• Inconveniência coletiva
Será que ainda vale a pena ir ao cinema? Eu sou um grande defensor da experiência cinematográfica. Pra mim, é o ambiente mais propício ao consumo de filmes. A única desvantagem é a falta de conforto de poder parar quando quiser, como por exemplo pra ir ao banheiro. Por outro lado, assistir a um filme inteiro sem pausar deixa o processo mais encorpado, sem desviar a atenção. Em tese, cinema é o lugar perfeito pra assistir filmes. O único grande problema está nas pessoas.
Gente que não sabe se comportar
Hoje em dia, cada vez mais a gente vê exemplos de como as pessoas estão desaprendendo a viver em sociedade. O que importa é o individual, e que se dane o coletivo. É aquele típico “ain, eu paguei por isso, então faço o que quiser“. É uma mistura de falta de educação, ilusão de autoridade e incapacidade de ver o mundo a partir do olhar do outro. O cinema é uma sociedade comprimida, e dentro dela surgem os mesmos problemas – mas com uma roupagem diferente.
Acho que todo mundo tem uma história ruim relacionada ao cinema. No meu caso, são várias. A minha experiência foi estragada em Aquaman, It: A Coisa e incontáveis outros filmes. Recentemente, assisti O Menino e a Garça e o cinema parecia uma sala de aula logo antes de um professor entrar. Era tanto barulho que ficava difícil se concentrar. Pra piorar, tive de assistir ao filme dublado, então ouvir era primordial para que eu entendesse o que diabos estava sendo transmitido.
Ao sair do cinema naquele dia, pensei comigo mesmo que não valia mais a pena sair de casa pra aquilo. Com base nisso, resolvi listar as mais insuportáveis categorias de pessoas em uma sala de cinema. Aposto que você já se deparou com muitas delas.
Os arquétipos mais comuns diante das telonas
O Tagarela: o nome já é autoexplicativo, né? Os espectadores Tagarelas são aqueles que acham que estão em uma mesa de bar. Sério, será que essa galera não tem desconfiômetro ou sequer um mínimo de noção? O pior é que são essas pessoas que conversam o filme inteiro e, depois que acaba, ficam “ah, não entendi aquele filme não, muito chato“. Vai conversar em casa, pô!
O Risadinha: esse aqui é irritante. Sabe quando o filme tá passando por algum momento tenso ou dramático e uma pessoa quebra o silêncio ao rir em uma cena que não tá ali pra ser engraçada? Eu já contei aqui sobre a vez em que eu estava assistindo It – A Coisa com uma amiga e, quando apareceu o Pennywise pela primeira vez, ela disse em alto e bom som: QUE BICHO FEIO!!! Toda vez que o vilão aparecia, o terror virava comédia e ela começava a rir. Além disso, os Risadinhas também costumam aparecer com muita frequência em cenas de sexo.
O Farofeiro: tem hora que não dá pra evitar, mas tem gente que passa do ponto. Eu não tenho ilusões de que o cinema precisa ser um lugar completamente silencioso. Afinal de contas, eu gosto de comer umas besteirinhas enquanto assisto a um filme. Por isso, eu não me importo com o barulho de sacos de pipoca sendo remexidos ou papéis de sanduíches sendo desembrulhados. O problema é que algumas pessoas são tão silenciosas quanto um elefante marchando enquanto consomem algum alimento. Dá pra equilibrar um pouco, né?
O Tecla SAP: talvez esse seja um dos meus menos favoritos, e é algo bem específico. Os Teclas SAP são aqueles que fazem questão de dizer em voz alta o que está acontecendo na tela. Vamos supor que o enredo do filme está mostrando algo de forma não tão explícita, mas que ainda assim dá pra entender de boa. O Tecla SAP fará questão de que você não perca essa informação, da maneira mais óbvia possível! Se, por exemplo, uma história está deixando claro que tal personagem é mãe do protagonista, o Tecla SAP bradará: caramba, é a mãe dele!, como se fosse o único a chegar a tal conclusão. O que seríamos sem esses anjos que nos ajudam a entender os filmes?
O Adivinhador: esse aqui tem potencial de ser também bastante irritante. Sempre tem um metido a esperto, principalmente em filmes de suspense ou mistério. Eu não sei qual é o objetivo dos Adivinhadores, provavelmente deve ser pra mostrar que são os mais inteligentes do pedaço. Em momentos aleatórios, essa galera começa a fazer previsões sobre possíveis eventos na trama. É, acho que Fulano vai morrer agora. Putz, tô achando que o culpado é Ciclano. Aposto que Beltrano tá por trás disso tudo. Só assista ao filme, pelo amor de Deus!
O Inquieto: originalmente, eu tinha criado as categorias O Inquieto e O Beijoqueiro, mas vou colocá-las no mesmo pacote. Esse tópico está reservado para aqueles espectadores que não param quieto nas poltronas, por qualquer que seja o motivo. Remexe pra cá, pra lá, levanta, senta, beija a pessoa do lado… se tem algum barulho possível, essa pessoa fará questão de ajudar.
O Tecnológico: bim, bim, bim, temos o nosso campeão de vendas! Os Tecnológicos são aqueles que não conseguem abrir mão do celular nem por duas horas. É claro que temos os extremos, que chegam até mesmo a entrar em ligação no meio da sala de cinema. Mas, normalmente, os Tecnológicos são aqueles que pegam o celular pra entrar no WhatsApp em plena sessão. E essas pessoas nunca fazem isso de um jeito disfarçado. É sempre com o brilho no máximo e a tela apontada pras pessoas que estão sentadas logo atrás. Pra mim, isso deveria ser crime inafiançável.
O Piadista: concluindo essa lista, temos os metidos a engraçados. Spoiler: os Piadistas nunca são engraçados. Esse arquétipo é mais comum em um sábado à tarde, em meio a uma sessão com grande número de adolescentes. É um querendo aparecer mais que o outro, e cada um é menos engraçado do que o outro. Eu já tive um amigo que ficava fazendo isso no cinema, e eu discutia com ele direto. Imagina com pessoas que eu não conheço? Dá vontade de jogar um balde de pipoca em cima delas.
Vale a pena gastar dinheiro com isso?
Vamos colocar na ponta do lápis. Um ingresso costuma ser uns R$ 30, pra quem paga inteira (o meu caso). Pra chegar até o cinema, tem a questão do transporte. Eu não tenho carro, então normalmente vou de Uber pro shopping. Uns R$ 15 reais pra ir, outros R$ 15 pra voltar. E dá sempre aquela vontade de comer alguma besteirinha na sessão, então pode adicionar mais uma graninha aí no pacote. Resultado: não volto pra casa sem gastar pelo menos uns R$ 80, sem contar a parte da minha namorada.
Se gastar esse dinheiro fosse garantia de um programa bom, era uma coisa, mas são muitas variáveis. Primeiramente, pode ser que o filme seja ruim e o seu dinheiro tenha sido jogado fora em algo que não passou nem perto de agradar. Em segundo, pode surgir algum problema estrutural, como poltrona quebrada, ar-condicionado estragado ou telão com um grande risco no meio – todas essas coisas já aconteceram comigo em Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes, Assassin’s Creed e Não! Não Olhe!, respectivamente. Por fim, você pode topar com gente que não sabe se comportar. Quando é um filme infantil cujo público é composto por crianças, eu não reclamo de eventuais barulhos ou coisas do tipo. O problema é ver adulto agindo como se estivesse na sala de casa.
E é por isso que eu vou evitar ir ao cinema. Certo, certo, o título deste artigo talvez tenha sido um pouco clickbait. Eu não vou parar de ir ao cinema pra sempre, mas definitivamente começarei a ir menos do que antes. As exceções vão para a conta de filmes cuja experiência cinematográfica tende a ser mais impressionante, como Duna: Parte 2, ou caso eu sinta falta de ver algo nas telonas e tenha ficado algum tempo sem ir.
Se eu algum dia ficar milionário, vou criar uma rede de cinema feita pra quem gosta de assistir filmes sem incomodar a experiência alheia. Ficou conversando ou mexendo no celular durante o filme? Um segurança gentilmente te removerá da sessão. Ou então eu poderia voltar com a função de lanterninhas, pra ficar fiscalizando qualquer um que estivesse fazendo algo de errado. Mas, enquanto isso não acontece, o jeito é assistir filmes no conforto da minha casa, em condições que posso controlar e sem medo de me estressar com neandertais.
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Luiz Felipe Mendes
Criador do Pitacos do Leleco e crítico de maior autoridade no mundo do cinema