• Um possível ponto de partida
Qual é o maior caos que você já enfrentou?
Essa é uma pergunta que pode até parecer vazia e forçada. Mas assim como o filme de hoje, As Tartarugas Ninja: O Caos Mutante, tem muita coisa que se pode dizer e muitos lugares em que se pode chegar com essa pergunta.
Mas antes é claro, antes eu preciso dizer que eu sou muito fã das Tartarugas Ninja, não de acompanhar todos os quadrinhos ou qualquer conteúdo, mas de procurar algo que me agrade quando vejo por aí nas internets da vida.
Eu, quando criança, gostava demais daqueles 3 filmes que foram lançados na década de 90. Depois de um tempo eu os revisitei e eles, mesmo de baixa qualidade como eram, não tiraram de mim esse carinho que eu tinha com esse universo das tartarugas.
Há algum tempo, após uns filmes que mais pareciam ter sido dirigidos pelo próprio Michael Bay, eu não tinha mais esperanças de ver um filme muito bom desse quarteto, até eu ver o trailer desse longa aqui.
Eu fiquei mais esperançoso ainda quando o Seth Rogen, produtor do longa, disse que este filme iria trazer uma versão verdadeiramente adolescente desses personagens que muitas das vezes eram praticamente adultos. A diferença maior nem era essa, mas para mim já bastava.
A maior ponta de esperança estava no novo estilo do filme: uma animação nos moldes do Aranhaverso e principalmente porque na direção tinha o Jeff Rowe, o diretor do maravilhoso A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas.
Então cheguei com o pé atrás, mas esperançoso de que podia ver um filme diferente… e eu tive isso com toda a certeza.
Eu poderia falar também que adoro quando um filme se propõe a fazer algumas alterações na base dos seus personagens para que eles se encaixam mais no cenário atual. Aqui, temos desde a April O’Neil e até o nosso querido Mestre Splinter com pequenas alterações.
Eu adoro ver as coisas sob novas perspectivas e por isso o que me foi apresentado em As Tartarugas Ninja: O Caos Mutante eu recebi de braços abertos. Pode ser que o fã mais purista não receba muito bem, até por serem mudanças na base das histórias de alguns personagens, mas o que eu vi me agradou bastante.
Então isso me faz botar mais fé no trabalho do roteiro, que foi feito por cinco pessoas. Dan Hernandez e Benji Samit, de Pokémon: Detetive Pikachu, Evan Goldberg, de Superbad – É Hoje e da série Gen V, o Seth Rogen, que também é produtor do longa, e o próprio diretor Jeff Rowe.
Esses cinco conseguiram seguir à risca os clichês e fazer algumas mudanças importantes nos personagens principais. A minha briga com eles tá nessa mudança nas histórias dos personagens e uma falta de se arriscar um pouco mais, de tentar mudar umas convenções de gênero que acompanham alguns filmes. Mas é aquilo, um arroz e feijão bem feito consegue deixar uma pessoa com vontade de comer mais.
Aaaah, outra coisa que me ficou na cabeça é o fato de que o filme não trabalha o quarteto das Tartarugas Ninja, mas eu tenho uma teoria que vou guardar para ter essa certeza só na sequência do longa. Agora, vamos entrar na parte que eu mais gostei do filme.
O filme consegue sim ser mais belo, esteticamente, que o primeiro filme do Miles Morales, para mim e tem uma razão para isso. Acredito que Homem-Aranha no Aranhaverso conseguiu se estruturar como uma animação mais na pegada de história em quadrinhos e que conversava com o seu estilo de narrativa. Isso é muito forte e sensacional.
Mas o que deixou o segundo filme do teioso Miles mais bonito foi o fator de que ele trabalha com cada personagem no seu estilo. Isso até começou a ser pincelado no primeiro filme, mas só foi ganhar força e destaque mesmo no segundo longa.
Aqui, o filme toma sua própria direção e cria um vínculo entre a arte e as tartarugas. Algumas vezes parece sujo ou poluído visualmente, assim como a cidade de Nova York parece ser, o que não a deixa ser feia.
Parece inacabado ou apressado demais, assim como as quatro tartarugas que estamos vendo em tela. É uma conversa direta entre os personagens e a arte, e se eu achei que isso foi sensacional em Homem-Aranha: Através do Aranhaverso e merecedor de total destaque, isso não poderia ser ignorado aqui, certo?
As Tartarugas Ninja: O Caos Mutante tem personagens bem desenhados e escritos, cenários de tirar o fôlego para quem gosta, e principalmente o caos.
O caos de contar uma perspectiva de quatro adolescentes sobre um mundo que luta para ignorá-los.
O caos de seus personagens mutantes que vai desde suas ideias aos seus designs propositalmente caóticos.
Mas principalmente o caos por elaborar um ponto de partida para uma possível franquia, contendo-se a contar uma história de cada vez. Tendo isso em vista, apostar nos clichês não parece para mim uma escolha covarde e medrosa, mas é como apostar no seguro, como se soubesse que teria um potencial maior do que foi apresentado aqui.
São poucos os que enfrentam esse caos e decidem fazer do seu próprio jeito, alguns deles acabam sendo esquecidos e você não ouve mais falar de nenhum deles.
É, eu entendo, mas eu curti a direção que isso aqui tá seguindo, só peço que o próximo, que deve ser anunciado logo logo, tenha mais coragem, assim como o Leonardo, o Raphael, e Michelangelo e o Donatello.
Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.