• Eu sou apenas o Ken e isso é cinema
Por esse momento muita gente esperava, mas eu confesso que não esperava tanto até ter mais conhecimento da galera que faria isso acontecer. Hoje vamos falar de um dos filmes que mais me divertiram no ano passado: Barbie.
Pra começar, devo falar que minha atenção em Barbie só foi ganhar força quando vi que a Greta Gerwig estaria na direção do projeto.
Tem um tempinho que tô de olho nos filmes da diretora e desde Lady Bird eu prometi que não perderia um filme dela. Muita gente não gosta, mas eu adoro Lady Bird e acho que tem seus momentos bem mais simples e cotidianos que o fazem ser muito bom pra mim.
Com esse filme em mente, eu entendi que o tom de Barbie poderia ser bem mais bem-humorado do que muita gente tava acreditando. E quando saiu aquele teaser, isso ficou ainda realçado dentro de mim.
Então, foi assim que fui para a sala de cinema e era isso que esperava. O que eu recebi, pra mim, foi ainda mais recompensador.
Um trabalho de design de produção e figurino incríveis com uma criação de mundo exemplar. Parecia até as casas de boneca que minha irmã brincava, só que em tela…
Mas, para além das tecnicalidades, temos 3 pilares de sustentação de Barbie que acredito que fizeram a diferença para minha experiência.
O primeiro pilar está no roteiro que foi certeiro em mudar os mundos e as perspectivas dos personagens. Óbvio que daria para trabalhar o filme numa perspectiva menos caricata, mas sinceramente, é um filme de uma boneca, eu acho que não tinha forma melhor para trabalhar essa temática.
Por isso vemos personagens como a Barbie estereotipada sendo uma personagem com seus estereótipos. Temos os Kens sendo secundários e sem muita relevância num filme da Barbie. E, principalmente, temos os chefões da Mattel sendo chefões de grandes empresas.
Aí você pode argumentar que eles foram tirados para zoeira e tudo e tals, mas aqui, cá entre nós, a gente sabe que muitos dos donos das empresas têm esse toque que a gente viu na tela.
Uma cena que me divertiu incrivelmente foi a cena do personagem do Will Farrell não conseguindo sair pela catraca, mas ela não me divertiu na hora, me divertiu 1 mês depois quando eu saí do prédio em que trabalhava com meu antigo chefe e ele não dava conta de sair pela catraca.
Parece bobo demais para ser verdade, mas se formos bons observadores, pode parecer que seja bobo, mas real.
Agora, falando de outro momento que me fez gargalhar, dessa vez no cinema, a cena musical do Ken. Cara, eu não tinha rido tanto assim numa sala de cinema tem muito tempo e é bizarro que isso é construído de uma forma tão incrível que eu adorei.
O fato de um ator mais “overact” como o Ryan Gosling estar fazendo esse Ken foi o que mais me divertiu, até porque o Gosling é um bom ator de comédia e eu tinha esquecido disso, assim como toda a construção da cena já tinha passado com as músicas dos Kens, a rivalidade entre eles… Todos esses fatores já haviam sido apresentados e trabalhados em tela, mas eu estava tão envolvido com a trama da Barbie que acabei sendo surpreendido por esse momento de pura Kenergy do longa.
E tudo isso culmina no terceiro pilar e no mais importante, pra mim: a direção da Greta Gerwig. Ela e o Noah Baumbach escreveram o roteiro do filme e desenharam esses personagens, mas a forma que ela passou isso para a tela, sem se tornar perdido ou bobo demais, foi a cereja do bolo pra mim.
É claro que ela teve um papel importante em direcionar o Ryan Gosling e a Margot Robbie, é claro que ela guiou a equipe da parte técnica para aquilo que ela queria, mas a construção das cenas e como colocar isso em tela, foi o passo arriscado mais bem dado pela diretora.
Um exemplo disso é a cena do “I’m Just Ken”, que conseguiu me divertir para caramba, e uma das cenas finais onde toca a música da Billie Eilish, que me fez chorar.
Gerwig soube criar e passear entre os sentimentos como se fosse uma diretora velha de guerra e isso, como diria o meu diretor favorito, isso é cinema…
Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.