• Redenção do diretor
Certo, certo, a crítica de Mulher-Maravilha 1984 deveria ter saído antes do Snydercut, mas eu ando meio desanimado em relação a filmes nessa pandemia. Por isso, até hoje não vi o segundo filme da Diana, e dificilmente vou ver por agora. Afinal de contas, a iminência do Oscar de 2021 reacendeu a minha paixão por filmes e agora estou me concentrando neles. Porém, não dava pra eu deixar passar a Liga da Justiça de Zack Snyder, até porque a Internet inteira está falando sobre o assunto. Sei que essa postagem chega atrasada em comparação com outros críticos, mas fiz o mais rápido que consegui. Devido às quatro horas de duração do filme, comecei a assistir pouco depois do meio-dia de domingo. Passei basicamente o dia inteiro vendo, porque frequentemente precisei pausar por diferentes motivos. Fui terminar tudo lá pras 20h, e naquele dia não consegui mais olhar pra nenhuma tela. Foi uma experiência cansativa, mas me surpreendeu positivamente.
Sinopse
Após o vilão Lex Luthor afirmar que uma ameaça se aproximava da Terra, Bruce Wayne decidiu reunir pessoas com habilidades especiais a fim de defender o mundo do tal inimigo misterioso. Inspirado pelo sacrifício do Superman, o Batman firma uma parceria definitiva com Diana Prince, a Mulher-Maravilha, e busca a ajuda de Arthur Curry, o Aquaman, e Barry Allen, o Flash. Enquanto isso, a amazona filha de Zeus entra em contato com Victor Stone, o Ciborgue, para completar o time de protetores. Os heróis descobrem que o grande nêmesis da vez é o Lobo da Estepe, um monstrengo gigante em busca de três caixas maternas com o potencial de destruir um planeta inteiro. Com isso, eles se vêm na obrigação de impedi-lo.
Crítica
A coisa mais óbvia em uma review sobre Liga da Justiça de Zack Snyder é acerca de sua duração. Quatro horas tá longe de ser pouca coisa, e eu definitivamente fiquei com preguiça quando fiquei sabendo que seria assim. Para meu alívio, o filme não é maçante. A primeira meia hora é lenta e recheada de partes desnecessárias, mas a obra vai acelerando o ritmo gradualmente e captando a atenção. O longa me deixou exausto? Sim, deixou, mas eu não fiquei olhando para o relógio torcendo para a história acabar logo. Snydercut me prendeu até o fim, ainda que tenha me perdido em determinados momentos.
O Liga da Justiça de 2017 é o filme que eu menos gosto do Universo Estendido da DC. Mesmo com toda aquela bagunça, eu prefiro Esquadrão Suicida porque ele não mexeu com a base do DCEU. Tivemos um Coringa deplorável e um roteiro ridículo, mas aquilo não afetou as fundações do enredo compartilhado. Liga da Justiça fez isso. Até aquele momento, o saldo do universo compartilhado para a maioria dos fãs era negativo, mas a reunião do grupo mais icônico dos quadrinhos poderia selar uma mudança de rumo. Em vez disso, afundou de vez o DCEU, entregando uma trama boba, personagens rasos e um ar de comédia completamente deslocado. O Liga da Justiça de Zack Snyder corrige praticamente todos esses erros. O filme explora os seus heróis, fornecendo profundidade e personalidade a eles, rearranja as motivações e a figura do vilão principal (ainda que ele continue genérico e um pouco sem graça), ajusta o tom da narrativa para que ela não fique nem séria e nem cômica demais e reconstrói as dinâmicas de batalha entre os membros da Liga.
A mudança de nível é absurda. Em 2017, eu não reconheci os personagens expostos na tela. Um Batman piadista, um Superman bigodudo, uma Mulher-Maravilha esquecível e um Aquaman nulo eram partes de uma engrenagem que não funcionou em nenhuma instância. Na versão de 2021, eu realmente me conectei aos personagens. O Ciborgue ganhou um panorama de origem, a Mulher-Maravilha protagonizou as melhores cenas de ação e eu gostei bastante de como trabalharam a figura do Homem-Morcego. Frente a um inimigo poderoso como o Lobo da Estepe, ele não teria chance sozinho, e o filme não abusa de sua armadura de protagonista. O roteiro trabalha a favor disso, colocando o Batman em momentos pontuais que justifiquem a sua presença.
Eu não gostei tanto da primeira hora por um simples motivo: excesso de cenas dispensáveis. A luta do vilão com as amazonas é um exemplo disso. Eu sei que o Snyder queria fazer um projeto inteiramente do seu jeito e da maneira que ele idealizou, mas as quatro horas de duração poderiam ter sido três. E tenho bastante consciência de que é uma marca do diretor, mas cara, como eu odeio os slow motions. Em circunstâncias normais, é um recurso que eu adoro. Neste filme mesmo, o slow motion ajudou a abrilhantar algumas cenas e dar um estilo único à obra. Contudo, o Snyder abusa disso. Em toda santa luta, eu fiquei lá ansiando pela pancadaria e por coreografias marcantes, apenas pro momento ser desacelerado e acelerado ao quadrado alguns segundos depois. Isso me deixou frustrado e cansado, e pra mim estragou com algumas partes que poderiam ter ficado bem melhores.
Além disso, o diretor tem uma mania que também me irrita muito. É uma crítica comum a ele, e compartilho da mesma opinião. Zack Snyder se preocupa demais com o quesito visual das cenas. Eu perdi as contas de quantas vezes ele congelou um momento épico pra virar um wallpaper ou um gif memorável. Fazendo uma comparação com a Marvel, podemos citar diversas partes em que os filmes sabem que se trata de algo histórico, como a cena na qual estão todos em Sokovia em Vingadores: Era de Ultron. A diferença é que a Marvel não costuma fazer isso a cada cinco minutos em seus filmes, e o Snyder sim. Às vezes, tenho a impressão de que estou vendo um clipe de música em vez de uma obra cinematográfica.
Sobre a trilha sonora, eu oscilei entre o incômodo e a aprovação. A colocação de músicas com letras em certas cenas ficou meio estranha para mim, soando como se não pertencessem àquele universo. Em outras, achei que foram decisões acertadas. O que eu não curti mesmo foi a inserção da música-tema da Mulher-Maravilha em demasia, acho que essas melodias funcionam apenas se utilizadas com parcimônia.
A fotografia me deixou um pouco dividido. Não sou fã do excesso de CGI e a imagem que parece ter saído de um jogo de videogame, mas o visual cartunizado dá uma identidade que a Marvel não tem, por exemplo. A fórmula da concorrente é vista a partir da maneira como a história é contada, e Zack Snyder consegue aplicar sua marca nas imagens. Gosto muito desse distanciamento, pois mostra que o diretor não quer simplesmente correr atrás da Marvel, ele quer fazer as coisas do seu jeito e como julga melhor.
Apesar de eu não gostar nem um pouco dos slow motions e da incapacidade de o roteiro resumir alguns acontecimentos, os maiores erros de Snydercut não estão no filme em si. Caso o DCEU tivesse conseguido desenvolver melhor seus personagens separadamente antes de juntá-los, o resultado da Liga da Justiça de Zack Snyder teria sido avassalador. É uma pena que o sentimento de antecipação não ocorreu e o antagonista surgiu meio do nada. Eu sinceramente não me importei muito com sua ameaça. Gostei do roteiro ter dado uma motivação melhor pra ele, mas o Lobo da Estepe deveria ter sido mais trabalhado antes de aparecer em cena, deixando-nos ansiosos por sua aparição. A impressão que ficou em mim foi de que ele era do mesmo nível de Ares, Zod e Apocalipse, sem força e poder particularmente notáveis.
Dito isso, não posso deixar de reconhecer que Snyder fez um excelente trabalho com o que tinha em mãos. Mesmo trabalhando em um filme com alicerces ruídos, o diretor conseguiu botar ordem na casa e criou uma história coesa e sólida. O momento em que a Liga finalmente se reúne por completo dá muito mais satisfação do que em 2017, pois aqui houve tempo o bastante para nos aproximarmos dos personagens. Pra completar, o epílogo me deixou com a cabeça girando e eu fiquei genuinamente empolgado uma vez mais com o DCEU, algo que eu antes julgava como improvável.
Veredito
É engraçado pensar no DCEU. Quando eu analiso os filmes separadamente, concluo que a empresa errou poucas vezes. Batman vs Superman é o meu filme favorito do universo compartilhado, seguido por Shazam!, e gosto pra caramba de O Homem de Aço, Mulher-Maravilha, Arlequina em Aves de Rapina e Aquaman. As bombas pra mim são apenas Liga da Justiça de 2017 e Esquadrão Suicida. Entretanto, apesar de eu gostar dos seis filmes citados separadamente, não consigo enxergá-los como um conjunto. É como se faltasse um elo de ligação. Liga da Justiça de Zack Snyder não foi capaz de corrigir inteiramente o problema, mas com certeza o atenuou. Apesar da desnecessária longa duração, o filme desenvolve melhor os seus personagens, acrescenta camadas em seu vilão, evolui suas cenas de ação quando não abusa dos slow motions e deixa no ar a certeza clara de que poderia haver um futuro bem-sucedido a partir dessa versão. Portanto, sou a favor do #RestoreTheSnyderVerse pro DCEU ter a chance de entrar novamente nos trilhos, porque a Liga enfim ganhou um capítulo digno de sua grandeza.
Aviso: Não tem nenhuma cena pós-créditos.
>> Crítica de Batman vs Superman: A Origem da Justiça
>> Crítica de Esquadrão Suicida
>> Crítica de Mulher-Maravilha
>> Crítica de Arlequina em Aves de Rapina
Nota: caso eu tenha usado algum termo desconhecido para vocês, meus queridos e queridas leitoras, não hesitem em acessar esse post aqui, ó: Glossário do Leleco
Nota nº 2: quer conhecer melhor a história do blog e os critérios utilizados? Seus problemas acabaram!! É fácil, só acessar esse link: Wiki do Leleco
~ OBSERVAÇÕES SPOILENTAS: NÃO LEIA A NÃO SER QUE JÁ TENHA VISTO O FILME. O AVISO ESTÁ DADO ~
- Eu sinceramente acho que dava pra ter cortado pelo menos metade daquela luta do Lobo da Estepe com as amazonas, pra ficar mais ou menos igual o massacre em Atlântida. Sei que foi importante pra mostrar a força do vilão, mas acho que teria gerado muito mais impacto se ele tivesse matado várias amazonas com facilidade. Acho que esse é um dos problemas do filme, aliás: nenhum antagonista me gerou medo. Em momento algum senti que o Lobo da Estepe ameaçava a Liga.
- Ainda nessa mesma linha de raciocínio, não gostei tanto do Darkseid quanto eu esperava. Ele me pareceu um vilão meio… fracote. Tudo bem que ele foi derrotado por uma união sinistra entre diversos grupos diferentes, mas sua presença não foi nem um pouco imponente, e seu visual, nem um pouco impressionante. Não senti aquela tensão que acontecia quando aparecia metade do rosto do Thanos em uma cena pós-créditos, por exemplo. A impressão que ficou é que o Superman sozinho derrotaria facilmente o Darkseid.
- Falando novamente sobre coisas que poderiam ter sido cortadas do filme, o que foi aquela mulher cantando depois do Aquaman mergulhar na água? Tem algum significado que eu não entendi? E o Aquaman tirando a roupa e bebendo uísque em slow motion? Deu até uma vontade de rir um pouquinho. Aquela sequência da Mulher-Maravilha com os terroristas também me soou deslocada, não precisava dela. Já conhecíamos bem a personagem, talvez fosse uma cena legal de abertura de algum outro filme sem ser este em específico.
- Como alguém pode não gostar do Ciborgue? Os únicos com justificativa pra isso são aqueles que tentaram dar tackles nele durante aquela partida de futebol americano e trombaram na massa. Isso é uma coisa que eu preferia ter visto no visual dele, inclusive. Um Ciborgue mais robusto, “musculoso”, no estilo da animação dos Jovens Titãs. De qualquer forma, ele é um ótimo personagem, e sua história com o pai foi bem enriquecedora. Na hora em que o Silas se sacrificou, eu jurei que tinha sido por nada, mas o brabo foi responsável direto pela vitória da Liga.
- Gostei muito do Flash. Se tivesse sido um pouco mais curta, a cena em que ele salva aquela garota (que eu julgo ser a Iris, estou certo?) seria perfeita. Fiquei um pouco incomodado com o tempo que demorou pra acabar, estragou um pouco da magia pra mim. Em compensação, a parte em que ele supera a velocidade da luz e todo mundo retorna à vida foi sensacional, um dos melhores momentos do filme.
- Achei massa o Superman com a roupa preta, mas espero que ele volte logo com a original, acho mais clássica e bonita. E graças aos deuses não precisei olhar pro fantasma daquele bigode da U.N.C.L.E. novamente.
- Lex Luthor e Exterminador, por essa eu não esperava. Eu sei que é um consenso entre fãs da DC que o Lex do Jesse Eisenberg não é nada a ver com o personagem original, mas eu adoro e é isso.
- Minha língua queimou muito com o excelentíssimo Jared Leto. O Coringa dele foi horrível em Esquadrão Suicida, mas sua atuação no “knightmare” me convenceu de que grande parte das suas falhas foram provenientes do roteiro ruim. O Coringa dele me conquistou, mesmo com pouco tempo de tela, especialmente quando o Robin e a Arlequina foram mencionados. Ainda não gosto daquela risada, mas já melhorou bastante.
- Pra finalizar o epílogo, ainda teve o Superman pistola modo Injustice preparado pra enfrentar Batman, Ciborgue, Mera, Exterminador e Coringa. Pro grupo ficar mais improvável, só faltou o Alfred.
- Ah, eu realmente fiquei surpreso com a aparição do Caçador de Marte. Eu tinha lido que ele faria uma ponta no filme, mas havia me esquecido completamente. Quando ele tomou a forma da Martha e saiu pelo corredor como outro humano, eu fiquei “uoooou”. E ele oferecendo seus serviços pro Bruce foi insano. Só faltou o Lanterna Verde mesmo, mas acho que teria sido um pouco demais pra um filme só.
- Muito forte o fato de a música que toca nos créditos de Liga da Justiça de Zack Snyder, Hallelujah, ser a favorita da filha do diretor e ainda ter sido apresentada em uma versão cantada pela melhor amiga dela. Que você tenha muito sucesso, Snyder. De coração.
~ FIM DAS OBSERVAÇÕES SPOILENTAS. A PARTIR DAQUI PODE FICAR DE BOA SE VOCÊ AINDA NÃO VIU ~
+ Melhor personagem: Victor Stone (Ciborgue)
Eu já tinha gostado dele em meio àquela confusão de 2017. Com espaço para trabalhar melhor as origens do personagem, a trama valorizou um de seus grandes acertos e conseguiu trabalhar com imensa qualidade as habilidades e filosofias do super-herói.
Ei, você! Tudo joia? Pois é, eu também tô bem. E já que agora temos intimidade, comenta aí o que cê achou do filme. Opiniões são sempre bem-vindas, e é importante lembrar que nos comentários spoilers estão liberados. Se você não quiser vê-los, corre logo pra assistir e depois volte aqui, beleza?