Ficção científica

Westworld: 4ª Temporada (2022)

westworld 4

• Niilismo robótico

Quem leu o meu pitaco da terceira temporada de Westworld, sabe bem que eu tive um certo problema em ficar acordado durante os primeiros episódios, devido a vários fatores. Porém, quando a temporada alcançou sua metade, eu não pesquei mais em nenhum momento, pois a história havia me fisgado totalmente. Com a quarta temporada, algo parecido aconteceu. A pequena grande diferença foi que em nenhum momento eu consegui deixar de cochilar, e tornou-se um verdadeiro sacrifício chegar até o fim. Só por essa introdução, dá pra deduzir que eu acho esta aqui a pior temporada da série – e logo em seu encerramento precoce.

 

Sinopse

Sete anos após os eventos da temporada anterior, a clone de Dolores Abernathy no corpo de Charlotte Hale estabeleceu uma realidade em que os anfitriões controlam os humanos, e não o contrário. Os poucos humanos imunes à frequência utilizada para mantê-los na linha vivem à margem da sociedade, escondendo-se para sobreviver. Quando tudo aponta para uma aparente extinção da vida como ela é conhecida, as diferentes partes daquele decadente universo tentam encontrar soluções para evitar o destino.

Tá parecendo um figurino de Arrow

Crítica

Eu respeito muito histórias que buscam fugir do convencional e lidar com consequências terríveis, em vez de evitá-las a todo custo. Nesse sentido, preciso dar os créditos para a quarta temporada de Westworld. Niilista ao extremo, a trama não tem medo de trazer à tona o pessimismo e a visão de que, independentemente do que aconteça, alguns desdobramentos são inevitáveis e dolorosos.

A minha grande questão com a quarta temporada de Westworld é que a série ficou complexa demais pro seu próprio bem. Nas primeiras temporadas, havia um certo desafio que o enredo nos propunha, instigando-nos a ir além da superfície pra descobrir o que exatamente estava acontecendo. A quarta temporada tenta fazer o mesmo, mas, onde antes havia curiosidade, sobrou apenas desinteresse.

De repente, eu simplesmente desisti de compreender o panorama geral. Eu não sabia mais quem era robô, quem era humano, em que época a história estava se passando, quais eram as funções de determinados personagens e pra onde a trama estava caminhando. Chegou um ponto em que eu nem sabia mais o que estava assistindo.

Quando estávamos inseridos no contexto do parque da primeira temporada, fazia sentido um personagem levar um tiro na cabeça e ser “revivido” posteriormente pelos administradores do local. A partir do momento em que acontece no “mundo real”, as cenas acabam perdendo a força. Isso ficou ainda mais evidente em uma sequência específica do penúltimo episódio; poderia ter sido algo memorável, mas as repercussões normalmente são nulas em situações de “morte”.

A atriz Evan Rachel Wood, que havia sido o grande destaque da temporada passada, interpreta uma personagem sem graça e dispensável. A maior parte não consegue se firmar e entregar um bom conteúdo, tornando a experiência cada vez mais morosa. Até os aspectos técnicos, como fotografia e trilha sonora, que tanto impressionavam, não chamam a mesma atenção.

Voltando ao enredo, a impressão que a série me dá é de que os responsáveis por elaborar a trama não faziam isso de forma ampliada. Em outras palavras, é como se eles pensassem na temporada apenas até a conclusão dela, deixando um gancho desnecessário para o futuro somente pra justificar o fato da série continuar existindo. Ironicamente, Westworld é uma série que poderia ter acabado na primeira, na segunda e na terceira temporadas. Contudo, do jeito que a quarta acaba, surge aquela sensação de que ficou faltando alguma coisa, porque de fato foi o caso. A ideia original dos roteiristas era levar a série até uma quinta e última temporada, mas a HBO cancelou a produção por conta do alto custo e da baixa audiência.

Sinceramente, uma parte de mim fica aliviada que não exista uma quinta temporada. Por um lado, é verdade que o desfecho teria sido mais coeso e menos vago, mas a série já tinha perdido sua essência há muito tempo. Sinto que ela se tornaria ainda mais repetitiva, usando os mesmos recursos que já abordou antes. Quando fui procurar por avaliações de fãs a respeito da quarta temporada, fiquei surpreso que a grande maioria acredita que ela recolocou a série nos trilhos e foi uma das melhores depois da primeira. Infelizmente, eu não poderia discordar mais.

Sansa Stark em um futuro distópico

Veredito

Com uma trama dispersa, personagens pouco inspirados e um encerramento incompleto, a temporada final de Westworld é um símbolo da decadência pela qual a série passou desde o seu estrondoso início. É preciso ponderar que o legado foi afetado negativamente pela decisão dos bastidores de cancelar a produção logo antes da última temporada. Por outro lado, os criadores Jonathan Nolan e Lisa Joy ficaram empurrando tanto uma história que já não tinha muito mais a entregar, que a culpa por uma conclusão inacabada recai mais sobre eles do que sobre qualquer outra pessoa. Westworld tinha tudo pra ser um marco na história do entretenimento, com uma construção de mundo fenomenal e personagem multidimensionais. O que fica é a lembrança de uma introdução impecável, e as consequências de uma falta de planejamento e de não saber a hora certa de parar. Nota final: 2,8/5.

Tá aí uma personagem que tinha muito espaço pra crescer, mas acabou não ganhando essa chance

 

>> 1ª Temporada de Westworld

>> 2ª Temporada de Westworld

>> 3ª Temporada de Westworld

 

Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco

Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco

Nota nº 3: bateu aquela curiosidade de saber qual exatamente é a nota das temporadas, sem arredondamentos? Se sim, dá uma olhada aqui nesse link. Se não, pode dar uma olhada também: Gabarito do Leleco

Nota nº 4: pra saber sobre quais séries e temporadas eu já fiz críticas no blog, é só clicar aqui: Guia do Leleco

Nota nº 5: sabia que eu agora tenho um canal no YouTube? Não? Então corre lá pra ver, uai: Pitacos do Leleco

 

~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO A TEMPORADA INTEIRA. O AVISO ESTÁ DADO ~

 

  • Não entendi qual foi o sentido de deixar o William vivo. O clone dele não tinha cortado o pescoço do original no final da terceira temporada? Aí a série tá querendo me dizer que, depois de ter a garganta rasgada e sangrar bastante no chão, a Hale costurou a ferida dele e o colocou em cativeiro? Desculpa, mas isso me soa meio forçado.
  • Incrível como nenhuma das reviravoltas da temporada me deixou impressionado como antes. Eu gostei do plot twist do Caleb estando morto há duas décadas e aquele corpo dele ser uma versão robótica, mas a revelação da Christina/Dolores não ser real, no final das contas, só me deixou tipo “ok, massa”.
  • Aproveitando o gancho da Christina/Dolores, aquele arco dela não conseguiu me cativar. Parece que a personagem só gosta de temporadas ímpares. Na primeira e na terceira, ela foi um dos grandes destaques. Na segunda e na quarta, foi uma personagem bem aquém do que poderia mostrar. Pensei que a relação dela com o Teddy imaginário fosse reacender algo de diferente, mas eu não via a hora do episódio passar pra outra parte.
  • Maeve é outra que também oscilou bastante entre as temporadas. Na terceira, ela foi uma grande decepção, agindo como um mero peão do Serac. Aqui, Maeve voltou a ser aquela Maeve de antes, mas mesmo assim não alcançou o potencial máximo, como tinha acontecido na segunda temporada. A luta dela com a Hale foi bem massa de se ver, pelo menos, e gostei da relação dela com o Caleb.
  • Partindo para o assunto Caleb agora, ele mostrou bem claramente por que é uma pessoa tão especial no universo de Westworld. É uma pena que a sua reunião com a Frankie foi tão tardia. Gostaria de ter visto mais dos dois juntos, ele descobrindo coisas sobre a filha, ela podendo novamente ter aquela sensação de ser acolhida por uma figura paterna. Foi um bom núcleo, mas que poderia ter entregado muito mais.
  • Eu sou suspeito pra falar, porque gosto muito de profecias e personagens que conseguem prever o futuro ou coisas do tipo. Muito por causa disso, adorei a história do Bernard. Porém, ele acabou fazendo falta no encerramento da temporada, depois de levar um tiro na cabeça.
  • Ah, e por falar em tiros na cabeça, que doideira o William robótico matando Maeve, Hale e Bernard, tudo em uma tacada só. Em outras circunstâncias, eu teria ficado em choque, mas tinha plena consciência de que aquele não seria o destino final deles. Inclusive, se houvesse uma quinta temporada, tenho certeza de que a Maeve e o Bernard teriam retornado de alguma forma. Só a Hale que talvez não, por ter esmigalhado a própria unidade de controle.
  • Pô, fiquei tristinho com o Stubbs morrendo daquele jeito, com uma lâmina no olho. Ainda bem que a Frankie conseguiu se vingar e matar a Clementine, que, sinceramente, já tinha meio que perdido a função narrativa dela na série há um tempinho.
  • Como a série foi cancelada antes de sua última temporada, só nos resta teorizar sobre o que seria o teste final da Dolores. Um retorno ao parque de Westworld, com as mesmas dinâmicas da primeira temporada? Isso até poderia ter funcionado, mas cairia em um terreno perigoso de deixar a trama ainda mais repetitiva. De qualquer forma, acho que nunca iremos saber.

 

~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~

 

+ Melhor personagem: Caleb Nichols
Bernard Lowe chegou muito perto de ganhar pela primeira vez o prêmio de Melhor Personagem, mas infelizmente ele teve menos tempo de tela do que deveria – o mesmo problema da temporada passada. Caleb, por sua vez, teve bastante espaço nos holofotes e a boa atuação de Aaron Paul o consolidou como o grande destaque positivo da vez.

Ei, garçom, me vê um copo de água gelada no capricho!

+ Melhor episódio: S04E04 (“Generation Loss”)
A grande reviravolta da temporada está aqui, assim como vários de seus melhores momentos.

Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (2022)

+ Mais subestimado: Ashley Stubbs
Ele nunca chegou a ser um dos meus personagens favoritos, mas peguei uma certa afeição pelo Stubbs, sobretudo nesta temporada. Além de ter sido bom por si só, a sinergia com os demais personagens funcionou muito bem em diferentes contextos.

Eu, Robô (2004)

 

Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou da temporada. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?

Publicado por Luiz Felipe Mendes

Fundador do blog Pitacos do Leleco e referência internacional no mundo do entretenimento (com alguns poucos exageros, é claro).