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AnáliseRicardo #09 – Vidas Passadas expõe a melancolia da mudança

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• Como chegamos até aqui?

Em 2014, no auge dos meus 14 anos, eu me mudei. Saí de uma cidadezinha no interior de Rondônia e fui para 3 mil quilômetros de distância dali. Você deve estar pensando que eu fui pra outro país, mas na verdade, só me mudei para o Centro-Oeste do Brasil. 

Entretanto, mesmo não mudando de país, o meu pensamento à época era de que isso tinha acontecido. Corta para 2024, dez anos depois, e eu tenho a plena convicção de que foi praticamente isso que aconteceu.

Você que não tá entendendo a minha viagem toda, sugiro correr lá e assistir Vidas Passadas, que tudo vai fazer sentido. Você que já assistiu, vem comigo mergulhar no filmaço da vez.

Para começo de conversa, eu vou destacar apenas 3 ou 4 pontos que para mim são os principais e os que mais merecem destaque nesse filme. São eles: atuações, fotografia, direção e roteiro.

Sim, temos uma montagem muito bem feita, temos também um roteiro amarradinho… mas os três primeiros pontos citados ali acima são o que dão o tom do filme para mim.

Desde as primeiras cenas, o enquadramento e toda a iluminação do longa consegue apresentar uma consistência que conversa com o filme. Assim como os personagens, ela parece amadurecer ao ponto de ficar cada vez mais precisa ou saber exatamente o que quer mostrar ou dizer.

Eu vou segurar um pouco da fotografia, até porque o final do filme pede que eu fale um pouco mais dela.

Seguindo a linha de pensamento, temos que mencionar o trabalho de atuação no longa. Greta Lee, Teo Yoo e John Magaro lideram o elenco no quesito tempo de tela e eles parecem saber como aproveitar cada momento. A verdade é que aqui já se mistura o trabalho desses atores com a direção e a montagem.

O fato é que o trio de Vidas Passadas está muito bem em cena, com total destaque para a Greta Lee, que infelizmente não foi indicada ao Oscar de 2024. Sua atuação não é sutil a ponto de passar despercebida, mas também não é alarmante. 

Com um olhar, um sorriso ou uma expressão, ela consegue conversar conosco, ou pelo menos foi assim que eu vi o filme. A personagem tem muito mais para falar do que ela consegue e acho que a Greta Lee conseguiu achar o ponto ideal bem nesse meio aí.

Muito disso tudo se dá pela mão da diretora Celine Song, que falou que havia mergulhado em algumas passagens da sua vida para fazer o filme. Há ali um direcionamento muito bem feito para a atriz, mas há também uma realidade latente nesse texto, deixando a história muito mais palpável e acessível, seja para a interpretação da Greta Lee, seja para nós que estamos acompanhando a narrativa.

Com isso, o tom de Vidas Passadas, escolhido pela Song, é um melancólico que consegue despertar em mim uma visão muito familiar.

Para mim, que migrei de regiões, fica a sensação de familiaridade, visto que eu olho para de onde eu vim com esse sentimento. Não sou mais daquilo lá, não sou mais o garoto que saiu de Rondônia ou da casa dos pais. Parece que isso foi em outra vida, mas assim como a protagonista fala, não quer dizer que eu não tenha vivido. Então essa é a melancolia que mais preenche o meu coração e que me fez desmontar com esse filme.

Foi o fato de que o que eu vivi ali parece ser de uma vida passada e que, por mais que eu tente, não consigo mais fazer com que aquele menino volte à vida.

E aí entra a fotografia, com o mesmo enquadramento em que os personagens se despedem nos 10 primeiros minutos, só que agora para dar fim a uma outra vida e transformá-la em passado. Mudando a iluminação e as cores, fazendo aquilo ser uma lembrança corrompida pelo nosso momento.

Vem a direção dando adeus à menina que era nos minutos iniciais dessa jornada. Vem o roteiro falando para a nossa protagonista que ela já não é tão coreana assim.

E por fim, vem a atriz desabando, assim como eu, por sentir isso e, provavelmente, muito mais.

Tudo isso em uma cena. É por isso que o cinema é tão foda.

Vou guardar esse filme no meu coração e daqui a uns 12 anos, eu volto nele. Espero que eu que já tenha deixado de ser tão chorão assim.

O competente trio principal de Vidas Passadas

 

Ricardo Gomes
O Sharkboy que estuda Jornalismo e ama o cinema

 

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Este texto faz parte de um quadro de colaborações com outros redatores. O artigo não foi escrito pelo maravilhoso Luiz Felipe Mendes, dono do blog, e portanto não necessariamente está alinhado às ideias dele.

Publicado por Ricardo Gomes

O cara que mais perde tempo assistindo TV e escrevendo sobre, segundo Michelle (minha gata).