio de Melhor Personagem. Não é pra menos, né, o cara participa de praticamente todo o TCU. De qualquer forma, ele merece.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?