• Uma animação mais calibrada
Vou começar com o mais importante: sim, esse filme é a minha animação favorita do ano passado. É, talvez seja uma opinião impopular e gere até uma certa insatisfação, mas Homem-Aranha Através do Aranhaverso é melhor do que o primeiro filme do personagem. Pelo menos para mim.
O primeiro filme é super super. É um filme com uma animação e estilo impecáveis, trabalho sonoro de primeira mão e um roteiro primoroso. Isso não tem como negar. À primeira vista é bem difícil a segunda parte dessa jornada estar à frente do primeiro longa protagonizado por Miles Morales, mas aqui tem coisas que para mim foram bem mais tocantes que o normal e me chamaram mais atenção que no primeiro filme.
Para começar, o trabalho de animação de Através do Aranhaverso é beeeeem mais trabalhado e bem mais preciso quando se comparam os dois filmes. É lógico, tiveram mais investimento e um pouco mais de tempo para trabalhar. Mas o trabalho aqui é espetacular, a gente vê isso da primeira cena, com a Gwen descarregando seus sentimentos na bateria, até a última cena com a sua nova banda, agora em busca do Miles.
E unido à jornada da Gwen em busca da sua banda, é possível ver como o trabalho sonoro, principalmente das trilhas, tá bem mais calibrado também. Um exemplo disso é a trilha da Gwen se entrelaçando com a de outros personagens que ela tá interagindo ou tem em mente. Pra mim, isso fica muito claro na primeira cena do Miguel O’Hara, quando ele chega para ajudá-la contra o Abutre.
É possível ver como a bateria característica da Gwen conversa direto com a trilha, mais eletrônica, do Miguel.
E falando em Miguel O’Hara… Caramba, hein. Que personagem complexo e um tanto quanto pesado. Ele é, pra mim, o vilão do filme. Isso porque o Mancha foi apresentado como vilãozinho da vez e causador de uma série de problemas que começaram a desencadear em uma ruptura no Aranhaverso.
E talvez essa seja a principal crítica a Através do Aranhaverso, o fato de ele não acabar ou finalizar o seu arco principal e eu acho que nem tem como eu defender o filme disso, por mais que eu ache que o arco que ele tenha se proposto a fechar, ele tenha fechado.
Mas de todos os arcos, o principal é o arco do Miles. Então para falar desse arco, eu tenho que começar falando o quanto eu me identifiquei com o nosso protagonista, mais agora do que no primeiro filme.
Para começar, a relação entre os pais do Miles com o próprio protagonista é tão palpável para mim, que parecem linhas de diálogos que eu já tive com minha mãe. Isso em um cenário que nenhum dos dois tem essas palavras para botar pra fora, mas se isso fosse pra fora, seria desse jeito que vimos na tela.
O papo do Miles com seu pai e a importância dessa relação é muito do que tenho vivido, com meu pai estudando e tentando deixar as coisas mais redondas, além de tentar, com isso, dar motivos para os filhos se orgulharem dele.
Esse tipo de relacionamento da família Morales é sensacional e real, e esse relacionamento, como o pilar que vai ajudar a sustentar a base para esse filme, é primordial pra gente entender as motivações do Miles e comprar a luta dele.
Tudo isso traz um toque especial para o filme, porque faz um paralelo que me acompanha desde os meus primeiros passos na descoberta de quem eu sou e do que eu posso me tornar.
Como alguém de cor, eu consigo ver os pesos de cada decisão do Miles assim como eu consigo entender o peso das decisões que eu tomei.
É dolorido e parece inacabado, mas depois de um tempo nós entendemos que nossos destinos não estão determinados ao que todos falam para nós ou falam de nós.
Pra mim, que ouviu muito disso nos anos anteriores, a luta parece que não terminou, até porque eu não senti que perdi.
Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema
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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.