• No epílogo, o tributo
O conceito de “maior da história” é utilizado abundantemente nos mais variados assuntos. No futebol, Pelé é considerado por muitos o maior jogador da história. Na música, os Beatles foram tão influentes que não é loucura colocá-los no patamar de maior banda da história. E assim vai, a sociedade como um todo costuma eleger de acordo com suas preferências algo tão sublime que ultrapassa as barreiras das críticas. Não se pode criticar Pelé, afinal ele é o maior da história. Não gosta de Beatles? Sua opinião pouco importa, pois eles estão acima do bem e do mal. Recuso-me a aceitar isso. Apesar de concordar que Pelé e Beatles são os maiores em suas respectivas categorias, não compartilho da ideia de que Breaking Bad foi a maior série da história, assim como não achei El Camino um filme incrível.
Sinopse
Acho que eu nem preciso dizer isto, mas o farei mesmo assim. Se você não concluiu Breaking Bad e tá aqui de gaiato, saiba que darei spoilers do final da série, pois não há como escrever uma sinopse de El Camino sem essas informações. Dito isso, vamo simbora.
Jesse Pinkman finalmente escapou de sua cárcere, com uma ajudinha de seu mentor Walter White. Na última vez em que o vimos, ele estava berrando e chorando de alívio enquanto escapava de carro do local em que havia ficado preso por tanto tempo. Mas o que aconteceu com ele depois disso? Conseguiu escapar da polícia? Fugiu do país e foi pro México participar de Narcos? Ficou andando de carro por aí e venceu o Oscar de 2019? Perguntas, questionamentos, indagações. El Camino traz as respostas para todas elas, com o epílogo da jornada de um dos personagens mais icônicos da televisão.
Crítica
O filme centrado em Jessé Homem-Rosa apresenta suas cartas no começo. Logo de cara, mostra uma cena envolvendo um personagem consagrado e uma fotografia de tirar o fôlego. Naquele momento, eu fiquei uau, isto vai ser bom. O momento então é cortado para o presente, com o protagonista tentando escapar de vez rumo à liberdade. Ele se reencontra com outros personagens antigos e todo o conjunto traz uma nostalgia gostosa, me fazendo relembrar de muitas coisas que tinham se infiltrado tão fundo em minha memória que eu sequer lembrava.
Aos poucos, a obra vai se assentando e o charme inicial vai se desfazendo. É como se Vince Gilligan nos dissesse Breaking Bad era bom, né, eu sei. Só que agora esquece um pouco a série e concentra aqui no filme, por favor. O longa passa a funcionar por si só, de certa maneira. É claro que para compreender totalmente o que é reproduzido na tela, o espectador precisa estar por dentro ao menos dos principais acontecimentos do seriado. Caso contrário, tenho certeza que ficará boiando. Logo, El Camino não funciona sozinho, mas possui um arco próprio que dispensa maiores aprofundamentos. Eu terminei Breaking Bad há muitos anos, mas ainda assim consegui entender praticamente tudo sem precisar de recapitulações.
O que me incomodou foi um aspecto que vários críticos especializados enalteceram: a montagem. El Camino segue uma cronologia sem responsabilidades. Quando ele acha que é pertinente voltar ao passado, ele o faz. Assim que a cena se torna sem importância para o contexto do núcleo principal, o filme retorna ao presente. O problema é que ele se estende demaaaais nos flashbacks. Em uma certa parte, o roteiro precisa explicar por que o Jesse está num local específico, e para isso aposta em cenas pretéritas. Porém, o dinamismo cai por terra a partir do momento em que as etapas se alongam. Além disso, achei a história como um todo meio dispensável e que serviu mais como um fan service gigante. Por mais que seja cruel afirmar isto, pra mim não mudou nada saber o que aconteceu a Jesse Pinkman depois dos acontecimentos finais de Breaking Bad.
Veredito
El Camino é uma boa sobremesa para quem se deliciou com a culinária de Breaking Bad. As atuações estão impecáveis, a fotografia é de cair o queixo e o trabalho de câmera é muito bem executado. Por outro lado, a edição me incomodou. Entretanto, ela possui suas originalidades, não posso ser injusto. Quanto à trama, ela é bem escrita, exceto pelo fato de que não precisava de duas horas para ser contada; poderia ter sido reduzida pela metade. As referências são gostosas, mas o resultado final é de que foi algo um pouco desperdiçado, com um potencial maior que a execução em si. É como um bolo de chocolate belga com pedaços de abacaxi. Em uma escala de 0 a 10, eu provavelmente daria um 7.
Caso queira relembrar, confira as críticas de Breaking Bad aqui no blog:
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Me bateu uma saudade tão grande da série quando eu vi a figura do Mike observando o horizonte e filosofando em devaneios. Não, eu não acho que Breaking Bad seja a maior série da história, mas que ela é espetacular, isso não há como negar.
- Sobre aquele carinha que leva acompanhantes pro pessoal, queria poder dizer que ele possui um rosto familiar. Porém, não assisti Better Call Saul e nem saberia que ele já fora introduzido no universo se não fosse por meu amigo Daniel.
- Eu jurava que o enredo do filme fosse ser diferente, talvez isso tenha me broxado um pouco. Em um dos teasers da Netflix, aparece o Skinny Pete dizendo que não entregaria o Jesse pras autoridades. Por isso, pensei que El Camino seria uma espécie de filme policial, com Pinkman sendo caçado ao estilo de O Fugitivo e com uma presença mais constante da ação. Acho que errei.
- A aparição de Walter White é saborosa de se ver, mas bem dispensável se analisarmos somente a proposta do filme. De qualquer forma, senti falta daquela relação entre os dois, o jeito professoral de Heisenberg e as maneiras foda-se tudo de Jesse. Pra completar, ainda me aparece a Jane e a saudade bate ainda mais.
O Luke Cage só não pode saber disso - O duelo à la faroeste foi daora, mas bem previsível. A melhor parte foi o tiroteio entre o Jesse e o ruivinho, pois deixou um quê de dúvida no ar enquanto os tiros não atingiam os seus alvos.
- Foi um pouco forçada a cena do Jesse brigando com o Ed na loja, falando que ele não havia chamado a polícia. Pareceu filme de comédia pastelão. Acabou funcionando, mas poderia ter saído mais naturalmente. E já que mencionei o Ed, que personagenzão da porra. O que torna ainda mais triste a morte do ator 🙁
- Todd é completamente maluco, né. O cara estrangula a empregada, cria uma aranha e pinta a casa em tons pasteis. Um absurdo atrás do outro.
- Queria um El Outro Camino só pra saber o que rolou com Skinny Pete e Badger. Eles são a única dupla que pode salvar o universo. A parte em que o Pete diz pra Jesse que ele é seu herói me fez derramar gotículas dos meus olhos.
- Sim, o frame final é fodasticamente poético. Ao fim de Breaking Bad, Jesse Pinkman dirige esgotado e apavorado em sua fuga. Ao fim de El Camino, Jesse Pinkman dirige esgotado, mas sereno em sua fuga. A gente critica e tals, mas Vince Gilligan é um verdadeiro gênio.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Jesse Pinkman
Não tinha como ser diferente. Muitas vezes injustiçado por não ter sido o protagonista em Breaking Bad, agora ele ganha o espaço que merece para brilhar e mostrar como sua pesada trajetória o moldou. Destaque também para Ed Galbraith, interpretado pelo finado Robert Forster, que foi um ótimo tempero na receita do filme.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?